Uncategorized

Por um Brasil mais produtivo

A presidente da Schneider Electric para a América do Sul diz que a resposta passa pelos campos da sustentabilidade, especialmente com eficiência energética, e da inclusão

Compartilhar:

Contagem regressiva com Tania Cosentino

**5- Como você compara o mercado para eficiência energética e energia renovável no Brasil e em outros países da América do Sul?**

De forma geral, nenhum país da América do Sul tem evoluído de forma efetiva; todos engatinham – embora tenham um potencial enorme e objetivos ambiciosos. Como as atenções estão voltadas para os problemas políticos, a agenda produtiva ficou em segundo plano. O Chile possui uma forte agenda pró-desenvolvimento econômico, a Argentina está tentando arrumar a casa investindo em infraestrutura, e a Colômbia, após a recente eleição, possui boas perspectivas de avançar no tema. No Brasil, maior operação da Schneider na região, se contarmos com um novo presidente que olhe o assunto com clareza, a energia renovável pode deslanchar. Ainda há muitas perdas no sistema aqui – enquanto isso, países maduros já discutem assuntos como o gerenciamento dos prosumers, consumidores que captam/produzem sua própria energia e vendem o excesso. É realidade na Alemanha, por exemplo.

**4- Até há pouco tempo, dizia-se que as fábricas brasileiras estavam muito atrasadas em produtividade, e isso se devia a um nível baixo de automação. Essa é sua avaliação também?**

O nível de automação deve ser melhorado, sim, mas é preciso que existam políticas de Estado direcionadas a investir em educação, pesquisa e 5 desenvolvimento. Na Schneider, 5% de nossa receita global são investidos em pesquisa e desenvolvimento para isso. Temos a arquitetura ExoStruxure, que conecta todos os dispositivos do chão de fábrica, coleta dados e gera, em tempo real, via inteligência artificial, informações e comparações que antecipam eventos, paradas e possíveis desgastes. A transformação digital em gestão da energia elétrica se dá por meio de produtos conectáveis, controle e análise de dados, integrando digitalização, tecnologia operacional e tecnologia da informação. O resultado é aumento da produtividade, além de maior eficiência da operação, melhor uso de insumos, gestão de processos e agilidade na tomada de decisões – seja na indústria, em data centers ou em soluções prediais. Outro benefício é a redução de emissões de gases de efeito estufa, que ocorre ao produzirmos mais com menos recursos.

**3- Como foi sua transição da presidência de uma operação nacional para uma maior, regional?**

Sempre fui operacional, estava muito ligada aos clientes, então cortar esse cordão e assumir uma postura mais estratégica exigiu um treinamento pessoal. Estou há 30 anos no mercado de energia e há quase 19 anos na Schneider. Antes de assumir a região, em 2013, presidi por quatro anos a subsidiária brasileira, onde construí times, apoiei planos de crescimento e adquiri conhecimento local. Conquistar market share regional, como fizemos, no ambiente de turbulência visto nos últimos quatro anos, exigiu um trabalho dobrado no apoio dado às equipes. 

**SAIBA MAIS SOBRE TANIA COSENTINO**

**QUEM É:** presidente da Schneider Electric para América do Sul, é graduada em engenharia elétrica pela Faculdade de Engenharia de São Paulo (FESP) e passou por cursos de especialização na Columbia University, no Iese – Escola de Negócios de Barcelona e na Escola de Negócios e Economia de Lisboa. Integra o Women Advisory Board da Schneider Electric e lidera o programa HeForShe, da ONU Mulheres, em sua empresa.

**TRAJETÓRIA:** foi a primeira presidente mulher da Schneider Electric Brasil, e o fez com ousadia: primeiro, candidatou-se à diretoria comercial e a ser presidente da empresa para o Brasil; depois, abriu mão da convivência com o marido para passar um ano na França se preparando para assumir a presidência da empresa no Brasil. 

**SCHNEIDER ELECTRIC:** com 170 anos de história, a empresa de gestão de energia elétrica e automação francesa está presente em mais de 100 países. Registrou receita de 24,7 bilhões de euros em 2017 – 45% dos quais vindos de negócios ligados à internet das coisas. Tem 144 mil colaboradores, 200 fábricas e 90 centros de distribuição pelo mundo. No Brasil, são 2 mil colaboradores.

