fb-embed

Empreendedorismo

5 min de leitura

Inclusão de grupos minorizados no empreendedorismo fortalece a economia

Movimentos do setor privado e da esfera pública podem impulsionar a inclusão de novos empreendedores e transformar boas ideias em negócios financeiramente sustentáveis

André Schröder

03 de Agosto

Compartilhar:
Artigo Inclusão de grupos minorizados no empreendedorismo fortalece a economia

O cenário de inovação e empreendedorismo no Brasil não é inclusivo. Um mapa do ecossistema de startups feito pela Abstartups em 2021 mostra que apenas 16,9% dos negócios foram criados por mulheres e menos de 5% dos fundadores são pessoas da comunidade LGBTI+. Esse mesmo relatório indica ainda que somente 7,2% dos empreendedores são negros e que indígenas somam apenas 0,2% do total. Como em outras estruturas do país, o mercado empreendedor é dominado pelo perfil homem, branco e heterossexual.

Mudar esse quadro de desigualdades é fundamental para estimular novas iniciativas, criar oportunidades, gerar impacto social e fortalecer a atividade econômica no país. A pesquisa GEM 2022, elaborada pelo Sebrae, aponta que 43 milhões de brasileiros já tinham ou fizeram alguma ação para montar um negócio próprio no ano passado. O número deixa claro que a vontade de empreender é grande. O que exige uma série de movimentos estratégicos do setor privado e da esfera pública para impulsionar a inclusão de novos empreendedores e transformar boas ideias em negócios saudáveis.

Formação e incentivo

Capacitação para montar o negócio, acesso a financiamento e dificuldades na venda de produtos e serviços são os principais entraves para o empreendedorismo de grupos minorizados no Brasil. Esses problemas foram ampliados por causa da crise e da pandemia, abalando ainda mais um ecossistema que gera empregos, transforma comunidades e traz desenvolvimento. Incentivar o empreendedorismo é uma ótima estratégia para reanimar a economia, mas o país carece de iniciativas voltadas para quem tenta construir um negócio próprio.

Na luta por inclusão, as mulheres estão na frente. Criado em 2017, o Instituto Rede Mulher Empreendedora reúne mais de 1 milhão de brasileiras. Com o apoio de uma ampla rede de parceiros, a organização oferece cursos de capacitação, mentoria para projetos e outras iniciativas para garantir a independência financeira das mulheres. Outro exemplo de incentivo ao empreendedorismo é o da B2Mamy, uma empresa que desde 2016 já conectou mais de 30 mil mães ao ecossistema de inovação e tecnologia, capacitando participantes e acelerando novos negócios.

As iniciativas voltadas ao público feminino mostram que trabalhos de inclusão são capazes de transformar o ambiente de empreendedorismo e beneficiar a sociedade. Entretanto, negros e indígenas ainda tentam sensibilizar companhias, instituições e órgãos públicos para formar suas redes de incentivo a novos negócios.

A tarefa não é simples, pois o caminho está tomado de preconceitos. O Mapa das Startups Negras de 2021, elaborado pela BlackRocks Startups, mostra que negros e pardos recebem menos investimentos em relação aos brancos em qualquer fase da construção do negócio. Esse empreendedor tem menos acesso a fundos de venture capital, investidores-anjo, aceleradoras, hubs de inovação e outros agentes do ecossistema.

Negócios da quebrada

Comandada por Diogo Bezerra e Tauan Matos, a Mais1Code é um negócio de impacto social que transforma jovens moradores de periferias e favelas em programadores de alta qualidade. O matriculado conhece o mundo da tecnologia, aprende a programar, cria soluções para problemas reais e acaba direcionado para o mercado de trabalho. Em dois anos (de pandemia!), a iniciativa formou 500 jovens, que hoje têm salário médio acima de R$ 3 mil em seus novos empregos. Mesmo com diversas citações em revistas e programas de TV, a dupla ainda busca investimentos. “É um projeto tocado por dois jovens pretos. A gente apresenta a ideia, mostra o que já foi feito, apresenta os bons resultados, mas sempre paramos em alguma exigência extra”, afirma Diogo.

Segundo o empreendedor, o investimento em negócios de periferia ainda engatinha. Para acelerar esse processo, é preciso ampliar o número de eventos onde é possível apresentar as ideias para quem procura oportunidades. “Há mais gente olhando para negócios da quebrada, com mais programas de apoio. Mesmo assim, é muito difícil. O olhar para esses negócios não pode ser de carência. Ele precisa ser de potência, pois pequenos e médios negócios das periferias movimentam a economia do país.”

