Eu costumo dizer que nossa sociedade está carente de inspiração. Parece até contraditório ressaltar isso em um mundo hiperconectado, com as redes sociais abarrotadas de influenciadores. Entendo e respeito o papel desse importante grupo, porém critico sua hipervalorização e mesmo sua nomenclatura. Não gosto do termo “influencer”, pessoas precisam ser inspiradas, nunca influenciadas.
E mais, em um momento em que se fala muito de propósito, somos, de fato, tocados ou inspirados? A verdade é que, hoje, a internet acelerou e perpetuou o conceito “snak culture” – onde falamos de tudo, mas não nos aprofundamos em nada – e, infelizmente, a maioria dos planos e ações de marketing tem se limitado a esse “approach”.
Não nego que os influenciadores têm o seu valor. Eles desempenham um papel importante na era do marketing digital, sendo uma peça-chave para as campanhas e acredito que suas vozes são ouvidas e “seguidas”, exatamente por atingirem nichos específicos de audiência com o tom de mensagem correto. Todavia, é inegável o cuidado que devemos ter ao transformá-los em protagonistas de temas que não são de sua expertise.
O ponto é que estamos órfãos de inspiradores. O que eu estou querendo dizer é que o influenciador pode fazer, sim, barulho para uma determinada marca, mas não é responsável por firmar o propósito que ela defende e levanta. É preciso ficar claro a diferença entre influenciar e inspirar, mesmo que, muitas vezes, a linha pareça ser tênue.
Compreendo que o influenciador deve ser um potencializador, e não ser visto como a mensagem em si. Já as marcas, precisam ser inspiração para o seu mercado, existir para e por um propósito. Cabe a nós, portanto, profissionais do Marketing, fazer essa virada de chave, de forma coerente e autêntica. Precisamos ter a coragem de se reinventar.
Para abrir minha cabeça nesse processo de reinvenção, tenho ido atrás de novos ídolos. Portanto, te questiono: quem te inspira? Sugiro que você, da área do Marketing, abra o espectro de suas leituras habituais ou mesmo faça um giro pelas ruas de sua cidade. Ouso dizer que irá se surpreender com as histórias inspiradoras adormecidas que existem por aí.
No meu caso, tenho uma bela coleção de novas histórias. Os protagonistas dessas histórias são o que eu chamo de pop stars do propósito e carregam consigo uma bagagem de ideias catalisadoras e disruptivas. São pessoas que estão na linha da frente de alguma causa e se mobilizam para mudar a sociedade e sua comunidade. Suas ações são capazes de incentivar, impulsionar e inspirar crianças, jovens e adultos a alcançarem o seu potencial e a se tornarem também agentes de mudanças. Em sua maioria, não são pessoas que nasceram na mídia, mas que ganham notoriedade em prol de algo maior, como a educação, os direitos humanos, o direito das mulheres e de pessoas negras.
Histórias como a de Malala Yousafzai, Muhammad Yunus, Boyan Slat, Oliver Percovich, Jessica O. Matthews, Bart Weetjens, Frank Hoffmann, Bill Drayton, Wellington Nogueira, David Herz, Celso Athayde e de tantos outros são alguns dos exemplos que os marqueteiros precisam ter no radar. E que histórias incríveis, não?
Se não conseguirmos nos inspirar com ideias tão simples e, ao mesmo tempo, inusitadas, como mulheres cegas detectando câncer de mama com maior precisão que caríssimos equipamentos tecnológicos, ratos identificando com seu olfato minas terrestres e o vírus da tuberculose, ou uma bola de futebol gerando energia para residências em favelas… está definitivamente na hora de pendurarmos as nossas chuteiras.
Devemos, como profissionais de marketing, entender como explorar o poder das histórias inspiradoras e nos posicionar como verdadeiros game changers, cocriando com pop stars desse perfil e quilate iniciativas eficientes para as marcas, mas acima de tudo, que inspirem as pessoas a serem proativas na transformação cultural do planeta e da sociedade.