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Sustentabilidade

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ESG, questão de sobrevivência para as empresas familiares

Assunto do momento no mundo todo, a agenda ESG tem forte relação com o propósito e o legado das famílias empresárias, que, por natureza, valorizam a perenidade dos negócios

Colunista Nelson Cury Filho

Nelson Cury Filho

29 de Setembro

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Artigo ESG, questão de sobrevivência para as empresas familiares

A pandemia reforçou a necessidade e a urgência das empresas incorporarem os critérios da agenda ESG (Environment, Social and Governance) às suas práticas diárias. Esse é um caminho sem volta, uma mudança imperativa para todos os negócios, independente do porte ou do segmento de atuação.

As empresas familiares, que respondem por mais da metade do PIB brasileiro e empregam 75% da mão de obra, ocupam posição estratégica no “the great reset” – a grande reinicialização – defendido pelo Fórum Econômico Mundial na reunião de 2020, em Davos. A pressão por um futuro mais sustentável, justo e próspero surge de todos os lados: investidores, clientes, consumidores, fornecedores, órgãos reguladores, funcionários, da sociedade de maneira geral.

A transição está ocorrendo de modo acentuado, como revelam os números. No ano passado, mais de US$ 22 bilhões migraram para os fundos negociados em bolsa com foco em valores ESG, ante US$ 9,2 bilhões em 2019, conforme dados da Bloomberg compilados pela consultoria KPMG.

O conceito ESG existe há décadas, mas ganhou tração nos últimos anos. O manifesto assinado em 2019 por 181 CEOs de grandes empresas como Apple, JP Morgan, Johnson & Johnson, Coca-Cola e Dell definindo um novo padrão de responsabilidade corporativa, e a decisão da BlackRock – maior gestora de ativos do mundo –, em investir apenas em empresas comprometidas com os critérios ESG podem ser considerados um turning point. Além disso, a eleição do republicano Donald Trump e a saída dos EUA do Acordo de Paris contribuíram para fortalecer o ativismo pelo clima, imprimindo mais força a essa bandeira.

Vantagens competitivas

De maneira geral, a agenda ESG tem forte relação com o propósito e o legado das famílias empresárias, o que é uma vantagem competitiva em relação às demais empresas. Por natureza, as empresas pertencentes a famílias têm uma visão de longo prazo, valorizam a perenidade do negócio e têm uma preocupação em perpetuar o legado social, devolvendo para a sociedade parte de suas conquistas, em sintonia com a agenda ESG.

Essa avaliação é corroborada pelo relatório do Credit Suisse Family 1000, de setembro do ano passado, segundo o qual as empresas familiares tendem a ter resultados de pontuação ESG ligeiramente melhores do que as não familiares. Nos últimos quatro anos, esse desempenho se fortaleceu impulsionado pela melhora nos aspectos ambientais e sociais.

Empresas familiares mais antigas têm melhores pontuações ESG do que as mais jovens em todos os três aspectos. A explicação estaria no fato de que, por terem processos mais consolidados, elas têm condições de se concentrar em outras áreas não diretamente ligadas ao processo principal, mas que são relevantes para a sustentabilidade do negócio.

Contudo, as empresas familiares ainda deixam a desejar no quesito governança se comparadas às demais organizações. O estudo do Credit Suisse Family 1000 mostra que os conselhos de administração costumam ser menos diversificados e estariam menos inclinados a se posicionarem publicamente em relação aos direitos humanos e à diversidade.

De cima para baixo

Aprimorar a governança é essencial para as empresas familiares comprometidas com a transição para um mundo mais sustentável. A adesão à agenda ESG deve estar alinhada à espinha dorsal de negócios e começar pelo topo da pirâmide corporativa (acionistas e conselho de administração), de modo a transmitir uma mensagem consistente às demais lideranças e aos colaboradores.

O discurso precisa estar conectado à prática diária. Trata-se de uma mudança cultural que necessita do engajamento de todos, incluindo parceiros e fornecedores, buscando permear todos os níveis corporativos. Segundo especialistas, companhias com boa governança têm mais condições de serem bem-sucedidas no cumprimento das credenciais ESG.

Embora tenham “vocação natural” para ESG, a pauta ainda não é prioritária para os negócios familiares, conforme mostra a pesquisa global sobre empresas familiares realizada pela consultoria PwC durante a pandemia, entre outubro e dezembro de 2020. Apenas 35% das 2.801 empresas entrevistadas, em 87 países, apontaram a sustentabilidade e a comunidade local como prioridades.

Nova geração

Os aspectos de sustentabilidade e diversidade são muito valorizados pelas novas gerações, que enxergam na agenda ESG um propósito para os negócios, adicionando mais competitividade às empresas. A expectativa é que a profissionalização crescente dos empreendimentos familiares e a chegada das novas gerações de herdeiros ao comando acelerem a transição para a fase ESG 2.0.

Com a crescente pressão para que as empresas assumam compromissos genuínos com as estratégias ESG, evitando que se tornem apenas mais um projeto do tipo greenwashing (maquiagem verde), há também uma cobrança cada vez maior pela mensuração de resultados e pela transparência nas informações, o que contribui para o desenvolvimento e amadurecimento desse modelo.

Algumas empresas estão incorporando as métricas ESG na política de remuneração de seus executivos e criando pontuações para medir o impacto gerado. Há um movimento em direção ao rating ESG, para classificar as companhias conforme o grau de elegibilidade para cada um dos referidos princípios. As agências de rating S&P, Moody’s e Fitch já adicionaram análises ESG em suas avaliações de crédito.

No mundo pós-pandemia, as organizações que não aderirem ao "novo normal" correm o risco de desaparecer. Alguma dúvida de que as três letrinhas do acrônimo são a nova regra dominante?

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Autoria

Colunista Nelson Cury Filho

Nelson Cury Filho

É sócio-proprietário da Cedar Tree Family Business Advisors e da Consilium Family Office Advisros. Graduado em gestão de recursos humanos e mestrado em consulting and coaching for change pela INSEAD Business School, na França, trabalhou por mais de 20 anos como executivo no conglomerado de empresas de sua família. Especialista em governança Familiar e no desenvolvimento da família empresária, cursou diversos programas como parceria para o desenvolvimento do acionista-PDA e desenvolvimento de conselheiros-PDC, pela Fundação Dom Cabral-FDC. É certificado internacionalmente em Family Business advisor pelo Family Firm Institute-FFI, de Boston (USA). É fundador do Fórum Brasileiro da Família Empresária-FBFE.

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