“Fiquem em casa, fiquem seguros, sejam gentis”. Essa frase foi dita pela primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, durante uma live do Facebook, onde ela aparecia com uma camiseta de treino desbotada, após colocar o filho para deitar. Na ocasião, a premie solicitava aos cidadãos neozelandesas calma e resiliência durante a quarentena. Com tom ameno e familiar, ela relatou a dificuldade e a falta de informações para a tomada de decisão a despeito do novo coronavírus.
Enquanto isso, no leste europeu, mais especificamente na Bielorrúsia, o presidente da nação, Alexander Lukashenko, acreditava que o consumo de vodka mataria a Covid-19. “As pessoas não deveriam apenas lavar suas mãos com vodka, mas também envenenar o vírus com ela”, disse. O político acusou países que adotaram políticas de isolamento como vítimas de uma “psicose” e insistiu para que os cerca de 9,5 milhões de habitantes do país continuassem trabalhando normalmente. “É melhor morrer de pé do que viver de joelhos”, afirmou.
Esses dois exemplos dicotômicos de liderança revelam as complexidades e ambiguidades do tempo em que vivemos. Enquanto a líder neozelandesa pede calma e engajamento da nação, o líder bielorrusso tem um discurso negacionista. A pandemia em curso restringiu severamente a atividade econômica e social em todos os países, criando uma série de desafios para líderes não só da política, mas também do mundo corporativo. Eles precisam fazer escolhas difíceis entre equilibrar a saúde das pessoas e suas economias.
## Comunicação: ferramenta fundamental para a liderança
Os líderes mundiais passaram os últimos meses enfrentando um teste de liderança em tempo real, realizado à vista de um público impaciente e inseguro. Suas avaliações são tão públicas quanto suas performances. O escrutínio, instantâneo e global, é documentado e acentuado pelas mídias sociais. Nesse jogo, cada palavra, cada gesto emitido vale como um sinal verde ou vermelho no combate ao vírus e na retomada da economia.
Ganhar ou perder depende muito da capacidade dos líderes de funcionar como comunicadores ativos, autênticos e confiáveis. Não por acaso, a empatia de Jacinda Ardern foi o melhor remédio no combate à doença. Suas palavras seguras, transparentes e seu diálogo no tom de amizade uniram o povo neozelandês durante a quarentena. O país registrou bons índices de isolamento social e poucos infectados, com o número surpreendente de apenas vinte e duas mortes. Já na Bielorrúsia, o número de casos do novo coronavírus aumentou desde o discurso de Lukashenko.
Também pudemos acompanhar o poder das palavras na liderança corporativa nesses últimos tempos. Alguns foram às redes sociais exigir o término imediato do isolamento social como forma de manter seus negócios e empregos. Outros resolveram dialogar com seus colaboradores e achar juntos uma saída para a crise – mesmo que isso significasse uma perda financeira para a empresa num primeiro momento.
## Chefe ou líder?
Isso me leva a pensar naquela máxima de que só é possível ver o verdadeiro caráter de uma pessoa em tempos de crise. Quando as coisas ficam realmente ruins, é possível ver quem, de fato, é líder e quem exerce apenas o cargo de chefia. A Covid-19 escancarou a percepção de que precisamos urgentemente de uma verdadeira liderança para conduzir processos e pessoas nesta antecipação forçada do futuro que vivemos.
Os efeitos da crise serão sentidos por muitos anos na sociedade, na economia e no trabalho. Mas não há apenas problemas e julgamentos de valor diante de tantos desafios, talvez nunca antes considerados, mas também aprendizados.
A história nos mostra que muitos líderes notáveis emergiram da adversidade. Essa pandemia criou uma das economias globais mais voláteis do nosso tempo. E como podemos tirar proveito dos desafios desse ambiente para trazer o melhor de nós mesmos e de nossas equipes? Afinal, líderes não sabem tudo, eles não são super-heróis como inconscientemente muitos pensam.
A confiabilidade baseada em dados de Angela Merkel, da Alemanha, a racionalidade empática de Jacinda Ardern, da Nova Zelândia, e a resiliência silenciosa de Tsai Ing-wen, de Taiwan, nos mostrou que não houve heroísmo na condução de suas ações, mas sim diálogo com seu povo, muita transparência e tomadas de decisão a partir de dados e da ciência.
## Respostas rápidas ao desafio
Os problemas acontecem o tempo todo e, a cada momento, eles se tornam mais complexos e exigem novas habilidades. Um gestor precisa ser exemplo, buscar métodos diferenciados, olhar para novas perspectivas, enxergar seus talentos e estar aberto a novas ideias e sugestões. Nesse momento de enormes desafios gerados pelo coronavírus, o líder precisa estar presente, praticar a empatia e analisar o contexto humano e financeiro para decidir.
Conectar ações e aprender com um objetivo maior é mais relevante agora do que nunca. Todos os dias, vemos exemplos de empresas que estão mudando suas operações para responder às necessidades de suas comunidades. Nesse contexto, o mercado de trabalho estático não existe mais. Estamos em um mundo tecnológico e repleto de possibilidades, mas também faz parte do papel do líder garantir a produtividade de sua equipe, além de haver uma necessidade de requalificar a força de trabalho para o ambiente digital.
Portanto, fica a pergunta: o que podemos fazer agora para ajudar nossos funcionários a se sentirem seguros e preparados para o futuro? Mais do que nunca a liderança é importante, e nossos líderes na organização podem estar sentindo mais pressão. Por isso, outro aprendizado dessa pandemia, é que, antes de tudo, o líder deve saber liderar a si mesmo, entender os próprios medos, em que pontos são fortes e no que precisam melhorar. Sem o autoconhecimento, não há como seguirmos evoluindo na transformação de chefes temidos em líderes respeitados, admirados e, por que não, amados.