Uncategorized

Você deve terceirizar o analytics?

De acordo com estudo, transferir a atividade de analytics para um fornecedor externo ou empresa offshore pode trazer ganhos, mas requer uma cuidadosa avaliação dos resultados esperados e das incumbências de cada parte
O estudo é de David Fogarty e Peter C. Bell, respectivamente pesquisador da University of Liverpool, Inglaterra, e professor de administração na Ivey Business School, da Western University, de London, Canadá.

Compartilhar:

O interesse pelo big data está levando a uma demanda crescente por profissionais especializados em análise de dados, conceito que vem sendo popularizado, em inglês, como “analytics”. O uso da capacidade analítica para entender o consumidor, o mercado, as oportunidades e as ameaças ao negócio pode proporcionar mais eficiência e competitividade a qualquer organização, aumentando receitas e reduzindo custos. 

No entanto, o que as empresas vêm descobrindo é que não é muito fácil montar internamente uma equipe para a tarefa da análise. Nem todas as companhias conseguem ter dentro de casa o conhecimento e a experiência necessários para compor o time e, se quiserem trazê-los agora, pode ser difícil contratar tais talentos, pois o mercado para os profissionais da área se aqueceu. 

Conforme a revista Fortune, “os anúncios de busca de especialistas em análises de dados aumentaram 46% desde abril de 2011 –se contarmos desde abril de 2009, essa variação sobe para 246%”. Assim, a escassez de analistas, em especial os capazes de desenvolver e de comandar equipes capacitadas e de contribuir para a criação de vantagens competitivas com base em dados e análises próprios, tem levado muitas organizações a considerar a opção de terceirizar sua área de analytics. Várias empresas do ranking das 500 maiores da Fortune já estão terceirizando essa operação offshore, em companhias sediadas em mercados emergentes. 

A tendência representa uma enorme mudança: o analytics sempre foi a última atribuição que as empresas repassavam para fornecedoras terceirizadas. Além disso, não é fácil escolher o fornecedor e consolidar um relacionamento eficaz com ele a fim de garantir o objetivo esperado. 

**O QUE JÁ FOI APRENDIDO**

Ainda não existem pesquisas sobre a terceirização de analytics em escala. Mas a vasta literatura sobre terceirização de tecnologia da informação (TI) nos oferece algumas lições. Entre os resultados das pesquisas conhecidas na área de TI, destacam-se indicadores de que, em um mercado em transformação veloz (como é o caso do de big data agora), o offshoring permite aumentar a flexibilidade ao transformar custos fixos em variáveis. 

De outro lado, os pesquisadores apontam que o êxito em uma parceria tecnológica desse tipo depende de fatores como a distância geográfica entre os hubs onshore e offshore, a infraestrutura e a conectividade, a linguagem adequada e as habilidades técnicas, além do planejamento correto –os potenciais contratantes precisam se dedicar a uma pesquisa detalhada das terceirizadas a serem contratadas. E os gestores devem estar prontos a transmitir informações importantes a essas terceirizadas. 

Mostra-se igualmente fundamental, segundo as pesquisas envolvendo TI, que a contratante identifique as habilidades essenciais de TI existentes dentro de casa e que aspectos espera melhorar por meio da parceria com um fornecedor offshore. Assim, ela tomará o crucial cuidado com a própria expertise e com a propriedade intelectual envolvida. 

**O QUE É PRECISO APRENDER**

As lições obtidas com a terceirização de TI podem ajudar a decidir sobre a terceirização do analytics porque as decisões que envolvem propriedade intelectual e acesso têm caráter semelhante nos dois casos. Mas outros assuntos importantes para analytics não pesam tanto em TI, como: 

**• Se as empresas podem criar vantagem competitiva de longo prazo com base na análise interna de dados, qual pode ser o papel de terceirizadas na criação e manutenção desse tipo de vantagem?**

**• Algumas companhias já contam com capacidade analítica interna de alta qualidade, enquanto outras ingressam na atividade. Será que essas organizações deveriam abordar o outsourcing ou o offshoring de maneiras distintas?**

Para começar a responder a essas duas questões, nós fizemos nossa própria pesquisa, de ordem qualitativa. Investigamos oito empresas, sendo quatro multinacionais que usavam uma ou mais terceirizadas de analytics fora de seu país e também quatro terceirizadas instaladas na Índia. Ainda dividimos as multinacionais contratantes em dois subgrupos: as que demonstraram habilidades que definimos como f “superiores em analytics” e as consideradas “vulneráveis em analytics”. Para chegar a essas classificações, levamos em conta a forma de gestão dos dados, a sofisticação da capacidade analítica, a contratação e gestão de talentos, e o grau de incorporação dessas análises às estratégias do negócio central. A seguir, compartilhamos as principais descobertas de nosso estudo, aqui organizadas conforme os três grupos de empresas pesquisados: 

