Em 2018, recebi o convite mais desafiador da minha carreira de palestrante: contar, durante a segunda edição do evento *DisruptHR* aqui no Brasil, uma história em cinco minutos usando apenas 20 imagens que passariam automaticamente a cada 15 segundos.
Desafio aceito, criei uma fábula sobre um marciano que estava cansado de só conviver com gente que se parecia com ele. Ao descobrir num noticiário intergaláctico que o Brasil era o país mais miscigenado do mundo, meu personagem resolve vir fazer um intercâmbio por aqui para aprender sobre inclusão e diversidade conosco.
## O encontro com a realidade
Na narrativa que construí, meu querido marciano vai morar com uma família típica paulistana, de classe média alta, num condomínio de luxo. Ao longo da breve história, ele vai descobrindo que nós, brasileiros, somos mestres em sustentar um discurso incongruente com nossas atitudes e nossa prática.
Pregamos a [igualdade](https://revistahsm.com.br/post/diversidade-e-inclusao-em-pauta-na-pandemia), mas somos um dos países mais socialmente desiguais do mundo. E, acredite, há entre nós empresários que dizem em programas de TV que “ainda bem que temos desigualdade, senão o planeta não aguentaria…”
Negamos nosso machismo estrutural, mas uma parcela significativa dos homens brasileiros, independente de classe social, segue usando seu lugar de poder para assediar funcionárias ou colegas, como praticado por um deputado estadual de São Paulo, em plena sessão da Assembleia Legislativa.
Outros milhares de nossos homens continuam violentando e assassinando suas esposas, companheiras ou namoradas, pelo simples fato delas serem mulheres das quais eles se consideram donos. Como fez o engenheiro que matou a ex-mulher, juíza, na véspera do Natal, com 16 facadas, na frente das três filhas pequenas.
## Injustiças no “mundo da ervilha”
Não admitimos nosso [racismo estrutural](https://revistahsm.com.br/post/negros-empoderamento-e-o-mercado-de-trabalho) e continuamos excluindo, violentando e matando pessoas que representam 56% da nossa população porque elas são pretas. E, quando uma empresa brasileira resolve fazer um programa de recrutamento de futuros líderes, exclusivamente negros, para trazer a devida e justa equidade racial para o seu time, nossa elite corporativa branca surta com “tamanha ousadia e injustiça”.
Somos o país que mais assassina pessoas LGBTQIA+ e, paradoxalmente, os líderes no consumo de pornografia trans no mundo. Nossa hipocrisia é ilimitada.
Quanto mais socialmente bem-sucedidos somos, mais homofílicos e excludentes nos tornamos. Só convivemos, confiamos e respeitamos pessoas que se parecem conosco, têm o mesmo “nível”, a mesma formação, o mesmo repertório, as mesmas experiências.
Toda essa estrutura nos faz acreditar e afirmar, categoricamente, que “o mundo é uma ervilha” já que vivemos nos esbarrando nas mesmas pessoas nas esquinas e quadriláteros privilegiados por onde andamos. Não, cara pálida, o mundo não é uma ervilha. Como diz uma querida amiga, “o PIB é que é concentrado”.
## Protagonistas da transformação
Agora, se o seu mundo é uma ervilha, está na hora de você diversificar sua turma, suas relações, experiências, gostos, hábitos, conversas, leituras, consumo de conteúdo e maneiras de se construir o aprendizado. Ou você acha que vai aparecer o Aladdin ou uma fada madrinha para, num passe de mágica, te transformar numa pessoa inclusiva, que promove a diversidade à sua volta?
Você não pode ser aquilo que não conhece. E, como eu já disse aqui, [no meu primeiro artigo,](https://www.revistahsm.com.br/post/voce-se-considera-uma-pessoa-lider) líder é a pessoa que você é. Sem diversidade na sua vida, você nunca terá conhecimento de causa. Muito menos inspirará ou representará a #justacausa da diversidade, equidade e inclusão.
Aproveita esse primeiro ano do resto de nossas vidas e vai à luta! [Você pode fazer diferente](https://www.revistahsm.com.br/post/viva-os-aprendizados-de-2020). E fazer a diferença. Se quiser, com vontade e coragem.