**2- Qual é sua avaliação do nosso mercado ao longo dessa crise duradoura? Qual é sua visão de futuro?**

Nos últimos três anos, tivemos uma retração na América do Sul. Apesar das otimistas projeções de analistas, vemos o mercado se deteriorar a cada trimestre. Na América do Sul, temos países jovens, mas cuja janela demográfica se fechará em breve e essa enorme vantagem será desperdiçada. É pena. No caso do Brasil, espero que essa próxima eleição presidencial consiga virar a página e fazer o básico na economia, finanças e estruturas políticas, deixando que as empresas façam seu trabalho. Tenho otimismo. 

**1- Você ficou bem conhecida como ativista pela diversidade e defende a criação de cotas para mulheres nos cargos mais altos das empresas. Quais são suas propostas para combater a sub-representação feminina no mercado de trabalho?**

Defendo tanto a diversidade porque entendo que equipes com pessoas iguais não inovam, e inovar é crucial hoje. Falo em inclusão de mulheres, LGBT, de pessoas com necessidades especiais, refugiados, millennials. Por princípio, toda transformação precisa começar na alta gestão. Não adianta achar que essa mudança se dará por inércia e que tudo se acertará naturalmente. É preciso medir a demografia da empresa, estabelecer metas e criar cotas, sim, como forma de forçar gestores a abrir espaço para as mulheres. Não é deixar de contratar o mais qualificado, mas tornar as mulheres qualificadas tão visíveis quanto os homens. Globalmente, as mulheres estudam mais tempo do que os homens e, no entanto, as chances de ascenderem a postos de liderança são de apenas 28%. Outro passo é a equidade salarial. No mundo, a diferença salarial entre homens e mulheres, com o mesmo cargo, no setor industrial, é de 32%. Na Schneider global, temos como meta zerar essa diferença até 2020, e na América do Sul queremos eliminar o gap até o final deste ano. Não é trabalho fácil, são muitas variáveis e informações cruzadas, de job description, estruturação de cargos etc., mas estamos dedicando um budget específico para isso. Temos um plano estruturado, com grupos de afinidade por região que discutem e implementam treinamentos e políticas de inclusão com metas que estão na agenda dos líderes. Temos tolerância zero para casos de discriminação.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura
ESG
O etarismo continua sendo um desafio silencioso no ambiente corporativo, afetando tanto profissionais experientes quanto jovens talentos. Mais do que uma questão de idade, essa barreira limita a inovação e prejudica a cultura organizacional. Pesquisas indicam que equipes intergeracionais são mais criativas e produtivas, tornando essencial que empresas invistam na diversidade etária como um ativo estratégico.

Cleide Cavalcante

4 min de leitura
Empreendedorismo
A automação e a inteligência artificial aumentam a eficiência e reduzem a sobrecarga, permitindo que advogados se concentrem em estratégias e no atendimento personalizado. No entanto, competências humanas como julgamento crítico, empatia e ética seguem insubstituíveis.

Cesar Orlando

5 min de leitura
ESG
Em um mundo onde múltiplas gerações coexistem no mercado, a chave para a inovação está na troca entre experiência e renovação. O desafio não é apenas entender as diferenças, mas transformá-las em oportunidades. Ao acolher novas perspectivas e desaprender o que for necessário, criamos ambientes mais criativos, resilientes e preparados para o futuro. Afinal, o sucesso não pertence a uma única geração, mas à soma de todas elas.

Alain S. Levi

6 min de leitura
Carreira
O medo pode paralisar e limitar, mas também pode ser um convite para a ação. No mundo do trabalho, ele se manifesta na insegurança profissional, no receio do fracasso e na resistência à mudança. A liderança tem papel fundamental nesse cenário, influenciando diretamente a motivação e o bem-estar dos profissionais. Encarar os desafios com autoconhecimento, preparação e movimento é a chave para transformar o medo em crescimento. Afinal, viver de verdade é aceitar riscos, aprender com os erros e seguir em frente, com confiança e propósito.

Viviane Ribeiro Gago

4 min de leitura