**• Vulneráveis em analytics**

As empresas vulneráveis em analytics declaram ver em fornecedoras externas da área sobretudo uma forma de obter os recursos e o treinamento necessários para gerir e executar suas análises de dados e também um meio de garantir acesso rápido a insights valiosos. Um executivo desse grupo deixou clara, contudo, a motivação por trás disso: “Poderíamos conseguir o mesmo investindo em uma equipe dentro de casa, porém isso custaria caro. E seria difícil convencer os outros a investir sem saber com precisão quais serão os ganhos futuros”. As empresas vulneráveis em analytics reconhecem sua deficiência na análise de dados e a dificuldade de criar estrutura interna adequada –elas têm unidades de negócios em mercados nos quais é difícil encontrar profissionais com a capacidade necessária. 

Assim, embora julguem arriscada a transferência da capacidade analítica para uma terceirizada offshore, identificam aí a possibilidade de obter os recursos e o treinamento para suas equipes internas. A terceirização acaba sendo encarada por elas como forma de obter vantagens sobre a concorrência. 

Como essas empresas fazem a seleção do fornecedor? Baseiam-se nas habilidades específicas, no conhecimento técnico essencial e no porte –quanto maior, melhor. No entanto, um dos executivos de uma empresa contratante fez um contraponto: “Algumas das maiores terceirizadas oferecem serviço de baixa qualidade e pouca inovação, e algumas das menores, associadas a setores específicos, detêm habilidades e conhecimentos únicos e podem agregar valor”. De certo modo, entre as empresas vulneráveis em analytics, a escolha entre solução dentro de casa e a contratação externa deixou de ser um dilema. Mas identificamos conflitos –ainda que poucos– sobre propriedade intelectual. Esse fator é apontado como possível fonte de tensão entre as empresas vulneráveis em analytics e as terceirizadas offshore. O que ocorre é que as terceirizadas que conseguiram estruturar um relacionamento de sucesso com suas clientes sentem-se motivadas a oferecer o conhecimento adquirido ao mercado [o que pode beneficiar, ainda que indiretamente, concorrentes das clientes], e aí surge o incômodo. 

**• Superiores em analytics**

Diferentemente das empresas vulneráveis em analytics, em geral satisfeitas em terceirizar suas demandas, as superiores em analytics parecem dispostas a ampliar sua capacidade interna. Normalmente, elas recorrem a terceirizadas offshore para as análises superficiais, como o registro de tarefas automatizadas, e não pensam em terceirizar totalmente a operação. Um executivo evidenciou o conflito: “Temos de desenvolver propriedade intelectual e capacidade de análise próprias, porque é o que nossa concorrência faz. Quem detém mais capacidade analítica pode ganhar maior participação no mercado e mais eficiência. Não podemos terceirizar porque se trata de um elemento essencial para a competitividade”. Ele admitiu, contudo, que “contar com parceiros externos no básico vale a pena, porque ajuda na análise ampla e libera nossos analistas internos para se concentrarem em aspectos mais avançados”. O executivo de uma empresa superior em analytics contou que ele e alguns colegas conseguiram identificar as melhores práticas no relacionamento com uma terceirizada offshore, possíveis de serem implantadas em todas as fornecedoras de analytics: ser mais internacional, reunindo profissionais locais e outros de perfil global; ter surgido de grandes empresas; combinar traços da cultura original com práticas mais inovadoras; ter unidades distribuídas internacionalmente. 

**• Terceirizadas**

Alguns executivos de terceirizadas reclamam que seu conhecimento não é utilizado de maneira plena pelas clientes empresariais: creem que, se as clientes tivessem capacidade analítica interna mais avançada, poderiam prestar-lhes serviços mais sofisticados. Essas terceirizadas não parecem considerar a possibilidade de que, para as empresas clientes, a análise de dados interna pode ser tida como propriedade intelectual não disseminável. Os executivos das terceirizadas admitem a falta de conhecimento para lidar com a questão da propriedade intelectual, embora os gestores das empresas vulneráveis em analytics demonstrem, por exemplo, disposição de compartilhar propriedade intelectual com seus fornecedores. 

