Empreendedorismo

Voluntariado empresarial em tempos de pandemia

O trabalho voluntário se tornou ainda mais importante e desafiador em 2020, com os avanços da Covid-19 no Brasil. Com o distanciamento sendo um dos principais impositivos causados pela pandemia do novo coronavírus, as empresas tiveram que adaptar várias ações e estratégias como, por exemplo, o voluntariado empresarial.
Diretor da MGN

Compartilhar:

Segundo Marcelo Nonohay, especialista em voluntariado corporativo e diretor da MGN – empresa especializada em gestão de projetos para transformação social, assim que a pandemia começou, a primeira reação de algumas organizações foi colocar certos projetos em pausa, mas, quando as pessoas começaram a entender os impactos econômicos e sociais que viriam com ela, houve um momento de busca de ideias para viabilizar o voluntariado remoto.

Na entrevista a seguir, Nonohay fala sobre como a pandemia mudou a forma como as pessoas se dedicam ao trabalho voluntário, as dificuldades que as empresas enfrentaram para aderir ao voluntariado à distância, quais os benefícios dessas ações, entre outras coisas. Confira:

**Você acredita que a pandemia mudou a forma como as pessoas se dedicam ao voluntariado? Como o tema será tratado no futuro?**

Como em muitos outros aspectos da vida, a pandemia acelerou algumas tendências que já vinham despontando há anos, mas de alguma forma ainda não haviam sido plenamente abraçadas. No caso do voluntariado, estamos falando das ações de voluntariado online. Realizar ações à distância usando o poder e conveniência das tecnologias de informação e comunicação já era algo muito falado no meio e priorizado pelo Programa de Voluntários das Nações Unidas. Parece, no entanto, que as pessoas que se sentiam motivadas a dedicar seu tempo e trabalho por causas de interesse social ainda priorizavam o contato e as ações presenciais. 

Por outro lado, a pandemia também serviu como um catalisador de atitudes solidárias no Brasil e no mundo em geral. Isso fez com que houvesse um registro recorde de ações de filantropia e, junto disso, o voluntariado. Acredito que o futuro tem boas perspectivas, pelo fato das pessoas estarem mais abertas a novas modalidades de voluntariado, porém também traz grandes desafios, pois eu temo que a vida volte àquilo que considerávamos normal. Isso serve para lembrar que o que considerávamos “normal” antes era conviver com uma das maiores desigualdades do planeta, baixas taxas de voluntariado e uma cultura de doação ainda carente de muito desenvolvimento.

**Como as empresas conseguiram viabilizar o voluntariado remoto? Quais foram as dificuldades? Essa será a tendência daqui em diante?**

Tivemos um ano de muitas dúvidas: Como fazer ações de voluntariado remoto? Como chegar nos públicos beneficiados? Como engajar e ensinar voluntários a atuarem remotamente? A principal aliada como meio para realizar ações remotas foi a internet, sem dúvidas. Mas é um mito pensar que a internet resolve tudo, pois os voluntários até podem ter facilidade para se conectar, mas nem sempre os públicos de interesse têm boas conexões e equipamentos. Basta ver as dificuldades enfrentadas pelas redes de educação para garantir uma oferta de ensino à distância. Para superar as barreiras tecnológicas, é preciso pensar em formas de facilitar o acesso das pessoas e buscar parceiros nos territórios, sob pena de se ter uma oferta de voluntariado que exclui justamente os público mais vulneráveis.

Ainda que novos processos possam surgir do uso da tecnologia, uma velha prática teve a sua importância enfatizada durante a pandemia: a escuta dos públicos beneficiados. A mudança nas necessidades urgentes das Organizações Sociais e das pessoas nas comunidades foi muito rápida. Fazer um bom diagnóstico foi a chave para criar ações de voluntariado remoto que fossem efetivas e significativas.

Para o futuro, acredito que as empresas estarão mais abertas a seguir explorando o voluntariado remoto e isso pode trazer três benefícios muito interessantes: (1) aumento do engajamento de pessoas que preferem a conveniência do voluntariado remoto e não participam das modalidades presenciais; (2) ganhos de escala nos custos dos programas de voluntariado empresarial – fazer mais com o mesmo orçamento; (3) e a possibilidade de distribuir geograficamente as possibilidades de impacto social das ações de voluntariado das empresas, quebrando a lógica de atender exclusivamente as áreas de influência diretas das operações.

**O que a manutenção das ações voluntárias por parte das empresas durante esse tempo de quarentena sinaliza para os colaboradores e para a sociedade?**

A manutenção das ações de voluntariado sinaliza para a sociedade que a empresa está se juntando aos esforços para minimizar os impactos da COVID-19. Além disso, internamente, a manutenção do programa de voluntariado ajuda a criar uma pauta positiva para os colaboradores, atuando sobre o clima organizacional e employer branding. Acima de tudo, manter iniciativas como o voluntariado empresarial, mesmo em meio a uma crise sanitária e econômica, é uma forma prática de uma organização reafirmar os seus valores para o mercado.

**Como obter sucesso em um programa de voluntariado empresarial? Como estimular a participação dos times?**

Em grandes linhas, a fórmula para o sucesso continua sendo a mesma: estruturar um programa com políticas claras e com um propósito que faça sentido para o negócio e para a sociedade, um planejamento sólido e realista, muita comunicação interna e engajamento de lideranças.

**Pela sua experiência, o que mais motiva as empresas a aderir ao trabalho voluntário?**

Eu já vi programas nascendo de diversas formas e tendo ênfase em diferentes objetivos. Do ponto de vista das principais lideranças das empresas, o que vejo em comum é uma consciência de que uma empresa que queira ser referência, que queira ser líder de mercado, que queira ter uma marca global, precisa demonstrar um compromisso com as comunidades onde atua e se aliar a causas que promovam uma verdadeira transformação social. Quando esse compromisso não é genuíno entre os líderes das organizações, vemos programas de voluntariado que vão e vem, mas que não se sustentam no longo prazo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança
As tendências de liderança para 2025 exigem adaptação, inovação e um olhar humano. Em um cenário de transformação acelerada, líderes precisam equilibrar tecnologia e pessoas, promovendo colaboração, inclusão e resiliência para construir o futuro.

Maria Augusta Orofino

4 min de leitura
Finanças
Programas como Finep, Embrapii e a Plataforma Inovação para a Indústria demonstram como a captação de recursos não apenas viabiliza projetos, mas também estimula a colaboração interinstitucional, reduz riscos e fortalece o ecossistema de inovação. Esse modelo de cocriação, aliado ao suporte financeiro, acelera a transformação de ideias em soluções aplicáveis, promovendo um mercado mais dinâmico e competitivo.

Eline Casasola

4 min de leitura
Empreendedorismo
No mundo corporativo, insistir em abordagens tradicionais pode ser como buscar manualmente uma agulha no palheiro — ineficiente e lento. Mas e se, em vez de procurar, queimássemos o palheiro? Empresas como Slack e IBM mostraram que inovação exige romper com estruturas ultrapassadas e abraçar mudanças radicais.

Lilian Cruz

5 min de leitura
ESG
Conheça as 8 habilidades necessárias para que o profissional sênior esteja em consonância com o conceito de trabalhabilidade

Cris Sabbag

6 min de leitura
ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura