*Texto por[Juliana Chini](https://www.linkedin.com/in/julianachini/), membro da Rural Insights, fundadora da Newsletter Sementis Tech, Blog da Carne, colunista na FutureCom Digital e gerente de marketing sênior LatAm na Arable. *
Faremos um exercício de imaginação hoje.
Imagine uma fazenda, com drones para identificar pragas, doenças e fazer mapeamento das lavouras, com manejo de irrigação automatizado, sensores para monitorar solo, chuva e clima em cada talhão, indicando a quantidade e momento ideal para irrigar e aplicar insumos.
Esta fazenda também possui mapas de fertilidade, produtividade e outras análises via satélite. Na lavoura, robôs autônomos providos de Inteligência Artificial (IA) monitoram e eliminam pragas.
No pasto e confinamento, câmeras, balanças de precisão e sensores monitoram a saúde dos animais. E, de dentro dos escritórios ou em qualquer lugar do mundo, os gestores de operações acompanham todas estas informações em plataformas que o auxiliam na tomada de decisão, que podem ser acessadas através do computador, tablet ou celular e com notificações até pelo smart watch.
Pode até parecer um filme de ficção científica, mas este cenário já é uma realidade na agropecuária global e brasileira.
As tecnologias emergentes, ou 4.0, têm sido empregadas em todas as etapas de produção, desde a genética e biotecnologia, conectando lavouras e animais, abrindo as porteiras dos caminhos que percorrem, passando pela logística, em direção à indústria, varejo, mercados domésticos e internacionais, até chegar ao consumidor final.
As tecnologias emergentes são aquelas relacionadas à “Quarta Revolução Industrial”, conceito de Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, e que contemplam a convergência entre o mundo físico e digital. Embora ainda estejam em uma fase de consolidação, possuem o potencial de transformar os negócios nos próximos 5 ou 10 anos. E, se a primeira revolução industrial surgiu com a máquina a vapor, a quarta destaca-se por tecnologias como “big data”, “cloud” (armazenamento em nuvem), IoT – Internet of Things (internet das coisas), robótica, blockchain e principalmente inteligência artificial (IA).
Estas inovações são amplamente abordadas em artigos na HSM Management e relacionados a diversos setores. É comum e está no cotidiano das pessoas ver estas tecnologias aplicadas no aplicativo de mapas indicando o melhor caminho, na recomendação de investimento do banco ou fintech, na série sugerida pelo streaming e agora na pergunta a um chatbot online de IA.
Mas, como se aplicam ao agronegócio e, mais especificamente, dentro das fazendas?
O “dentro da porteira” é um termo utilizado pelo setor que engloba as atividades exercidas em uma propriedade agropecuária. De uma forma simplificada, estas tecnologias atuam da seguinte forma: sistemas embarcados de iot (sensores, telemetria, GPS, câmeras, telemetria) captam dados das plantas, solo, ambiente, clima, animais, maquinários, entre outros. Os dados são armazenados em uma nuvem, onde a inteligência artificial analisa as informações a serem apresentadas em plataformas e aplicativos.
“Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!”, escreveu Monteiro Lobato em Urupês. Se, por muitos anos, os produtores rurais brasileiros foram representados de forma pejorativa a este personagem, atualmente são referência global em adoção de tecnologias.
Segundo o estudo “[A Mente do Agricultor Brasileiro](https://mente-do-agricultor.mckinsey.com/)”, realizado pela McKinsey & Company em 2022:
• Cerca de 50% dos agricultores já adotam ou estão dispostos a adotar tecnologias agrícolas para suas operações;
• 71% dos agricultores pesquisados usam digital em sua jornada de compras;
• Os agricultores brasileiros estão à frente dos estadunidenses e europeus na preferência por canais online de compra.
Esta digitalização do campo foi concomitante e acelerada pelo desenvolvimento de ecossistemas de inovação, com um enfoque no desenvolvimento de tecnologias focadas no agronegócio por instituições de pesquisa, organizações, grandes corporações e, principalmente, pelas startups “agtechs”. Uma startup é uma empresa que necessariamente tem um modelo de negócios escalável para milhares ou milhões de clientes e que possa ser repetível, ou seja, seu produto ou serviço pode ser entregue para todos os clientes com a mínima necessidade de customização.
O termo “agtech” se refere às startups ligadas a inovações focadas no setor, sendo “ag” de “agribusiness”, cuja tradução é agronegócio, e “tech” é a tecnologia. Em outras áreas, há as “fintechs” (startups de tecnologia para finanças), as “edutechs” (startups de educação) e as “foodtechs”, por exemplo.
A startups agtechs da América Latina levantaram mais de R$1bi em 2023, liderado pelo Brasil com suas quase 2 mil agtechs. Para 2024, as expectativas são de crescimento, com foco na escalabilidade das soluções em nível nacional e internacional.
E, se com menos informação disponível a produtividade da agropecuária brasileira aumentou 400% entre 1975, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com uma maior adoção há um enorme potencial de crescimento com a precisão de dados, também necessária para a resiliência climática em um cenário cada vez mais desafiador. A tecnologia também será um fator cada vez mais essencial para o aumento da produtividade de forma sustentável.
Ainda há um enorme caminho para acelerar a adoção de tecnologias no agronegócio brasileiro. Desafios como crédito, conectividade, educação e transformação da cultura das pessoas para a inovação.