Do ponto de vista das terceirizadas, a atuação em setores diversos constitui uma experiência vantajosa, que acentua o valor do serviço fornecido à empresa que já é cliente. As terceirizadas reclamam que as multinacionais lhes dispensam o tratamento de fornecedores convencionais, buscando um serviço genérico pelo menor custo, e que encaram os projetos como uma tarefa isolada, sem espírito de parceria e de integração com uma estratégia maior –mesmo reconhecendo que seria vantajosa uma parceria mais próxima. Os executivos das multinacionais confirmam que fazem isso. 

> **Analisar é complexo, mas, no Brasil, terceirizar é tabu** 
>
> O Brasil acompanha bem de perto o que acontece no mundo do big data, mas está em um estágio inicial de desenvolvimento e tem muito o que aprender. O fato é que nossas empresas não estão preparadas para processar rapidamente os dados coletados interna e externamente, uma vez que é vertiginoso o crescimento deles, e, ao mesmo tempo, ainda é um tabu para elas colocar suas bases de dados para processamento em ambientes externos. 
>
> O volume e a complexidade das informações correntes –vivemos na era do excesso de informações– talvez não permitam que essa defasagem se sustente por muito tempo, contudo. Dados do eBit mostram que o comércio eletrônico no Brasil cresceu 28% em 2013, em comparação a 2012, quando a expectativa era de 25%, o que já seria um salto enorme. Só em 29 de novembro de 2013, a promoção conhecida como Black Friday movimentou R$ 770 milhões, quebrando todos os recordes e expectativas de movimentação em um só dia. 
>
> Além do avanço das plataformas de internet, cada dia mais disponíveis, da popularização da banda larga, do acesso crescente das classes C e D às redes digitais e do fato recente de os smartphones ultrapassarem a televisão como meio prioritário de acesso (conforme pesquisa da Millward Brown), há o fenômeno de que 34% dos brasileiros acessam duas telas simultaneamente e que o conteúdo relacionado é consumido por 36% da audiência, com maior simultaneidade entre a TV e o smartphone. Diante desse crescimento exponencial dos dados, é natural sentirmos certa intoxicação e até imobilismo. Não bastasse isso, muitas empresas ainda não compreendem muito bem os benefícios do uso do CRM, achando que é uma plataforma tecnológica em vez de uma filosofia de atuação. 
>
> A situação piora com o Social CRM (SCRM), que inclui todas as conexões na conta e ainda não foi bem entendido nem por quem domina o CRM. Como tirar proveito mercadológico das informações quando, somente em 2013, entraram 9,1 milhões de novos consumidores online e quando a previsão para 2014 é que haja crescimento de mais 20%? As empresas precisam de maior velocidade de captura de dados extremamente dinâmicos e de processamento, de pensamento estratégico sobre eles, de CRM, de SCRM. Elas devem terceirizar o analytics? Muitas estão terceirizando, já que o setor está movimentando cada vez mais dinheiro. Levantamento do Frost&Sullivan indica que o big data e o analytics representaram, em 2013, US$ 243,6 milhões no mundo, e a expectativa é que, já em 2018, esse valor suba para US$ 965 milhões. Sobram dúvidas em relação à propriedade intelectual, à posse mercadológica dos dados etc. Algumas companhias brasileiras preferem manter internamente sua capacidade analítica, outras a terceirizam, mas a maioria ainda está por enfrentar o dilema entre manter internamente e terceirizar o analytics na escala do big data. Talvez essa situação seja vista como uma adversidade por nossos gestores, mas, sem dúvida alguma, também constitui uma oportunidade. 
>
> _Por Carlos Piazza, professor da HSM especializado em marketing de relacionamento e experiências, CRM e SCRM, além de consultor. Foi executivo por muitos anos._

> **Se for terceirizar, responda a 6 perguntas essenciais**
>
> A terceirização da análise de dados exige a construção de um relacionamento consistente que, para prosperar, precisa de clareza quanto a: atribuições de cada parte, extensão da propriedade e possibilidades de uso da informação. Para definir esses aspectos, é preciso perguntar: 
>
> 1. Quais são as habilidades únicas que uma terceirizada pode oferecer a sua empresa, que justifiquem a escolha dessa terceirizada em vez de outra e que compensem mais do que investir em uma solução in-house? 
>
> 2. Quais processos exigem atenção especial no que se refere à produção intelectual? 
>
> 3. Quais as medidas de proteção para a confidencialidade, integridade e segurança dos dados da terceirizada? 
>
> 4. Qual é a taxa de rotatividade dos analistas da terceirizada? Sua empresa tem acesso a medidas de aferição da satisfação dos colaboradores, como o envolvimento da equipe? 
>
> 5. É possível contar com analistas da terceirizada dedicados exclusivamente a sua empresa? É possível prever em contrato a possibilidade de incorporar alguns recursos após determinado prazo? 
>
> 6. Como é a cultura da terceirizada? Como ela pode tornar a parceria produtiva?