Além da questão do dinheiro, os projetos periféricos também são afetados pela falta de apoio na construção do negócio. “Nós vamos crescendo com o conhecimento da quebrada, observando quais erros os outros cometeram. Não temos chance de errar. Apesar de saber que uma ideia é boa, o esforço para que ela seja vista e considerada por alguém de fora é muito grande. A gente corre demais”, relata Tauan Matos.

Um olhar indígena

A trajetória de empreendedorismo de Anápuáka Tupinambá é fascinante. Fundador da Yandê, a primeira rádio indígena do Brasil, ele criou um festival para fortalecer a música indígena, abriu uma loja de roupas e acessórios indígenas e está construindo um banco digital para oferecer serviços financeiros a indígenas. O foco nesse mesmo público tenta dar visibilidade aos mais de 300 povos que vivem no país, derrubando uma visão equivocada sobre a relação desse grupo com a economia.

“Não é apenas falta de vontade para promover negócios. É questão de entendimento mesmo. Indígenas possuem conta em banco, compram smartphone, andam de avião, movimentam uma série de atividades. O problema é que somos vítimas de uma visão preconceituosa”, afirma o empreendedor, criado dos 8 aos 13 anos em uma aldeia Tubinambá no sul da Bahia.

De acordo com Anápuáka, o empreendedorismo indígena tem uma vertente própria, que não considera o acúmulo de capital fator prioritário na construção dos negócios. “Essas ideias devem gerar impacto social, mudar a realidade dos povos indígenas do Brasil, porque o sofrimento indígena é ignorado pelo restante da sociedade”, explica Anápuáka, citando a construção de um banco indígena como estrutura que pode ajudar novos empreendimentos no futuro. “Meu caminho empreendedor é pautado pela ideia de ser um bom ancestral. Eu vivo isso para mudar a vida dos outros, para garantir que os direitos indígenas avancem”.

A comunidade Gestão PME é uma coprodução de HSM Management e Confraria do Empreendedor, com apoio de Meoo, o serviço de carro por assinatura da Localiza.

CONFIRA TAMBÉM:

Compartilhar:

Autoria

André Schröder

André Schröder é colaborador da HSM Management

Artigos relacionados

Imagem de capa Como as estratégias de gestão podem reduzir os custos elevados dos reajustes anuais dos planos de saúde empresariais?

Gestão de pessoas

16 Abril | 2024

Como as estratégias de gestão podem reduzir os custos elevados dos reajustes anuais dos planos de saúde empresariais?

Entenda os impactos e estratégias para garantir a sustentabilidaded dos planos de saúde, que devem aumentar em até 25% neste ano.

Katia De Boer

5 min de leitura

Imagem de capa Aerofólios, back office e diferenciação competitiva

Gestão de pessoas

15 Abril | 2024

Aerofólios, back office e diferenciação competitiva

Você sabe qual foi a revolução do aerofólio na Fórmula 1? Imagina de que maneira podemos utilizar esta lógica para a diferenciação no empreendedorismo? É essa reflexão que Valter Pieracciani nos convida a fazer em seu novo texto para a HSM Management.

Valter Pieracciani

3 min de leitura

Imagem de capa Gestor de gestores: os desafios da transição de gerente para diretor

Gestão de pessoas

27 Março | 2024

Gestor de gestores: os desafios da transição de gerente para diretor

Em mais um texto, Valeria Pimenta traz uma reflexão necessária sobre questões relacionadas às promoções e o papel de gestores e líderes, que se diferencia das questões de mérito ou produtivas de uma função

Valéria Pimenta

3 min de leitura

Imagem de capa A importância dos conselhos no plano de sucessão de empresas familiares

Gestão de pessoas

25 Março | 2024

A importância dos conselhos no plano de sucessão de empresas familiares

Sucessão de organizações familiares muitas vezes se tornam uma questão delicada e complexa. Nesse sentido, qual a importância de um conselho nesse trabalho estratégico em um momento crucial?

Farias Souza

4 min de leitura

Imagem de capa Amplie o olhar da inovação pelos números: o que há além do eixo Sul/Sudeste?

Empreendedorismo

16 Março | 2024

Amplie o olhar da inovação pelos números: o que há além do eixo Sul/Sudeste?
Amure Pinho

3 min de leitura