Há algum tempo venho refletindo sobre o desafio de arquitetar cooperação e colaboração em organizações e ecossistemas como forma de gerar inovações e novas soluções para problemas complexos, sejam eles públicos ou privados. Pergunto-me: se todo dia desenvolvemos mais tecnologias e conhecimentos, por que ainda somos incapazes de criar os contextos, desenhar as estruturas ou construir a cultura organizacional que fortaleçam a conexão entre indivíduos ou instituições para alavancar esse potencial criativo?
Ao que me parece, ainda incentivamos e premiamos o comportamento egoísta, desconfiado e estritamente competitivo, o que não é o melhor caminho para inovar e ter sucesso. ocorre que aspectos comportamentais são essenciais no processo criativo e de inovação, tanto quanto competências técnicas. Então, um ingrediente simples se torna um diferencial cada dia mais relevante: a generosidade. já há diversas evidências de que a generosidade é capaz de influenciar positivamente pessoas e organizações, fazendo com que sejam mais inovadoras e produtivas.
O psicólogo organizacional e autor Adam Grant define três tipos de indivíduos: os que tomam (takers), os que dão em função do que obtêm (matchers) e os doadores (givers), que estão dispostos a ajudar sem esperar nada em troca. Extensas pesquisas mostraram que os doadores se destacam em relação aos outros perfis, incrementando os níveis de criatividade e produtividade da organização e alcançando maior sucesso pessoal. o mesmo princípio da generosidade parece ser validado em ambientes estritamente competitivos, como o universo das startups tecnológicas.
Na cultura do Vale do Silício, há, desde os primórdios, a filosofia de pay it forward (literalmente, pagar adiante). já ouviu falar? Ela prega que ajudar os outros é a melhor e mais natural estratégia – mesmo ajudar potenciais concorrentes. Muitos atribuem a esse princípio o círculo virtuoso de empreendedores, investidores e mentores observado ali. No Brasil, a comunidade do San Pedro Valley, em Belo Horizonte, é conhecida por estimular abertamente esse mesmo espírito. A cada cafezinho com pão de queijo, a cada troca de conhecimentos, empreendedores constroem relações mais verdadeiras, que virarão inovação mais tarde.
No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014, destacou-se a Escola Estadual Professor Antônio Alves da Cruz, da capital paulista. Cerca de dez anos atrás, seus gestores começaram a ser ajudados de várias maneiras por um grupo de ex-alunos e inovaram a forma de ensinar. Generosidade dá resultados. Imagine o que aconteceria se as escolas privadas compartilhassem suas melhores práticas com a escola pública do bairro. Faço-lhe um desafio: convide a pessoa a seu lado para almoçar e pague a conta. Mais tarde, você colherá os frutos dessa generosidade.