Liderança

RH é área de negócios

Para André Franco, porém, os recursos humanos não podem descuidar do básico, que é cuidar dos colaboradores em todos os aspectos. Ele também comemora a liderança colaborativa

Compartilhar:

Fazer bem o básico é degrau essencial para alcançar, e realizar, o estratégico. Para André Franco, diretor-geral de sementes para o Brasil e o Paraguai da Syngenta Seeds, o RH é uma área de negócios que deve contribuir para a visão de futuro e disseminar os valores e objetivos da empresa, mas sem nunca descuidar das pessoas. Ele celebra o fim do tempo em que o líder centralizava decisões. “A liderança colaborativa é a nova premissa para que projetos e organizações sejam bem-sucedidos.”

Nesta conversa com Sandro Pinto, diretor de RH da empresa para a América Latina, o executivo reflete sobre os desafios de 2022, os impactos permanentes da crise sanitária e a importância da diversidade para os negócios.

__SANDRO PINTO – Qual o maior desafio em 2022?__
__ANDRÉ FRANCO –__ O ambiente político-econômico será bastante desafiador, o que exigirá cautela e equilíbrio das empresas. Nós, como setor fundamental que somos, temos uma projeção de mercado muito positiva para 2022, mas o ambiente volátil implica um número de riscos – o câmbio, as commodities, o ambiente regulatório e econômico etc. Para superar esses desafios, é importante ter uma comunicação ainda mais frequente, intensa e estratégica, inclusive com os colaboradores, entendendo e revertendo problemas com mais rapidez.

__Qual a relação entre o engajamento de colaboradores e o sucesso da empresa?__
Há algum tempo, o time de liderança da Syngenta Seeds identificou a necessidade de aprimorar o trabalho em equipe de seus times. Depois de conversas e análises, decidimos atuar em três comportamentos essenciais em nossa cultura: ter foco no cliente (o agricultor), ter voz ativa (que, para nós, significa questionar e desafiar a maneira como sempre fazemos as coisas, assumir a responsabilidade) e colaboração. Tudo isso tem a ver com engajamento. Confirmamos que os colaboradores concordavam com isso numa pesquisa. Todos achávamos que a Syngenta Seeds operava, em muitos aspectos, sob um paradigma de “jogar para não perder” – assumindo poucos riscos e com menores recompensas – e todos queríamos passar a “jogar para ganhar”. Passamos a implementar práticas e estruturar processos que resultaram na cultura organizacional que chamamos de “Nosso jeito de jogar pra ganhar”, que possui os pilares “Somos todos produtores” (foco no cliente); “Chamando o jogo para si” (voz ativa); e “Jogando como um time” (colaboração).

__Como você sabe que um profissional se engajou?__
Pelo brilho nos olhos. Fica muito nítido para mim o quão engajada uma pessoa está com o trabalho, com a empresa, com os projetos dos quais participa. Esse comprometimento não só se destaca bastante no ambiente de trabalho, como também contamina positivamente quem está ao seu redor.

__Existe um jeito certo de liderar?__
Na minha opinião, não. Há líderes mais ou menos extrovertidos, uns mais estratégicos, outros mais táticos, e isso não é determinante para uma gestão mais ou menos efetiva. No meu ponto de vista, o princípio fundamental da liderança, independentemente da personalidade de cada profissional, é ser genuíno. Você não pode tentar vender ou ser aquilo que não é. O que rege a minha forma de gestão são os meus valores: justiça, por exemplo, é um dos pilares que me guiam. Transparência e foco nas pessoas também são fundamentais. E é preciso, claro, que o líder se encaixe na visão da empresa. Na Syngenta Seeds, por exemplo, valorizamos e apostamos em pessoas com espírito empreendedor, já que está no nosso DNA construir processos e desenvolver pessoas sempre.
O que significa que as lideranças estimulam isso.

Vale dizer ainda que eu sempre busco balancear atuação estratégica e tática: olhar para os objetivos de curto prazo é importante para manter o foco diário, mas um time que olha só para o ano corrente pode se desengajar e perder a visão de onde queremos chegar.

__Que avanço da gestão de pessoas você mais aprecia?__
Descentralização, empoderamento das pontas: o tempo em que o líder sabia de tudo e centralizava todas as decisões e etapas sozinho não existe mais. A liderança colaborativa é a nova premissa para que projetos e organizações sejam bem-sucedidos e posso dizer, com certeza, que tal prática norteia nossa atuação na Syngenta Seeds. Hoje em dia, é improvável prosperar sem o pressuposto de bases colaborativas.

__Como as prioridades estratégicas da organização devem ser capturadas pela área de RH?__
O RH deve ser visto como uma área de negócios, direcionando seu olhar de uma forma mais estratégica para a visão de futuro e os objetivos da organização. Na Syngenta Seeds, o RH nos instiga a pensar e agir para responder a perguntas fundamentais como qual é o plano de trabalho e objetivos estratégicos para os próximos três anos e quais tipos de profissionais são necessários para implementá-los?; como contratar pessoas mais alinhadas aos distintos posicionamentos e valores de cada marca e produto de uma companhia?; como apoiar melhor o trabalho dos franqueados e distribuidores?

