Empreendedorismo, Inovação

Quais são os caminhos para promover inovação no setor público?

Antes de iniciar qualquer transformação, é fundamental identificar as áreas problemáticas e entender profundamente os desafios de sistemas quase inflexíveis

Compartilhar:

*Por Jonathan Veras, CEO da Cidade Conectada, startup voltada para prefeituras, que integra o portfólio da Dome Ventures, e Diogo Catão, CEO da Dome Ventures, uma Venture Builder GovTech.
*

Inovar em organizações públicas pode ser algo complexo, mas não impossível. Certamente, requer uma abordagem cuidadosa e estratégica. Para começar, é essencial compreender que a inovação interna nesse segmento difere de outros contextos, pois demanda ruptura com os padrões estabelecidos. Não se trata apenas de implementar tecnologia, mas também de repensar e redefinir procedimentos e atitudes. Além disso, toda e qualquer mudança visa otimizar operações, não as complicar ou aumentar a carga de trabalho.

Antes de iniciar qualquer transformação, é fundamental identificar as áreas problemáticas e entender profundamente os desafios enfrentados. O primeiro passo consiste em examinar minuciosamente os erros e buscar soluções adequadas. É imprescindível ampliar a visão além do nosso domínio específico, por isso possuir um repertório diversificado é também essencial no processo. As ferramentas de inteligência artificial são um exemplo disso, uma vez que só conseguem gerar ideias quando alimentadas com uma quantidade significativa de informações.

As esferas de poder público apresentam diferenças significativas, tornando essencial um trabalho personalizado que compreenda as particularidades de cada uma delas. No âmbito federal, a complexidade das estruturas organizacionais e a abrangência das políticas públicas demandam soluções capazes de integrar diversos departamentos e fomentar maior colaboração entre os funcionários. Nesse contexto, a inovação pode se manifestar na implementação de sistemas de gestão integrada, que simplifiquem os processos burocráticos e melhorem a eficiência operacional.
Nos governos estaduais, as prioridades e demandas podem variar de acordo com as características regionais e as necessidades específicas da população. Portanto, as estratégias devem ser adaptadas para refletir essas particularidades, seja por meio da criação de programas e políticas customizadas, ou pela promoção de parcerias com o setor privado e organizações da sociedade civil.

Nos municípios, a proximidade com os cidadãos reflete em uma abordagem mais direta e integrativa. Iniciativas como os orçamentos participativos, em que os moradores têm voz na alocação de recursos, além das plataformas abertas de gestão, que facilitam o acesso à informação e incentivam a colaboração cidadã, são instrumentos poderosos para envolver a comunidade na definição de prioridades e na cocriação de ações inovadoras para os desafios locais. Esse engajamento direto não só fortalece a democracia participativa, mas também promove senso de pertencimento e responsabilidade coletiva, essenciais para o desenvolvimento sustentável e inclusivo.

__Obstáculos__

É crucial evitar que o ego se sobreponha ao propósito coletivo. Embora a hierarquia e as cadeias de comando sejam importantes, inovar é uma jornada colaborativa que não tem um dono exclusivo. Por essa razão, é necessário compreender e aceitar a construção em conjunto, que requer o envolvimento e a contribuição de todos os membros da equipe. Para garantir o sucesso, é indicado cultivar um ambiente de trabalho que valorize a diversidade de ideias e perspectivas, promovendo a colaboração e o compartilhamento de conhecimento em prol do objetivo comum.

__Exemplos de sucesso__

Nascida em 2021, no interior da Paraíba, a AranduLab é uma startup que criou ferramentas para estudantes, professores e gestores, com foco na Educação 5.0. Os planos são alcançar 300 mil alunos ou 5 mil escolas até o final de 2025. Por meio de uma plataforma exclusiva, as instituições conseguem acesso a uma ampla gama de recursos, como gráficos e relatórios de aprendizagem, alinhados às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), além de informações que auxiliam os pais a acompanharem o progresso acadêmico dos filhos. A empresa também fornece aos professores ferramentas pedagógicas inovadoras para melhorar o ensino e a aprendizagem, enquanto os gestores podem usar dados analíticos para tomar decisões assertivas e eficientes.

