Cultura organizacional

Prepare-se para o onboarding dos jovens

Antes de iniciar programas de estágio e trainees, todos os envolvidos devem estar na mesma página sobre sua importância e objetivos
Fundador do Capitalismo Consciente Jovem, iniciativa do Instituto Capitalismo Consciente Brasil para a juventude, é líder de programas de desenvolvimento para jovens na Eureca, consultoria em juventude e empregabilidade, co-autor do livro *Reflexões de Jovens Líderes sobre Liderança* e foi presidente da Federação Catarinense de Empresas Juniores. Já desenvolveu projetos para as organizações Votorantim, PagSeguro, Neoenergia, Livelo, Sicredi, Sodexo, Nike, Renner, entre outras e atuou em projetos no Brasil e no Peru.

Compartilhar:

A experiência do usuário não está mais restrita às áreas de tecnologia. Quando você planeja um programa de desenvolvimento para qualquer público, deve perceber o aprendizado como o processo que de fato ele é. O antes e o depois são tão importantes quanto a ação de desenvolvimento em si para que o participante desenvolva uma nova competência. Uma preparação ruim pode acarretar a baixa presença ou uma falha na escolha do tema adequado. Uma sequência mal feita provavelmente causará a não aplicabilidade do conteúdo, tornando a ação um desperdício de tempo e dinheiro.

Na Eureca, conduzimos dezenas de programas de desenvolvimento para trainees e estagiários das maiores empresas do Brasil. Sabendo da importância de uma boa experiência do usuário em cada etapa dessa jornada, realizamos entrevistas com jovens que participaram dessas ações, e foi durante uma delas que escutei algo curioso.

Uma jovem comentou que seus gestores ficavam incomodados quando ela participava dos treinamentos. Houve até uma situação em que um deles ligou para diversas pessoas para descobrir onde a jovem estava, já que não conseguia contatá-la. No final, esse líder sequer sabia do programa de desenvolvimento para os estagiários da empresa. Mas como isso pode ser possível, ainda mais em uma empresa com processos bem estruturados?

Em maior ou menor grau, situações como essa acontecem, às vezes pelo lado do gestor ou até do [jovem talento](https://www.revistahsm.com.br/post/os-efeitos-da-pandemia-na-visao-dos-millennials-e-geracao-z). Atritos causados nesses programas têm uma grande causa, a falta de alinhamento entre as partes. Por isso, vamos conversar sobre os três atores que precisam estar alinhados para que um programa dê certo: jovens, RH e gestores. E o jeito certo de começar um programa de jovens talentos é com um bom onboarding de todos os envolvidos.

## O onboarding dos gestores
Para que o programa de estágio ou trainee dê certo, não basta ter talentos incríveis. Se o gestor não entender o objetivo do programa e estiver comprado com ele, não tem RH que faça milagre, já que a maior parte da jornada do jovem será com sua liderança, não com o RH.

Para esse público podemos variar entre formas diferentes de alinhamento. Um bom exemplo é elaborar um workshop sobre liderança para [jovens talentos](https://www.revistahsm.com.br/post/como-cuidar-de-jovens-talentos-durante-o-isolamento), em que o papel do líder é contextualizado, assim como os benefícios da diversidade geracional e dicas para a condução dessa relação. É importante que o RH reforce a força da liderança para o jovem e para o crescimento profissional do próprio gestor. O programa é uma oportunidade de aprendizado para ambos.

Além disso, existem informações essenciais para que o gestor esteja preparado:

– qual o objetivo do programa;

– as etapas do processo seletivo que trouxeram o jovem até aqui;

– critérios de seleção do candidato, a razão para a escolha e se houve algum filtro na seleção e porquê;

– a quais ações de desenvolvimento o jovem terá acesso e quando;

– outros suportes que a empresa irá oferecer e práticas recomendadas para o trabalho remoto;

– intenção de efetivação;

– o papel do gestor nesse programa.

## O onboarding dos RHs
Nesta etapa, estamos falando dos outros membros do RH que não estão próximos, mas também representam os interesses do programa a nível organizacional, como business partners e lideranças de RH.

Caso surjam dúvidas e críticas sobre o programa, em geral, BPs e lideranças de RH ficaram sabendo antes dos times de R&S e Desenvolvimento, pois possuem uma interface mais próxima com o restante da empresa. Esses profissionais precisam estar munidos das mesmas informações passadas aos gestores no onboarding deles – se possível, antes que aconteça –, assim, qualquer dúvida poderá ser respondida ou defendida com prontidão.

Pode ser interessante ter um treinamento específico sobre questões possíveis, o que deve ser questionado a eles, principalmente pensando nos públicos que cada ator do RH terá interface. Assim, se sentirão mais seguros para conversar sobre o programa.

## O onboarding dos jovens
Quando falamos do alinhamento dos jovens, precisamos garantir um ponto extra. Além de assegurar que o recém-chegado esteja consciente das informações básicas sobre sua jornada de trabalho, é mandatório haver coerência entre o que foi prometido no processo seletivo e o que será entregue durante a jornada. Neste quesito, você deve saber responder duas perguntas antes mesmo de lançar o programa:
1. Qual proposta de valor oferecemos para esses jovens?
2. Essa proposta vai ser entregue quando eles estiverem dentro da empresa?

Caso não consiga cumprir a promessa, provavelmente terá problemas de engajamento e maior índice de turnover. Ainda sobre isso, vale refletir sobre um tabu nos programas de estágio para jovens talentos: [a possibilidade de efetivação](https://www.revistahsm.com.br/post/marca-empregadora-e-antifragilidade-em-tempos-de-crise). Caso não haja essa chance, faça o possível para não fugir do assunto, pois se evitá-lo, ele se tornará o elefante na sala – e esse é um tema difícil, pois há risco real de jovens desistirem de estagiar numa empresa onde não há efetivação. Porém, como diz Ray Dalio no best-seller Princípios, você precisa encarar a realidade como ela é. Se efetivação não é uma possibilidade, o que mais pode entregar ao jovem que fará sua empresa se diferenciar e reter talentos?

Existem também cuidados com o onboarding em si. O primeiro deles é que este não deve ser um momento para capacitação dos jovens em novas competências, é um momento de esclarecimentos e alinhamentos de expectativas. Temas a serem explorados: o que é esperado deles; como é a cultura e a história da organização; objetivos e estratégia para o ano; como o jovem pode contribuir e como será o programa de desenvolvimento, revisão de benefícios e outras normas.

Por outro lado, também pode coletar informações para te ajudar no restante do programa, como a expectativa do jovem na corporação, perspectivas para os próximos anos, barreiras que enxerga, responsabilidades na jornada e como a empresa pode ajudá-lo a superar os desafios. Em onboardings online, utilizar ferramentas como Miro e Jamboard é muito útil para os jovens montarem mapas mentais neste momento.

## Onboarding na prática, um case bem-sucedido
A empresa EBANX, que fornece soluções de pagamento e foi avaliada em mais de US$1 bilhão, está realizando seu primeiro programa de estágio exclusivo para pessoas negras e fez uma extensa etapa de alinhamento com seus públicos internos – workshops sobre [desafios e benefícios da diversidade racial](https://www.revistahsm.com.br/post/por-uma-diversidade-racial-real-nas-empresas) com os times de BPs, diretores, gerentes, líderes contratantes, fundadores, time de cultura, customer success e todos os ebankers.

De acordo com Beatriz Herschel, uma das responsáveis pelo programa, “infelizmente, profissionais negros não são maioria no EBANX hoje e o programa de estágio exclusivo é uma das ações que estamos realizando com esse compromisso de diversidade e inclusão. Porém, encontramos grande dificuldade por não nos sentirmos preparados para lidar com essa realidade, não estávamos preparados para lidar com públicos diversos, entender o nosso lugar de fala e as dores de jovens negros. Por isso, buscamos que todos estivessem na mesma página”.

Ainda segundo Beatriz, fazer o onboarding com todos os envolvidos foi essencial para entender o mundo da diversidade e saber como receber os jovens. “Esperamos garantir uma experiência do colaborador adequada para os estagiários, com um ambiente seguro, identificar lacunas que precisamos endereçar nessa jornada e, por consequência, ter essas pessoas crescendo no EBANX”, completa.

Em resumo, muitas coisas devem ser feitas para um programa de jovens talentos de sucesso. Uma pergunta que pode te ajudar nessa jornada é: todos os envolvidos estão na mesma página sobre o que é esse programa, sua importância e objetivos?

Quer saber mais sobre gestão e juventudes, [acesse nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter).

Compartilhar:

Artigos relacionados

A ilusão que alimenta a disrupção

Em um ambiente onde o amanhã já parece ultrapassado, o evento celebra a disrupção e a inovação, conectando ideias transformadoras a um público global. Abraçar a mudança e aprender com ela se torna mais do que uma estratégia: é a única forma de prosperar no ritmo acelerado do mercado atual.

De olho

Liderança, ética e o poder do exemplo: o caso Hunter Biden

Este caso reflete a complexidade de equilibrar interesses pessoais e responsabilidades públicas, tema crucial tanto para líderes políticos quanto corporativos. Ações como essa podem influenciar percepções de confiança e coerência, destacando a importância da consistência entre valores e decisões. Líderes eficazes devem criar um legado baseado na transparência e em práticas que inspirem equipes e reforcem a credibilidade institucional.

Passa conhecimento

Incluir intencionalmente ou excluir consequentemente?

A estreia da coluna “Papo Diverso”, este espaço que a Talento Incluir terá a partir de hoje na HSM Management, começa com um texto de sua CEO, Carolina Ignarra, neste dia 3/12, em que se trata do “Dia da Pessoa com Deficiência”, um marco necessário para continuarmos o enfrentamento das barreiras do capacitismo, que ainda existe cotidianamente em nossa sociedade.

Gestão de Pessoas
Conheça o conceito de Inteligência Cultural e compreenda os três pilares que vão te ajudar a trazer clareza e compreensão para sua comunicação interpessoal (e talvez internacional)

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
Liderança
Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.

Athila Machado

6 min de leitura
Empreendedorismo
Após a pandemia, a Geração Z que ingressa no mercado de trabalho aderiu ao movimento do "quiet quitting", realizando apenas o mínimo necessário em seus empregos por falta de satisfação. Pesquisa da Mckinsey mostra que 25% da Geração Z se sentiram mais ansiosos no trabalho, quase o dobro das gerações anteriores. Ambientes tóxicos, falta de reconhecimento e não se sentirem valorizados são alguns dos principais motivos.

Samir Iásbeck

4 min de leitura
Empreendedorismo
Otimizar processos para gerar empregos de melhor qualidade e remuneração, desenvolver produtos e serviços acessíveis para a população de baixa renda e investir em tecnologias disruptivas que possibilitem a criação de novos modelos de negócios inclusivos são peças-chave nessa remontagem da sociedade no mundo

Hilton Menezes

4 min de leitura
Finanças
Em um mercado cada vez mais competitivo, a inovação se destaca como fator crucial para o crescimento empresarial. Porém, transformar ideias inovadoras em realidade requer compreender as principais fontes de fomento disponíveis no Brasil, como BNDES, FINEP e Embrapii, além de adotar uma abordagem estratégica na elaboração de projetos robustos.

Eline Casalosa

4 min de leitura
Empreendedorismo
A importância de uma cultura organizacional forte para atingir uma transformação de visão e valores reais dentro de uma empresa

Renata Baccarat

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Em meio aos mitos sobre IA no RH, empresas que proíbem seu uso enfrentam um paradoxo: funcionários já utilizam ferramentas como ChatGPT por conta própria. Casos práticos mostram que, quando bem implementada, a tecnologia revoluciona desde o onboarding até a gestão de performance.

Harold Schultz

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Diferente da avaliação anual tradicional, o modelo de feedback contínuo permite um fluxo constante de comunicação entre líderes e colaboradores, fortalecendo o aprendizado, o alinhamento de metas e a resposta rápida a mudanças.

Maria Augusta Orofino

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial, impulsionada pelo uso massivo e acessível, avança exponencialmente, destacando-se como uma ferramenta inclusiva e transformadora para o futuro da gestão de pessoas e dos negócios

Marcelo Nóbrega

4 min de leitura
Liderança
Ao promover autonomia e resultados, líderes se fortalecem, reduzindo estresse e superando o paternalismo para desenvolver equipes mais alinhadas, realizadas e eficazes.

Rubens Pimentel

3 min de leitura