Liderança, Times e Cultura

Participar de missões com curadoria

Visitas especiais a empresas, polos de inovação e eventos podem representar um salto na carreira de qualquer profissional. Esse tipo de experiência, quando conduzido com competência, traz aprendizados e insights de maneira concentrada, além de promover networking. Esta reportagem o exemplifica com missões à China.
Sandra Regina da Silva é colaboradora de HSM Management.

Compartilhar:

Você já participou de uma missão ao Vale do Silício? Já foi em grupo para um dos grandes eventos internacionais, como o NRF Retail’s Big Show, dedicado ao varejo, ou o SxSW, voltado à inovação, ambos nos Estados Unidos? Surgem no Brasil cada vez mais ofertas de viagens imersivas que tiram os gestores de seu cotidiano para que mergulhem em novas realidades e façam benchmarking com diferentes players, oferecidas por empresas diversas.

Alguns localizam o marco inicial desse hábito no Brasil nas visitas à Zappos, a varejista online de calçados sediada em Las Vegas, EUA, que representou uma ruptura mundial no serviço ao cliente – e que se estruturou para receber e ensinar outras empresas de 2004 em diante. Os Estados Unidos ainda continuam a ser o destino da maioria das viagens, mas as geografias vêm se diversificando.

Por exemplo, há – ou havia, antes de começar a guerra contra o Hamas –, uma série de missões empresariais a Israel, a nação startup, com o resultado prático de levar muitos brasileiros a investir ou fazer parcerias em startups israelenses. O Web Summit, em Portugal, é outro dos objetos do desejo – a B2B Match, do ecossistema HSM, organiza essa viagem regularmente, por exemplo. Singapura e Nairóbi são destinos de visitas organizadas pela Anprotec, a entidade que reúne os mecanismos de inovação.

A China está entre os principais lugares de interesse. Entre as empresas que oferecem missões lá está a Chinnovation, que focaliza tecnologia e inovação. In Hsieh, à frente da Chinnovation, é um descendente de chineses nascido e criado no Brasil, e ele mesmo especializado em social commerce.

![In Hsieh PB](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/2jfbzAa6qEhy8uqRVrhTtM/4d9d7c011a4798075b739d55fbe718d9/In_Hsieh_PB.jpg)
*In Hsieh, da Chinnovation*

De 2017 a 2019, Hsieh levou cerca de 300 brasileiros para a China. Em 2020, o projeto foi interrompido com a pandemia de covid-19. Mas, com a aceleração da transformação digital e a maior parte do comércio passando a vender online, adotando diferentes modelos e estratégias, o interesse pelas missões chinesas voltou com força. Um desses modelos foi do superapp, criado pela Tencent (dona do WeChat), que inspirou Rappi, Magalu e uma série de bancos digitais, entre muitos outros.

Para Hsieh, a prova da eficácia do aprendizado imersivo está na evolução dos grupos que ele acompanha. Seu primeiro grupo, formado em 2017, era composto de 70 empreendedores brasileiros, mas, embora fossem muito qualificados, não tinham visão de inovação. O que era visto lá “chegava a chocá-los, pelo nível de desenvolvimento”, e quase tudo era considerado muito distante de nossa realidade. Demorou um pouco a percepção sobre os elementos que poderiam ser adaptados para o Brasil. “A distância foi encurtando. Hoje, o que acontece lá também acontece aqui”, afirma o especialista.

As missões da Chinnovation voltaram a acontecer no fim do segundo semestre de 2023, quando Hsieh levou para lá 30 pessoas, clientes multissetoriais de um banco, parceiro na empreitada. “Agora, as pessoas não veem mais o que está acontecendo na China como inspiração distante, e sim como algo palpável para o Brasil”, conta ele.

Para Hsieh, são vários os benefícios de participar de uma missão à China. A principal é conhecer novas práticas estratégicas, inovações e tecnologias. Ele cita como exemplos as frentes em inteligência artificial, 5G, robótica, carros elétricos e autônomos.

Essas viagens também podem representar oportunidades para encontrar parceiros de negócios, fornecedores ou clientes, bem como para conhecer potenciais rivais e se antecipar ao que está por vir. Por exemplo, há uma grande expectativa de novas marcas chinesas de celulares no Brasil em 2024, diz ele.

“Muitas grandes corporações aprenderam a lição depois de serem impactadas por empresas que não enxergaram. Só uma startup que você não viu leva um tempo para te incomodar, mas uma empresa estrangeira que você não viu talvez já entre com força em seu mercado. E, entre as estrangeiras, muitas empresas chinesas estão colocando o País como uma de suas prioridades”, avisa Hsieh. “Qualquer um pode ter um concorrente chinês – há redes de cafés chinesas interessadas em nosso mercado.”

As viagens de imersão que Hsieh organiza duram entre 9 e 10 dias, com uma semana útil de atividades. Incluem visitas a empresas, apresentações e reuniões com executivos das empresas chinesas, visita no campo, além de workshops e palestras com especialistas de negócios e em cultura, já que a China é muito diferente do Brasil culturalmente. Hsieh procura organizar as viagens por setor, para aprofundar mais na área de maior interesse do grupo. E o perfil do participante de uma missão, segundo Hsieh, é sênior – acionistas, membros de conselho, executivos C-level etc.

## Imersões domésticas

Imersões de sucesso podem ser feitas sem que se saia do Brasil; basta as pessoas serem tiradas de seu cotidiano. Visitas a clusters de inovação, projetos de economia verde e cooperativas andam em alta, bem como os cursos embarcados, a exemplo dos que a HSM faz no Rock in Rio, no GP Brasil de Fórmula 1 e no Mundial de Surfe WSL.

Com o objetivo de focar mais as pessoas no aprendizado, eventos de escolas como a SingularityUBrazil ou de consultorias como a Quanttar também promovem viagens de dois a três dias.

__A diferença que a curadoria faz__

![gab PB](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/2BLxRSwaD2aLf1YIM0lKsR/3cb8287af8082829f1679b36fdc7aabd/gab_PB.jpg)

Gabriela Berriel Monteiro Mattiuzzo, diretora de inovação na Ipiranga, foi uma das executivas brasileiras que optaram por ir ao NRF Retail’s Big Show, o grande evento do varejo mundial que acontece todo ano em Nova York, com curadoria. A imersão foi organizada pela BTR-Varese, especializada no setor. “Foi a melhor experiência que eu podia ter tido”, garante Monteiro.

Entre os motivos para isso, ela destaca cinco: (1) a pré-curadoria das novidades em soluções no varejo, que facilita chegar ao que realmente interessa numa feira gigante; (2) tours por varejistas, como o centro de distribuição da Amazon, big techs, como a Microsoft, e startups de soluções para o setor (logística, entrega, comunicação com o cliente final etc.); (3) eventos paralelos, como, por exemplo, palestra de Pedro Andrade, no Harvard Business Club; (4) visita, acompanhada por especialistas a várias lojas físicas que estão usando novas tecnologias ou adotaram diferenciais, como a Save the Duck, da qual a executiva gostou muito; e (5) networking com os membros do grupo, com auxílio de um app. “Sem essa curadoria, talvez eu perdesse coisas importantes.”

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Liderança
A liderança eficaz exige a superação de modelos ultrapassados e a adoção de um estilo que valorize autonomia, diversidade e tomada de decisão compartilhada. Adaptar-se a essa nova realidade é essencial para impulsionar resultados e construir equipes de alta performance.

Rubens Pimentel

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O DeepSeek, modelo de inteligência artificial desenvolvido na China, emerge como força disruptiva que desafia o domínio das big techs ocidentais, propondo uma abordagem tecnológica mais acessível, descentralizada e eficiente. Desenvolvido com uma estratégia de baixo custo e alto desempenho, o modelo representa uma revolução que transcende aspectos meramente tecnológicos, impactando dinâmicas geopolíticas e econômicas globais.

Leandro Mattos

0 min de leitura
Empreendedorismo
País do sudeste asiático lidera o ranking educacional PISA, ao passo que o Brasil despencou da 51ª para a 65ª posição entre o início deste milênio e a segunda década, apostando em currículos focados em resolução de problemas, habilidades críticas e pensamento analítico, entre outros; resultado, desde então, tem sido um brutal impacto na produtividade das empresas

Marina Proença

5 min de leitura
Empreendedorismo
A proficiência amplia oportunidades, fortalece a liderança e impulsiona carreiras, como demonstram casos reais de ascensão corporativa. Empresas visionárias que investem no desenvolvimento linguístico de seus talentos garantem vantagem competitiva, pois comunicação eficaz e domínio do inglês são fatores decisivos para inovação, negociação e liderança no cenário global.

Gilberto de Paiva Dias

9 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Com o avanço da inteligência artificial, a produção de vídeos se tornou mais acessível e personalizada, permitindo locuções humanizadas, avatares realistas e edições automatizadas. No entanto, o uso dessas tecnologias exige responsabilidade ética para evitar abusos. Equilibrando inovação e transparência, empresas podem transformar a comunicação e o aprendizado, criando experiências imersivas que inspiram e engajam.

Luiz Alexandre Castanha

4 min de leitura
Empreendedorismo
A inteligência cultural é um diferencial estratégico para líderes globais, permitindo integrar narrativas históricas e práticas locais para impulsionar inovação, colaboração e impacto sustentável.

Angelina Bejgrowicz

7 min de leitura
Empreendedorismo
A intencionalidade não é a solução para tudo, mas é o que transforma escolhas em estratégias e nos permite navegar a vida com mais clareza e propósito.

Isabela Corrêa

6 min de leitura
Liderança
Construir e consolidar um posicionamento executivo é essencial para liderar com clareza, alinhar valores e princípios à gestão e impulsionar o desenvolvimento de carreira. Um posicionamento bem definido orienta decisões, fortalece relações profissionais e contribui para um ambiente de trabalho mais ético, produtivo e sustentável.

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Empreendedorismo
Impacto social e sustentabilidade financeira não são opostos – são aliados essenciais para transformar vidas de forma duradoura. Entender essa relação foi o que permitiu ao Aqualuz crescer e beneficiar milhares de pessoas.

Anna Luísa Beserra

5 min de leitura
ESG
Infelizmente a inclusão tem sofrido ataques nas últimas semanas. Por isso, é necessário entender que não é uma tendência, mas uma necessidade estratégica e econômica. Resistir aos retrocessos é garantir um futuro mais justo e sustentável.

Carolina Ignarra

0 min de leitura