**COMO MELHORAR**

Queríamos saber se, no caso de uma empresa optar pela terceirização de sua capacidade analítica, como a terceirizada poderia contribuir mais para seu negócio como um todo. Então, aprofundamos a pesquisa com uma das companhias superiores em analytics e uma das vulneráveis, perguntando-lhes sobre isso e sobre o que impediria uma relação mais estreita. O executivo da empresa superior respondeu que buscava mais inovação e queixou-se: “Todas essas empresas de analytics dizem querer ser mais inovadoras, mas não vejo isso na prática”. Ele também demonstrou que gostaria de ter mais segurança em relação a eventuais fusões e aquisições da terceirizada, algo que poderia fazê-la unir-se a algum negócio concorrente. O gestor da empresa vulnerável em analytics afirmou que quer continuar a reduzir custos, mas sem perder o crédito pelo analytics.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança na gestão do mundo híbrido

Este modelo que nasceu da necessidade na pandemia agora impulsiona o engajamento, reduz custos e redefine a gestão. Para líderes, o desafio é alinhar flexibilidade, cultura organizacional e performance em um mercado cada vez mais dinâmico.

Data economy: Como a inteligência estratégica redefine a competitividade no século XXI

Na era digital, os dados emergem como o ativo mais estratégico, capaz de direcionar decisões, impulsionar inovações e assegurar vantagem competitiva. Transformar esse vasto volume de informações em valor concreto exige infraestrutura robusta, segurança aprimorada e governança ética, elementos essenciais para fortalecer a confiança e a sustentabilidade nos negócios.

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Estratégia e Execução, Carreira
Solicitar crédito sempre parece uma jornada difícil e, por isso, muitos ficam longe e acabam perdendo oportunidades de financiar seus negócios. Porém, há outros tipos de programas que podemos alçar a fim de conseguir essa ajuda e incentivo capital para o nosso negócio.
3 min de leitura
Liderança, Times e Cultura
Conheça os 6 princípios da Liderança Ágil que você precisa manter a atenção para garantir que as estratégias continuem condizentes com o propósito de sua organização.
3 min de leitura
Uncategorized
Há alguns anos, o modelo de capitalismo praticado no Brasil era saudado como um novo e promissor caminho para o mundo. Com os recentes desdobramentos e a mudança de cenário para a economia mundial, amplia-se a percepção de que o modelo precisa de ajustes que maximizem seus aspectos positivos e minimizem seus riscos

Sérgio Lazzarini

Gestão de Pessoas
Os resultados só chegam a partir das interações e das produções realizadas por pessoas. A estreia da coluna de Karen Monterlei, CEO da Humanecer, chega com provocações intergeracionais e perspectivas tomadas como normais.

Karen Monterlei

Liderança, times e cultura, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
Entenda como utilizar a metodologia DISC em quatro pontos e cuidados que você deve tomar no uso deste assessment tão popular nos dias de hoje.

Valéria Pimenta

Inovação
Os Jogos Olímpicos de 2024 acabaram, mas aprendizados do esporte podem ser aplicados à inovação organizacional. Sonhar, planejar, priorizar e ter resiliência para transformar metas em realidade, são pontos que o colunista da HSM Management, Rafael Ferrari, nos traz para alcançar resultados de alto impacto.

Rafael Ferrari

6 min de leitura
Liderança, times e cultura, ESG
Conheça as 4 skills para reforçar sua liderança, a partir das reflexões de Fabiana Ramos, CEO da Pine PR.

Fabiana Ramos

ESG, Empreendedorismo, Transformação Digital
Com a onda de mudanças de datas e festivais sendo cancelados, é hora de repensar se os festivais como conhecemos perdurarão mais tempo ou terão que se reinventar.

Daniela Klaiman

ESG, Inteligência artificial e gestão, Diversidade, Diversidade
Racismo algorítimico deve ser sempre lembrado na medida em que estamos depositando nossa confiança na inteligência artificial. Você já pensou sobre esta necessidade neste futuro próximo?

Dilma Campos