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Rumo à sociedade empreendedora 4.0

A economia gig, caracterizada pelos empreendedores individuais e pelo uso das tecnologias digitais, atingiu a marca de 162 milhões de pessoas somando Alemanha, Espanha, França, Reino Unido, Suécia e EUA. No Brasil, elas devem ser 23 milhões, mas será que estão realmente atentas às oportunidades?
O estudo é de autoria de Alexander Homenko Neto e Rodolfo Ribeiro, doutores, professores e pesquisadores da Escola de Negócios Fatec-Sebrae. Foi realizado entre julho de 2017 e fevereiro de 2018 na plataforma digital da empresa GetNinjas, coletando dados de maneira qualitativa, com entrevistas em profundidade e pré-testes do questionário, e também quantitativa, com 3.075 respondentes.

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Quem é o empreendedor individual de hoje? É o sujeito que se encontra pressionado pelas alterações no mercado de trabalho e pela perspectiva de ingressar em um ecossistema digital promissor. Recentes estudos realizados pelo McKinsey Global Institute e pela consultoria Accenture indicam um relevante número de empreendedores individuais no mundo – só nos Estados Unidos eles representam 35% da força de trabalho ativa – e destacam a importância de compreender melhor essa força de trabalho e sua organização. 

No Brasil, os dados que temos do IBGE projetam que há atualmente cerca de 23 milhões de trabalhadores por conta própria e o número de trabalhadores informais alcança aproximadamente 37 milhões de pessoas – mesmo com o crescente número de microempreendedores individuais (MEIs), que atingiu quase 8 milhões de registros (números em um contingente de 104 milhões de pessoas economicamente ativas).

Embora os estudos muitas vezes qualifiquem esses indivíduos como trabalhadores independentes ou freelancers, nós os classificamos como empreendedores individuais a partir de duas premissas: (1) com as tecnologias da terceira e da quarta revolução industrial, há uma fragmentação da cadeia produtiva em nível global, e (2) estamos presenciando a transição dos modelos de negócio burocráticos e verticalizados para os modelos fragmentados e organizados em rede, e as pessoas que deixam o trabalho usual para empreender “empresas de si próprias” têm espaço nesse mundo.

No cenário que nos parece ser o imperativo desta primeira metade do século 21, modelos de negócio baseados em plataformas digitais têm o potencial de gerar valor e renda para um significativo número de agentes de modo a melhorar sua qualidade de vida. 

É o que podemos chamar de “sociedade empreendedora 4.0”, um neologismo que nos permitimos criar, já que empreendedorismo combina o comportamento do indivíduo e o ambiente institucional no qual ele está inserido; isso associado ao contexto tecnológico da quarta revolução industrial.

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**NOSSA PESQUISA**

Para mapear a “sociedade empreendedora 4.0”, realizamos uma pesquisa com os empreendedores individuais associados à plataforma digital GetNinjas, que conta com cerca de 

250 mil profissionais cadastrados e oferece serviços que vão de assistência técnica (como cabeamento de rede wi-fi e conserto de eletrodomésticos) até serviços domésticos, como babás e enfermeiras, passando por serviços de manutenção de automóveis e residências.

Identificamos no empreendedor individual sua atitude empreendedora – nas dimensões gestão e inovação –, seu nível de comprometimento com a atividade profissional, o peso da renda obtida na plataforma em sua renda total e seu nível de satisfação com o trabalho independente. Para complementar as análises, acrescentamos também um sintético perfil sociodemográfico. 

Descobrimos três categorias de empreendedores individuais: descompromissados, acidentais e engajados. Descobrimos também que o nível de satisfação geral com a atividade profissional exercida via plataforma é elevado, de 71%, mas a participação da plataforma na renda obtida por eles é só de 23%, o que talvez mostre que os empreendedores individuais ainda não se conectaram realmente com os novos modelos de negócio. 

As “empresas de plataforma”, ou marketplaces online, podem ser um modelo de negócio especialmente útil aos empreendedores individuais. Dados de 2016 indicam que existiam cerca de 6 mil startups desse tipo listadas no AngelList. A disseminação desse modelo de negócio percorre diversas indústrias que englobam mercados dos mais variados, como entretenimento, finanças, turismo e transportes, e ele é encontrado em três modelos, baseados em: 

• utilização de ativos; 

• vendas de mercadorias; e 

• oferta/demanda de serviços nas mais diversas formas de trabalho individual – dos triviais aos mais complexos. 

O último merece destaque em relação aos empreendedores individuais, porque combina eficientemente a oferta e a demanda de pessoas, habilidades e competências de maneira altamente personalizada, como faz a GetNinjas no Brasil, que foi fundada em 2011 e que já recebeu investimentos que chegam a quase R$ 50 milhões. 

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**PRINCIPAIS ACHADOS**

Há um predomínio de empreendedores individuais do sexo masculino no Brasil. Eles representam 74% dos entrevistados, sendo que a principal faixa etária está entre aqueles de 21 a 40 anos de idade, com estado civil casado ou em união estável. 

A renda familiar desses empreendedores individuais fica entre R$ 900,00 e R$ 2.800,00, mesmo que a maioria apresente um nível de escolaridade elevado para os padrões brasileiros, uma vez que 52% estão compreendidos entre ensino superior incompleto e a pós-graduação completa. 

Falemos primeiro dos três grupos de empreendedores individuais existentes:

• Descompromissados. Caracterizam-se por baixos níveis de comprometimento com a atividade profissional e de atitude empreendedora. Para eles, a renda da plataforma não tem grande importância. 

• Acidentais. São indivíduos comprometidos, afetiva e continuamente, com a atividade profissional exercida e têm atitude empreendedora, mas não usam muito a plataforma.

• Engajados. Têm elevadas pontuações nas três variáveis: peso da renda da plataforma, comprometimento com a atividade e atitude empreendedora. 

Em relação ao nível de satisfação geral dos empreendedores individuais, já falamos que atingiu o patamar de 71% em média. Os descompromissados possuem o nível mais baixo, com 53%, enquanto os acidentais cravam 78% e os engajados, 83%. Quais atributos mais lhes satifazem? Para os engajados, “possibilidade de aprender”, “uso da criatividade” e “autonomia”. Para os acidentais, somam-se a esses “atividades oferecidas pela plataforma”, “clima e condições de trabalho” e “flexibilidade na quanti­dade de horas trabalhadas”.

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**AMEAÇA X OPORTUNIDADE**

De um lado, há um mercado em expansão.

Estima-se que até 2021 serão 5,5 bilhões de usuários móveis globais e o tráfego mundial de dados móveis crescerá 47%, em comparação ao ano de 2016.  No Brasil, já são mais de 1,4 dispositivo por pessoa.

De outro, há o medo de perder o emprego. 

Uma recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que mede o medo que o brasileiro tem de perder o emprego, detectou um índice de 67,9 pontos em 100, o mais alto que já houve. E cerca de 13 milhões de brasileiros estão de fato desempregados. A iminente substituição de atividades diversas por inteligência artificial só aumentará o medo. 

Diante disso, trabalhar por meio de marketplaces como o GetNinjas poderia ser uma grande oportunidade para empreendedores individuais e para fazer aflorar a sociedade empreendedora 4.0 no Brasil. Só que não está, como nossa pesquisa revelou. A participação do marketplace na renda ainda é muito baixa – de 23% –, e só 13% dos pesquisados possuem renda superior a R$ 5.601,00, mesmo com bom nível de estudo, o que denota pouco valor agregado. 

É hora de os empreendedores individuais acelerarem sua transição para a quarta revolução industrial, como as grandes empresas têm feito.

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