Já a AgilizaMed, startup paranaense, desenvolveu uma plataforma para médicos generalistas dos postos de saúde, permitindo consultas com médicos especialistas para esclarecimento de dúvidas sobre condutas médicas e reduzindo filas do SUS. A empresa busca expandir a solução para outros estados. De junho a outubro de 2023, realizou mil atendimentos em 27 municípios do sudoeste do Paraná, onde 839 pacientes receberam tratamento na própria UBS, representando 84% dos casos que não necessitaram de consulta presencial com médicos especialistas.

__Simplificando processos__

A chave para viabilizar a inovação no setor público reside na simplificação. Ao descomplicar procedimentos, é possível gerar impacto positivo e promover experiências mais eficientes e satisfatórias para o cidadão. Contudo, é fundamental manter um olhar humano, reconhecendo que podemos realizar modificações eficazes quando consideramos as necessidades de todas as pessoas envolvidas. Além do mais, é preciso admitir que a inovação no governo não se restringe apenas à esfera tecnológica. Mudanças nas políticas públicas, como a adoção de práticas mais sustentáveis e inclusivas, também podem promover transformações positivas na sociedade.

Por último, mas não menos importante, é preciso assumir que as dificuldades do dia a dia são oportunidades de mudança. O fogo só existe por causa do frio e a roda foi criada pelo impasse de transportar objetos por longas distâncias. Ao enfrentar os desafios cotidianos, podemos identificar novas maneiras de abordar problemas e desenvolver soluções criativas e eficazes em prol dos servidores públicos e da comunidade.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Uncategorized
Há alguns anos, o modelo de capitalismo praticado no Brasil era saudado como um novo e promissor caminho para o mundo. Com os recentes desdobramentos e a mudança de cenário para a economia mundial, amplia-se a percepção de que o modelo precisa de ajustes que maximizem seus aspectos positivos e minimizem seus riscos

Sérgio Lazzarini

Gestão de Pessoas
Os resultados só chegam a partir das interações e das produções realizadas por pessoas. A estreia da coluna de Karen Monterlei, CEO da Humanecer, chega com provocações intergeracionais e perspectivas tomadas como normais.

Karen Monterlei

Liderança, times e cultura, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
Entenda como utilizar a metodologia DISC em quatro pontos e cuidados que você deve tomar no uso deste assessment tão popular nos dias de hoje.

Valéria Pimenta

Inovação
Os Jogos Olímpicos de 2024 acabaram, mas aprendizados do esporte podem ser aplicados à inovação organizacional. Sonhar, planejar, priorizar e ter resiliência para transformar metas em realidade, são pontos que o colunista da HSM Management, Rafael Ferrari, nos traz para alcançar resultados de alto impacto.

Rafael Ferrari

6 min de leitura
Liderança, times e cultura, ESG
Conheça as 4 skills para reforçar sua liderança, a partir das reflexões de Fabiana Ramos, CEO da Pine PR.

Fabiana Ramos

ESG, Empreendedorismo, Transformação Digital
Com a onda de mudanças de datas e festivais sendo cancelados, é hora de repensar se os festivais como conhecemos perdurarão mais tempo ou terão que se reinventar.

Daniela Klaiman

ESG, Inteligência artificial e gestão, Diversidade, Diversidade
Racismo algorítimico deve ser sempre lembrado na medida em que estamos depositando nossa confiança na inteligência artificial. Você já pensou sobre esta necessidade neste futuro próximo?

Dilma Campos

Inovação
A transformação da cultura empresarial para abraçar a inovação pode ser um desafio gigante. Por isso, usar uma estratégia diferente, como conectar a empresa a um hub de inovação, pode ser a chave para desbloquear o potencial criativo e inovador de uma organização.

Juliana Burza

ESG, Diversidade, Diversidade, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça os seis passos necessários para a inserção saudável de indivíduos neuroatípicos em suas empresas, a fim de torná-las também mais sustentáveis.

Marcelo Franco

Lifelong learning
Quais tendências estão sendo vistas e bem recebidas nos novos formatos de aprendizagem nas organizações?

Vanessa Pacheco Amaral