O ambiente corporativo mudou profundamente desde 2020, após a pandemia de Covid-19, período em que muitas empresas lutavam para enfrentar os desafios impostos pelo lockdown. Naquele cenário de crise, um cargo até então pouco difundido passou a ocupar um papel de protagonismo na estratégia das organizações, tornando-se peça-chave na governança corporativa: o Chief of Staff.
Hoje, cinco anos depois, os números não deixam dúvidas: essa função estratégica cresceu 60% globalmente e já é realidade em 78% das empresas do S&P 500, segundo o Harvard Business Review. No Brasil, a demanda pelo Chief of Staff, ou CoS, cresceu 40% desde 2020 (Catho), impulsionada por setores como fintechs, energia e agronegócio.
Mas o que explica essa expansão tão expressiva em um curto espaço de tempo? E por que o Brasil, ainda em estágio inicial nessa “aposta” no Chief of Staff, em comparação com países como os Estados Unidos, Canadá, França e Reino Unido, deve prestar atenção a essa tendência? A valorização do CoS dentro das empresas não é uma “onda” passageira. Trata-se de um fenômeno mundial em resposta à complexidade do mundo corporativo, que não dá sinais de que irá retroceder. Dados da McKinsey indicam que 72% das empresas com receita acima de US$ 1 bi já adotaram o cargo. Nos EUA, corporações como Google e Microsoft já aderiram à tendência, assim como na Europa, 45% das companhias do FTSE 100.
E qual o principal motivo de o Chief of Staff ser a “bola da vez” nas empresas do mundo todo? As razões são várias, mas se fosse apontar apenas uma, seria a eficiência em tempos voláteis. Pesquisa recente da Gartner mostra que 62% das empresas substituíram cargos tradicionais, como CSO (Chief Strategy Officer) pelo CoS – um sinal claro de que as organizações passaram a priorizar a agilidade sobre a hierarquia. Para corroborar com este cenário, dados da Harvard Business Review, McKinsey e Forbes apontam que 60% do tempo de um CEO pode ser otimizado pela presença de um Chief of Staff, atuando como seu “braço direito”.
Entre os valores tangíveis de contar com um CoS nas empresas estão produtividade, gestão de crise e maior agilidade nas tomadas de decisão. Os números comprovam a relevância do cargo: 68% dos CEOs relatam aumento de 20% na produtividade com um CoS, de acordo com a McKinsey; durante a pandemia, empresas com Chief of Staff foram duas vezes mais ágeis no lançamento de novos produtos, segundo a Harvard Business Review; e, ainda de acordo com essa última pesquisa, 74% dos entrevistados citaram o CoS como mediador essencial de conflitos entre áreas.
Se fosse resumir a principal função do CoS – lembrando que suas atribuições e demandas são inúmeras e bastante variadas, dependendo da cultura e do perfil de cada empresa – seria a de atuar como um “elo” entre o CEO e as diferentes áreas da corporação. Um bom CoS conhece profundamente a organização, times e processos, gerencia equipes multidisciplinares e atua como interlocutor entre o C-Level e as operações. Não é à toa que muitos Chiefs of Staff evoluem na carreira, migrando para cargos no C-Level, tais como COO (Chief Operating Officer), CHRO (Chief Human Resources Officer) – ou até mesmo founder/CEO.
Em relação especificamente ao mercado de trabalho para o CoS no Brasil, observa-se um cenário em aceleração, ao mesmo tempo que representa um “oceano azul” de oportunidades, mas é claro que sempre há desafios. Por aqui, o CoS ainda é para muitos um cargo “desconhecido” e/ou ambíguo, porém cada vez mais comum em scale-ups e unicórnios – 70% delas já buscam ou têm um, segundo o LinkedIn. Setores como fintechs (40%) e energia (20%) lideram as contratações, mas ainda há um gap a ser superado: muitas empresas e recrutadores ainda confundem o Chief of Staff com um “assistente executivo premium”, ignorando seu potencial como integrador de estratégia e operação.
Diante desse contexto, mais do que nunca, os profissionais que ocupam esse cargo ou aspiram ocupá-lo devem se qualificar e se especializar, para estar preparados para todos os desafios e responsabilidades que uma função tão única e de tamanha proporção exige. Um CoS lida com informações sensíveis e decisões que afetam a empresa como um todo. Habilidades como análise de dados, comunicação estratégica, compreensão das emoções do time e gestão de crises não devem ser menosprezadas – e podem fazer toda a diferença.
Globalmente, 70% dos CoS possuem MBA, segundo a Harvard Business Review, e 65% têm formação em Negócios, Direito ou Engenharia. No entanto, a educação tradicional não é suficiente para o desempenho desta função tão estratégica e que se transforma com rapidez, junto com as demandas do mercado e de cada negócio.,. Para ser um ótimo Chief of Staff, é preciso ir além na busca de treinamentos e capacitações específicas e práticas, que simulem situações reais e deem subsídios para lidar com o dia-a-dia da função.
Pensando nisso, a CSA (The Chief of Staff Association), associação global com escritórios em Londres e Nova York, que reúne Chiefs of Staffs presentes em mais de 70 países, oferece formação de alta qualidade para seus membros, através de trilhas com conteúdos presenciais, remotos e oferta de certificações executivas especialmente voltadas para Chiefs of Staff, em parceria com universidades de renome como Oxford e Harvard Business School. Além disso, membros são convidados a participar de eventos globais e setoriais voltados para quem quer atuar em segmentos específicos, como serviços financeiros, tecnologia, educação e até governo. Serão lançados em breve cursos criados especialmente para Chiefs of Staff que atuam em startups, por exemplo, refletindo a especialização crescente da função. É difícil prever onde o CoS irá chegar no Brasil e no mundo. Mas o céu parece ser o limite para as oportunidades no mercado de trabalho e a evolução desse estrategista humano dentro das organizações.