__A agenda de sustentabilidade (ESG) da nossa empresa vem evoluindo a contento?__
Seguimos os preceitos da chamada agricultura positiva para a natureza, uma abordagem para encontrar as melhores formas de alimentar o planeta e cuidar do meio ambiente. Não se trata de uma tecnologia específica, mas de práticas agrícolas que ajudam a obter os resultados que queremos. Então, os resultados desejados incluem captura de carbono no solo com a redução de emissões de gases de efeito estufa, proteção da biodiversidade, redução do uso de irrigação em áreas com recursos hídricos limitados, além de produtividade e outros resultados mais convencionais. Para isso, reservamos cerca de US$ 1,3 bilhão anualmente para o desenvolvimento de novas tecnologias, capazes de trazer sustentabilidade ambiental e, ao mesmo tempo, financeira para o produtor. Nossos investimentos e nossas energias têm sido direcionados para isso.

__E em diversidade e inclusão? Vamos bem?__
Hoje nosso processo de contratação de profissionais deve necessariamente refletir os vários perfis e tipos de pessoas que estão entrando no mercado de trabalho. Na questão de gênero, por exemplo, na minha turma de agronomia, 90% do curso era composto por homens. Entre os formandos do último ano, 60% eram mulheres. Esse tipo de mudança deve, sem dúvida, estar refletida nos quadros de uma companhia.Também devemos representar aqui dentro a diversidade dos clientes, se quisermos trazer soluções com foco neles. Embora o universo agro ainda seja mais tradicional do que outros setores, a nova geração de agricultores, sucessores dos produtores atuais, é muito mais digital e muito mais diversa do que jamais foi.

Em 2021, demos mais um passo importante em diversidade ao conduzir um censo interno na Syngenta Seeds para nos entendermos melhor como “persona” – fizemos uma pesquisa com todos os nossos colaboradores, para criar um mapa da nossa diversidade interna de gênero, étnico-racial, orientação sexual, pessoas com deficiência e outros. Esse mapeamento está sendo usado como base para a tomada de decisões que visam aumentar nossa diversidade. Temos, além disso, sete grupos de afinidade, que têm trazido inputs fundamentais para nos tornarmos diversos quantitativa e qualitativamente.

__Como o RH pode ser mais efetivo?__
Um ponto fundamental é que é preciso ser bom no básico. Não há como o RH pensar em ser estratégico se pecar na operação com os colaboradores, e nisso temos tido muito sucesso. Nosso RH cumpre muito bem um papel que às vezes chamo de “grilo falante”: estar sempre estimulando a reflexão. E o RH tem que fazer parte das decisões estratégicas do negócio, alinhando a contratação de talentos aos objetivos e visões futuros da organização.

__Como é a sua rotina de lifelong learning?__
Aprendo mais com a realização, preciso vivenciar as práticas para incorporar habilidades. Obviamente considero muito importante ler artigos e livros, e ouvir podcasts, mas minha maior fonte de aprendizado é a mão na massa.

__Você cuida da sua saúde mental? Como?__
No passado eu já fui muito workaholic, e dedicava praticamente todo o meu tempo ao trabalho. Mas hoje faço atividades que me conectam com o que me dá prazer e realização. Eu amo estar no campo, andar a cavalo, praticar pesca esportiva, mexer com gado…

__André Franco__
Ele se formou em agronomia na Esalq-USP aos 21 anos e aos 24 era gerente.

__Sandro Pinto__
Trabalhou antes na Merck, Sharp & Dohme e na BD Medical.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança
As tendências de liderança para 2025 exigem adaptação, inovação e um olhar humano. Em um cenário de transformação acelerada, líderes precisam equilibrar tecnologia e pessoas, promovendo colaboração, inclusão e resiliência para construir o futuro.

Maria Augusta Orofino

4 min de leitura
Finanças
Programas como Finep, Embrapii e a Plataforma Inovação para a Indústria demonstram como a captação de recursos não apenas viabiliza projetos, mas também estimula a colaboração interinstitucional, reduz riscos e fortalece o ecossistema de inovação. Esse modelo de cocriação, aliado ao suporte financeiro, acelera a transformação de ideias em soluções aplicáveis, promovendo um mercado mais dinâmico e competitivo.

Eline Casasola

4 min de leitura
Empreendedorismo
No mundo corporativo, insistir em abordagens tradicionais pode ser como buscar manualmente uma agulha no palheiro — ineficiente e lento. Mas e se, em vez de procurar, queimássemos o palheiro? Empresas como Slack e IBM mostraram que inovação exige romper com estruturas ultrapassadas e abraçar mudanças radicais.

Lilian Cruz

5 min de leitura
ESG
Conheça as 8 habilidades necessárias para que o profissional sênior esteja em consonância com o conceito de trabalhabilidade

Cris Sabbag

6 min de leitura
ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura