Quando pensamos em colaboração no Vale do Silício, lembramos dos ambientes de trabalho abertos das grandes empresas de tecnologia, com seus cafés, áreas de descanso e mesas de pingue-pongue. Sim, é comprovado que espaços abertos convidam os funcionários a estabelecer o hábito de se organizar e colaborar com toda a estrutura hierárquica. São recursos que estimulam a criatividade, atraem e retêm os melhores talentos.
No entanto, a cultura de colaboração do Vale vai muito além disso. Estudos atribuem a inovação do local à intersecção entre academia, setor privado e governo – a convergência desses três setores é o que torna o ambiente diferente de qualquer outro. As universidades de Stanford e Berkeley atraem um fluxo constante de empreendedores e as melhores mentes da tecnologia. Tantas startups prósperas tornaram a região do Vale, a Bay Area e a vizinha São Francisco destinos atraentes também para investidores. Além disso, como muitos dos residentes são os primeiros a adotar novas tendências, a oportunidade de testar novos produtos também é facilitada.
As histórias de sucesso do passado dão fôlego às atitudes presentes. Se os empreendedores estão cercados pelo sucesso de tantas startups e de gigantes da tecnologia como Apple e Facebook, torna-se mais fácil imaginar vitórias para si próprios. E, por último, os recursos pessoais e institucionais já investidos ali tornam o Vale do Silício o local perfeito para o crescimento dos negócios e ampliam as chances de investimento. As oportunidades que o Vale oferece e a cultura inovadora que representa fazem dele um local verdadeiramente único.
Porém, os novos formatos de trabalho, provocados pela recente pandemia, transpuseram muitos dos acontecimentos físicos para o ambiente digital com a maioria dos trabalhadores em formato remoto. Nesse contexto em que a colaboração não é mais presencial e sim virtual, qual será o futuro da região? Hoje já ocorre um grande êxodo, com os preços dos aluguéis caindo, as taxas de ocupação de escritórios diminuindo e trabalhadores de tecnologia fugindo em grande parte para Miami, Denver ou Austin.
Alguns deles, formadores de opinião como Elon Musk, já anunciaram em voz alta sua saída. Apesar do êxodo de São Francisco não ser um fenômeno novo, será um movimento interessante de ser acompanhado. Será que o ecossistema de colaboração do Vale poderá ser replicado em outras cidades? Será que a Bay Area perderá relevância no universo mundial de tecnologia? Ou será que pessoas físicas e famílias voltarão a ocupar a região, como aconteceu após o incêndio e o terremoto de 1906? Em breve saberemos.