Uma notificação familiar ecoa no carro: “Você chegou ao seu destino.” Mas será mesmo? Em quantas áreas da sua vida essa frase parece mais automática do que verdadeira?
Maio é o mês do trabalho e como toda boa data simbólica, me pareceu uma ótima desculpa para pausar e me perguntar: para onde estou indo? Ou melhor: quem está no controle do meu volante?
Escrevo como quem já recalculou rotas algumas vezes – por escolha e por necessidade. E como alguém que observa, cada vez mais, líderes, profissionais e empreendedores sentindo a mesma inquietação: será que estou no caminho certo? Muitas pessoas que, ao alcançarem o “lugar” desejado, perceberam que a paisagem do destino não era bem como imaginavam. E não estou falando só de altos cargos ou conquistas. É sobre um sentimento meio difuso, às vezes silencioso, mas que nos incomoda internamente: era isso mesmo que eu queria? Se você pudesse reprogramar seu destino profissional hoje, o que mudaria no percurso? E quem você convidaria para ir junto?
No mundo corporativo, os caminhos que pareciam óbvios — subir na hierarquia, seguir um plano de carreira mais linear — se tornaram bifurcações, desvios e, às vezes, becos sem saída. A segurança foi substituída pela fluidez. Buscamos mentores, ferramentas, cursos. Mas, paradoxalmente, nunca estivemos tão perdidos (e talvez até menos autorais) sobre os próprios caminhos.
Fiz ao longo da minha jornada algumas pausas. Uma parada estratégica no acostamento, que depois descobri que na realidade era mesmo um mirante, um lugar de observação, para recalcular a rota. E aprendi que parar não é retroceder, mas se reconectar com o que faz sentido.
Muitas pessoas me procuram para aquele cafezinho e compartilham histórias muito parecidas, este desejo de transição. Não necessariamente de carreira, mas de lógica. De ritmo. De propósito. E talvez você esteja dirigindo rápido demais para perceber o quanto gostaria de mudar de estrada. Porque a promessa de velocidade nos atrai. Mas também cobra um preço alto: esgotamento, perda de propósito, ou decisões apressadas que custam caro depois.
O mercado está em crise. E com ele, há também uma crise silenciosa de humanização. Estamos empilhando entregas, metas e dashboards, mas deixando o nosso próprio GPS interno sem bateria. E isso cobra um preço: burnout, desconexão das pessoas, esgotamento coletivo. Neste momento, parar é revolucionário. E oferecer ou pedir uma carona pode ser o gesto de liderança mais humano e eficaz que existe. Já pensou em incluir nos seus indicadores mensais pelo menos uma métrica qualitativa ligada a clima, escuta ou bem-estar? Afinal, se só medimos o que entregamos, deixamos de valorizar o que sustenta as entregas.
E agora, talvez o melhor que possamos fazer por nós e também pelos outros seja olhar a rota com mais intenção. Então que tal fazer um check-in de rota a cada trimestre, perguntando a si mesmo: O que me move? O que estou perseguindo? É algo que faz sentido agora, ou é um objetivo herdado de um “eu” antigo? Quais paradas eu deveria planejar para recuperar energia e perspectiva?
Redesenhe seus trajetos. Aceite desvios. Crie novas paradas. Ofereça (ou aceite) mais caronas pelo caminho. E lembre-se: todo sistema de navegação pode sugerir um atalho. Mas vale se questionar, por que tanta pressa?