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Seria o fim da era dos festivais?

Com a onda de mudanças de datas e festivais sendo cancelados, é hora de repensar se os festivais como conhecemos perdurarão mais tempo ou terão que se reinventar.

Daniela Klaiman

CEO da FutureFuture, presente no Conselho de IA da Samsung e um dos principais nomes...

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Eu sou da época em que os festivais eram icônicos, extremamente aguardados e possivelmente a única chance de ver ao vivo aquela banda favorita do momento. Eram momentos catárticos – tinha uma coisa ali, uma magia, sinônimo de posicionamento, muitas vezes político e até um quê de rebeldia. Os Boomers, Gen X e Millennials eram todos frequentadores ávidos de festivais e entendem do que estou falando.

E ainda temos alguns festivais remanescentes desse momento áureo, como Rock in Rio, Lollapalooza, Woodstock e Glastonbury, mas que parecem ter pedido aquele encanto. Nos últimos anos, tenho visto uma transformação no cenário dos festivais de música. Recentemente lemos a opinião da [Kika Brandão sobre este assunto aqui na HSM Management](https://www.revistahsm.com.br/post/o-boom-dos-festivais-e-o-impacto-na-estrategia-de-branding-das-marcas), destacando como as marcas estiveram e ainda tentam estar presentes nestes momentos.

Porém, talvez aquele modelo e formato já não seduzem os jovens de hoje e podem ter seus dias contados.

# É o fim de uma era?

Uma das principais características dos festivais era a rapidez com que os ingressos eram vendidos.

Tornou-se comum ficar horas em filas virtuais – quase como um ritual -, sem ter a certeza de que você viveria tal momento. Essa dinâmica também apontava para outro cenário: uma multidão de fãs que, sem dúvidas, era o termômetro de que o evento seria um sucesso, não só pelo line-up, muitas vezes, considerado de peso, mas também financeiramente.

O sinal de alerta só foi ativado quando, neste ano, o Coachella 2024, conhecido por esgotar os ingressos em questão de segundos, levou meses para ter todos eles vendidos. Segundo dados da Billboard, o Coachella demorou cerca de 27 dias, quatro horas e 38 minutos para vender aproximadamente 125 mil ingressos do seu primeiro fim de semana.

Mas, a real, é que esta bola já havia sido cantada há algum tempo, com outros festivais de verão sendo cancelados e alvo de críticas, seja pelos músicos escolhidos, alguns não tão empolgantes, seja pelo preço, cada diz mais salgado, o que coloca em xeque até mesmo os perrengues, que antes não eram um problema, de fato.

No Brasil, de acordo com o Mapa de Festivais, publicado em maio deste ano, 18 festivais de música alteraram a sua data de realização em 2024, 8 foram cancelados, a exemplo do festival Doce Maravilha, que acontece em Curitiba/PR, 9 foram adiados, com a justificativa de trazer algo melhor para o público, e um teve um dos seus dois dias de evento cancelado. O motivo de tal desânimo? Os festivais tornaram-se artigos de luxo, com ingressos, passagens e hospedagens cada vez mais caros.

Além disso, hoje, o público preza por uma experiência de ponta, com uma programação mais diversificada e melhor infraestrutura. A edição de 2023 do REP Festival, maior evento de rap do Brasil, foi um dos grandes exemplos de quanto o público já não “veste mais a camisa” quando a proposta de determinado evento já não está mais alinhada com o tipo de experiência que se deseja viver. E, ouso dizer, ainda, que os festivais já não têm mais um público definido.

# Culpa da geração Z?

Ainda de acordo com o Mapa de Festivais, em 2022, o Brasil teve ao menos 135 eventos musicais espalhados pelo país, subindo para 183, em 2023. “De volta ao normal” e com a ficha caída, os festivais deixaram de ser tão atrativos como antes e o público tem procurado outras formas de experiências culturais, assim como tem acendido a chama de que a geração Z não é tão fã assim desse tipo de evento, como as gerações anteriores.

Não é difícil pensar que os festivais são uma forma dos jovens abraçarem sua liberdade e festejarem com os amigos, e isso inclui álcool e drogas. No entanto, segundo um estudo, a geração Z não compra mais o estilo de vida em festivais que gerações anteriores adotaram; apenas 5% desse grupo fica mais animado com a bebida quando chega a um festival.

Além disso, os line-ups têm estado um tanto quanto estranhos também; parece que estamos vivendo uma escassez de novos talentos, quando festivais gigantes trazem como head Blink182, Shanaya Twain ou Janelle Monae. O Glastonburry, maior festival de verão de UK, neste ano trouxe como principais atrações LCD Soundsystem, PJ Harvey, Cyndi Lauper e Gossip, por exemplo.

Será, então, que a justificativa para tudo isso está na mudança de comportamento da Gen Z? A falta de novos talentos? Os organizadores perderam o pulso da rua? Ou o formato que venceu? Tudo junto? Qual é a sua aposta?

# O que será que vai bombar?

Minha aposta são os microfestivais, eventos segmentados, focados em um público menor, mais intimista, com pessoas com gostos similares, vibe festa de um amigo – e eles já estão em ascensão, a exemplo dos festivais boutiques. Essa proposta não só traz a música como pano central, como também faz com que ela divida o palco com outras formas de consumo e atrações.

Na Europa, eles já são uma febre, sendo indicados para todas as idades. Ou seja, todo mundo fica feliz, do mais velho ao mais novo. É possível apreciar uma variedade de culinárias, diferentes tipos de música, espaço para ioga, esportes, contato com a natureza e arte, isso a depender da proposta. Pequenos, curtos e com line-up ultra preciso.

Na minha opinião, a busca por experiências mais pessoais, autênticas e sustentáveis está moldando o futuro dos eventos musicais. Ao oferecer um ambiente aconchegante, uma curadoria de qualidade e uma conexão mais próxima entre artistas e público, esses eventos menores estão redefinindo o que significa vivenciar a música ao vivo.

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