Em um relatório da Câmara Americana de Comércio de Xangai, publicado recentemente, 77% das empresas entrevistadas afirmaram que suas operações na China são lucrativas. Cerca de 60% estavam otimistas quanto às perspectivas de negócio nos próximos cinco anos, e por volta de metade está aumentando o investimento na China em 2019. Esses dados são consistentes com outro relatório, do US-China Business Council, de agosto, que sugere que 87% das empresas norte-americanas que operam na China não querem sair. Ambos são tapas na cara do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que recentemente convocou as empresas do país a deixarem a China e voltarem para casa. Poucas – se é que alguma – atenderam.
Em julho passado, uma centena de acadêmicos e consultores políticos ligados aos EUA escreveram uma carta aberta ao Sr. Trump afirmando que Pequim não é uma ameaça – nem econômica, nem de segurança nacional. A animosidade em relação à China, afinal, deve prejudicar a reputação dos EUA e os interesses econômicos de todos os países. Não haverá vencedores nesse jogo de soma zero.
Com base em minha experiência pessoal como consultor de empresas norte-americanas na China, os resultados dessas pesquisas e as reações ao apelo de Trump são compatíveis. A maioria das empresas escolheu ficar devido ao tamanho do mercado chinês, ao nível de integração de suas cadeias de suprimento com fornecedores ou fabricantes chineses, ou ambos. Paradoxalmente, depois do apelo de Trump, a varejista norte-americana Costco abriu sua primeira loja em Xangai.
Entre os que escolheram ficar, há uma necessidade cada vez maior de criar uma estratégia diferente para a China. Conforme o ambiente operacional do país evolui, suas condições de mercado se tornam mais sofisticadas e únicas. Terry Guo, fundador da Foxconn Technology, previu que o futuro da tecnologia 5G evoluirá para uma dicotomia: a 5G da China e a 5G dos EUA – devido a diferenças no posicionamento estratégico, modelo de desenvolvimento e necessidades do mercado. Conforme a 5G e suas aplicações comerciais evoluírem, tal divergência só se ampliará.
Em escala mais ampla, mas no mesmo sentido, o G2 – EUA e China – vai substituir o G20 em uma nova estrutura de liderança: um mundo, dois sistemas.
Algumas empresas já estão desenhando suas estratégias nesse sentido. A Toyota se deu conta de que um equilíbrio sutil entre China e EUA será crítico para sua operação global. Enquanto isso, enfrenta a tarefa delicada de criar uma estratégia centrada na China para atender especificações de fabricação e tecnologia daqui.
Empresas norte-americanas que decidiram ficar na China precisam ser muito mais sofisticadas. Modelos de negócio copiadas dos EUA para a China não funcionam mais. Inovações locais serão fundamentais, e precisarão estar associadas a empresas locais e governos a fim de render bons frutos.
Por mais que haja diferenças, o mundo se beneficiará da cooperação entre as duas maiores economias. O fundador e CEO da Huawei, Ren Zhengfei, sugeriu que a empresa pode vender a tecnologia 5G para empresas norte-americanas, para criar melhor concorrência e um ambiente tecnológico global mais unificado. Empresas até agora só visam bater a concorrência. Há mais espaço para EUA e China colaborarem do que brigarem diante dos desafios globais que vêm por aí, muitos dos quais transcenderão fronteiras nacionais.