Artigo – Planejamento de carreira

Você se lembrou de planejar sua marca pessoal?

Um dos maiores desafios em relação a planejamento de carreira é o que está sendo enfrentado por profissionais maduros (40+), de todos os níveis. Eles precisam saber fazer um rebranding de si
__Leandro Herculano__ é sócio-diretor da Elementar Reputação Digital, assessoria que apoia profissionais e empresas no posicionamento de marcas pessoais e projetos de employer branding e conselheiro TrendsInnovation certificado.

Compartilhar:

Nos últimos anos, a discussão sobre carreiras de profissionais experientes ficou quente. Muito quente. Não apenas pelas novas regras de aposentadoria que mudam nossas perspectivas já no curto prazo, mas por vários estudos que apontam o comportamento dos atuais sessentões como os novos trinta. A tendência apresentada pela Inova Consulting, por exemplo, é que até 2030 a expectativa de vida chegue a 120 anos (potencialmente). Ou seja, os antigos aposentados estarão em plena atividade e representarão a maioria populacional do planeta.

Hoje, física e mentalmente mais saudáveis e mais conectados, esses profissionais apresentam um “portfólio de vida” invejável e estão aptos para concorrer no mercado de trabalho em todas as posições. Mas isso requer um novo paradigma de narrativa profissional e de nova construção de marca pessoal. Os 40+ atuais estão estabelecendo os novos modelos de branding pessoal que os atuais jovens usarão amanhã.

No entanto, assumir uma exposição pública de suas experiências, crenças e valores ainda não é algo natural para esses profissionais – ao contrário da geração Z, para quem é natural fluir pelas diferentes redes. Isso torna ainda mais desafiador, para a maioria dos 40+, iniciar um movimento de recalibrar e planejar o futuro. A começar por quebrar o paradigma de que sucesso e estabilidade se lastreiam na supervalorização do ensino acadêmico formal e da profissão escolhida.

Junto com a dificuldade de “desaprender” o velho desenho de carreira socialmente aceita – faculdade-emprego-especializações-crescimento profissional cristalizado em cargos de liderança ou em carreira Y –, ainda é preciso lidar com o preconceito; no caso, a mentalidade etarista ainda presente na sociedade e nas organizações.

Frente a isso, por que incluir agora um plano de marca pessoal como estratégia de carreira? Primeiro porque o universo do trabalho está mudando radicalmente. Já convivemos com planos de carreiras W ou carreiras slash fazendo parte do nosso dia a dia. A economia prateada também ganha fôlego, com novos empreendimentos focados em um público vasto e exigente, formado por pessoas com tempo, recursos e vontade de descobrir e experimentar coisas novas. E que vão se identificar com profissionais com jornadas similares às suas.

Tal conexão depende de apresentar sua narrativa, elaborada não apenas para as redes sociais, como também para suas conexões profissionais.

## All-line, extimidade, aprendiz “LLL”
A (re)construção da marca pessoal pode e deve ser planejada. A seguir, alguns caminhos que podem ser adotados para fazer isso com sucesso.

– __Invista em conexões ativas em comunidades, on e offline__. Ajuda a aumentar o seu reconhecimento como autoridade em determinado assunto e permite a exposição do seu portfólio de vida, construído ao longo da carreira, aumentando assim sua mobilidade.

– __Aproveite novos formatos flexíveis de trabalho__, com remunerações por hora, por projeto e muitas vezes pro-bono, como oportunidade para ganhar conhecimento sobre segmentos que interessam (sem esquecer de divulgar em suas redes os resultados alcançados).

– __Trabalhe seus perfis nas redes sociais de forma estratégica e consistente__. Passamos a ser figuras “all-line”, não sendo mais possível separar o posicionamento nas redes daquilo que você vive fora dela. Entenda que a extimidade (de forma simplificada, expor a nossa intimidade) como uma forma de fortalecer a relação com um determinado público pode ser interessante.

– __Repense o formato de seus aprendizados__: o modo de vida de um aprendiz do tipo “lifelong learner” (LLL) passa pelo design instrucional pessoal, alternando as formações acadêmicas tradicionais com ciclos mais curtos – de cursos, leituras, fóruns e trilhas adaptáveis para adquirir novas habilidades e conhecimento muitas vezes acompanhados por mentores, individualizando o aprendizado sobre temas específicos.

É IMPORTANTE CONSIDERAR QUE SUA MARCA PESSOAL ESTÁ LIGADA AOS SEUS PROPÓSITOS E VALORES. Pode parecer uma conversa de modinha para quem tem fios brancos na cabeça. Mas é para valer, muito mais do que você pode imaginar. Por isso, apresente uma mensagem adequada, nos canais certos, para ganhar a representatividade com foco naquilo que você deseja para o futuro.

