Empresas chinesas, especialmente as de tecnologia, têm enfrentado cada vez mais dificuldades devido a tensões geopolíticas, causadas principalmente pelos Estados Unidos. Recentemente, o governo Trump fez seu movimento mais agressivo, proibindo o uso do TikTok e do WeChat caso não se desligassem das empresas chinesas de origem, ByteDance e Tencent, respectivamente. Isso ocorreu um dia depois que o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, anunciou a expansão do programa Clean Network, que foca as empresas chinesas de tecnologia.
As tech chinesas estão acostumadas a se ver enredadas na geopolítica. A Huawei, de telecomunicações, é alvo da Casa Branca há muito tempo. O governo norte-americano alega que seus produtos comprometem a segurança nacional, ameaça com proibições e pressiona outros países e empresas a seguir seu exemplo.
A atenção agora se volta ao TikTok, o popular app de vídeos curtos. Mais uma vez, as preocupações de segurança nacional foram citadas como motivo para a repressão. Mas, antes disso ainda, o TikTok já tinha se separado operacionalmente da ByteDance. O CEO recém-indicado da empresa, Kevin Mayer, é americano. Suas centrais de dados estão em Singapura e na Califórnia. A ByteDance tem um único dono e levantou capital de muitos investidores americanos. O TikTok agora se prepara para acionar o governo norte-americano para reverter a proibição.
Apesar dessa onda repressiva, a China continuou a abrir seu mercado para setores como o automotivo, de telecomunicações, petróleo e gás e serviços financeiros. A dicotomia – com a China abrindo suas portas para empresas estrangeiras, enquanto o Ocidente, em particular os EUA, apelam ao unilateralismo e ao protecionismo – contradiz o modelo tradicional de referência do Ocidente como liberal e aberto, e da China como fechada e restrita.
Conforme os EUA tentam conter a influência chinesa, também minam a ordem global que foi construída ao longo de décadas com muito esforço e sucesso. Apesar de não ser infalível, o sistema global é necessário para manter a confiança e a ordem entre os países. Intervenções drásticas como o decreto ou a venda forçada de uma empresa estrangeira abalam a forma como as coisas funcionam e, mais importante, os valores subjacentes.
Dar as costas para o globalismo implica abrir mão das próprias oportunidades que ele permitiu: um bolo maior para todos, a disseminação da tecnologia, melhorias no bem-estar público e a troca de ideias. Como no caso do TikTok, empresas, especialmente as que atuam entre fronteiras, exigem um ambiente com certo nível de estabilidade e previsibilidade.
Esse caso clama por uma revisão do modelo de governança global que defina o código universal de conduta para empresas e governos, especialmente sobre como dados que cruzam fronteiras devem ser armazenados, usados e guardados. Isso exige confiança e disponibilidade entre os países com diferentes sistemas políticos e ideológicos, e a orientação dos líderes de grandes potências no sentido de criar as visões para o futuro.