Como coach executivo, é comum as pessoas me perguntarem sobre qual é a parte mais difícil de ser um CEO. Eu digo que a resposta de muitos que estão nessa posição é a tal da solidão.
E uma pesquisa de 2012 da Harvard Business Review comprova: além de se sentirem só, 61% dos CEOs acreditam que este sentimento dificulta seu desempenho no trabalho.
E o que explica essa solidão? Vejo dois fatores. Um conjuntural, provocado pela alta hierarquização e endeusamento dos CEOs por parte das práticas e políticas corporativas. E o outro comportamental, pois alguns CEOs de fato se comportam como deuses.
Há ainda um terceiro fator, presente em muitas culturas organizacionais, que pioram consideravelmente este cenário: o excesso de bajulação por parte das equipes.
Um caso real
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Um líder me disse certa vez que a sensação de estar nessa posição é como se tivesse alcançado o topo do monte Everest. Para chegar lá, são anos de preparo físico e psicológico.
O alpinista precisa abandonar outros sonhos e vontades para se dedicar à escalada. Muitas vezes amigos e família ficam em segundo plano, e há muito suor e lágrimas. E aí, quando se chega no topo, percebe-se que lá de cima é só o alpinista e a vastidão. E não há ninguém para socorre-lo.
Esse executivo, que tinha dedicado sua vida para assumir a posição mais alta da organização, me relatava que aquela sensação era frustrante. Era como se todos os esforços tivessem sido em vão.
A imagem de super-herói que ele criou, na realidade não existia. E ele não passava de uma pessoa acuada e com medo dos desafios proporcionados por aquela vastidão.
Ele sentia vontade de chorar, mas isso era contra as regras corporativas. CEO não pode demonstrar fraqueza.
Costumo dizer aos meus coachees que esse mix de sentimentos é normal para pessoas com esse tipo de responsabilidade. Todos sentimos esse pavor, uns de forma mais acentuada, outros com um toque mais brando.
No entanto, precisamos entender que há sim pessoas ao nosso lado nessa imensidão. O trabalho de CEO não precisa ser solitário.
“Agora que cheguei lá, tenho a sensação de que ninguém confia em mim. Ao percorrer os corredores da empresa, tenho a impressão de que as pessoas estão me bajulando.
Vejo os jogos de poder e interesse e não sei em quem confiar. Não consigo mais me aproximar delas”, me contou o mesmo executivo.
Está aí outro elemento que pode agravar o sentimento de solidão: a falta de confiança nas pessoas.
Dada a enorme responsabilidade e pressão para equilibrar todos os desafios do cargo com o crescimento dos negócios, muitos CEOs escolhem se isolar. Mas esse não é o caminho para a felicidade.
Construção coletiva
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Para rebater os argumentos desse executivo narrei a história de um amigo. Ele e seus filhos, um com 6 anos e outro com 9, queriam um pet em casa, mas a mulher, Júlia, era contra a ideia.
Só de pensar em cuidar de um cachorro ou um gato já vinha à mente da mulher “trabalho extra”. Ela já estava sufocada com a rotina de mãe, executiva, esposa, dona de casa e, provavelmente, não suportaria mais um papel de cuidadora de pet.
Eis que esse meu amigo alistou seus filhos para uma campanha longa e persistente. O trio implorou e prometeu que passeariam e limpariam as necessidades do cachorro.
Quando a esposa já estava baixando a guarda, ele deu mais um golpe de mestre. Pediu que as crianças deixassem que ela escolhesse a raça do cachorro e como ele seria chamado. Ele disse que aprendeu que as pessoas apoiam o que ajudam a construir. Hoje, Júlia é muito apegada à Golden Retrieven da família.
O isolamento pode ser, portanto, substituído pela colaboração. Há poucos CEOs que trabalham em equipe. Isso porque acabam criando muros ao seu redor, seja por medo ou por dificuldade de entender que sua cadeira compõe um conjunto, sozinho ele não consegue impulsionar a organização.
É como um vocalista pop star; sem um baixista ou guitarrista para acompanhá-lo, sua voz não seria transformada em canção de sucesso.
Mentoria, uma escuta ativa
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Outra chave para superar a solidão em qualquer trabalho, especialmente para CEO ou fundador da empresa, é ter um mentor. Nesta relação, o líder poder ser completamente honesto e vulnerável, compartilhando dores, perrengues e a falta de diálogo com sua equipe.
Já o mentor, tem dois papéis relevantes. O primeiro como ouvinte. Ele precisa escutar atentamente o discurso do CEO e deixar que ele abra o coração e, como acontece em alguns casos, caia em lágrimas perante as dificuldades.
O segundo papel do mentor é apontar caminhos. Diante do apresentado, ele pode trazer insights para que o líder consiga se autodesenvolver e lidar com os desafios em conjunto com outras pessoas.
Existem casos de empresas mais abertas, CEOs mais próximos de suas equipes e isso é um grande alento. O momento atual pressupõe líderes próximos, acolhedores, inspiradores que liderem equipes além de geri-las.
As cadeias formais de comando e controle estão se alterando para cadeias de engajamento e confiança. As relações pautadas na confiança são muito mais genuínas e potentes.
A questão passa a ser trabalhar com e para as pessoas a sua volta. As oportunidades estão ao seu alcance. Portanto CEOs, olhem além do horizonte, certamente, encontrarão parceiros para a sua próxima escalada.