As tendências são ensurdecedoras
As exigências das novas dinâmicas do atual zeitgeist geram o sentimento de exclusão na geração X

Nos cenários com que trabalhamos, a maioria das profissões do futuro ainda não existem, mas já demandam novas competências dos profissionais de hoje. Não é raro nos depararmos com alguma manchete ou estudo de tendências que logo poderemos ter um emprego como “curador de acervo digital pessoal” ou “alfaiate/designer de avatares”, entre outros. Para a geração X, essa dinâmica gera um certo sentimento de exclusão.

Em uma perspectiva ainda mais próxima, o relatório The Future of Jobs 2020 do Fórum Econômico Mundial indicou que é esperado que as pessoas que vão ocupar cargos de liderança tenham entre suas principais habilidades o pensamento crítico e de análise; a capacidade para resolução de problemas complexos; habilidades de autogestão, com destaque para o aprendizado ativo; resiliência; tolerância ao estresse; e flexibilidade, isso como reflexo direto da recém-superada pandemia de covid. O relatório ainda diz que as organizações estimam que cerca de 40% dos trabalhadores precisarão ser requalificados e 94% dos líderes têm a expectativa de que os funcionários obtenham novas habilidades no trabalho.

Com o aumento significativo do trabalho remoto, temas como produtividade, equilíbrio e bem-estar começam a fazer parte do novo momento, exigindo uma grande adaptação para quem tinha a presencialidade como pilar para o desenvolvimento de cultura organizacional. É clara a tentativa de criação de senso de comunidade por parte das empresas, estimulando conexões ativas em ambientes virtuais, o que também gera preocupações, ansiedade e dificuldades de pertencimento para os que iniciaram suas carreiras na década de 1980.

(Leandro Herculano)

Artigo publicado na HSM Management nº 155

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Cultura organizacional, Empreendedorismo
A ilusão da disponibilidade: como a pressão por respostas imediatas e a sensação de conexão contínua prejudicam a produtividade e o bem-estar nas equipes, além de minar a inovação nas organizações modernas.

Dorly

6 min de leitura
ESG
No texto deste mês do colunista Djalma Scartezini, o COO da Egalite escreve sobre os desafios profundos, tanto à saúde mental quanto à produtividade no trabalho, que a dor crônica proporciona. Destacando que empresas e gestores precisam adotar políticas de inclusão que levem em conta as limitações físicas e os altos custos associados ao tratamento, garantindo uma verdadeira equidade no ambiente corporativo.

Djalma Scartezini

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A adoção de políticas de compliance que integram diretrizes claras de inclusão e equidade racial é fundamental para garantir práticas empresariais que vão além do discurso, criando um ambiente corporativo verdadeiramente inclusivo, transparente e em conformidade com a legislação vigente.

Beatriz da Silveira

4 min de leitura
Inovação, Empreendedorismo
Linhas de financiamento para inovação podem ser uma ferramenta essencial para impulsionar o crescimento das empresas sem comprometer sua saúde financeira, especialmente quando associadas a projetos que trazem eficiência, competitividade e pioneirismo ao setor

Eline Casasola

4 min de leitura
Transformação Digital, Estratégia
Este texto é uma aula de Alan Souza, afinal, é preciso construir espaços saudáveis e que sejam possíveis para que a transformação ocorra. Aproveite a leitura!

Alan Souza

4 min de leitura
Liderança
como as virtudes de criatividade e eficiência, adaptabilidade e determinação, além da autorresponsabilidade, sensibilidade, generosidade e vulnerabilidade podem coexistir em um líder?

Lilian Cruz

4 min de leitura
Gestão de Pessoas, Liderança
As novas gerações estão redefinindo o conceito de sucesso no trabalho, priorizando propósito, bem-estar e flexibilidade, enquanto muitas empresas ainda lutam para se adaptar a essa mudança cultural profunda.

Daniel Campos Neto

4 min de leitura
ESG, Empreendedorismo
31/07/2024
O que as empresas podem fazer pelo meio ambiente e para colocar a sustentabilidade no centro da estratégia

Paula Nigro

3 min de leitura
ESG
Exercer a democracia cada vez mais se trata também de se impor na limitação de ideias que não façam sentido para um estado democrático por direito. Precisamos ser mais críticos e tomar cuidado com aquilo que buscamos para nos representar.
3 min de leitura