Dossiê HSM

7 aceleradores

Não importa se você é gestor de fundos, investidor, executivo ou conselheiro de empresa. Encurtar a transição ao ESG lhe dará prontidão para o futuro e ajudará a tomar decisões melhores
Adriana Salles Gomes é diretora-editorial de HSM Management.

Compartilhar:

Em meados de 2019, Paul Polman, ex-CEO global da Unilever, pediu aos líderes empresariais globais que fossem suficientemente “heroicos” para ajudar a viabilizar uma economia livre de carbono e a reduzir desigualdades.
Temos novas ameaças virais à espreita, a crise climática bate no pescoço e se prevê todo um conjunto novo de problemas sociais. Dá tempo?
Bem, em 2020, companhias fizeram em cinco meses o que levariam cinco anos fazendo. Como diz Hugo Bethlem, do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB), a Covid-19 pode não ter sido um “game changer”, mas foi um “game accelerator”.

O heroísmo de poucos líderes não bastará, mas uma ação coordenada de mudança, talvez. Já há um MVP para observarmos e não são os EUA; é o Reino Unido. Faz quatro anos que, ainda sob o governo conservador de Theresa May, o regulador local começou a impor a agenda ESG aos investidores institucionais. As exigências aumentam, fundos de pensão e seguradoras se adaptam, empresas seguem o exemplo. E a Europa continental vai atrás.

O que ocorre se o Brasil não for a Europa amanhã, parodiando o velho anúncio? Fica sem dinheiro de longo prazo. Veja como sua empresa pode acelerar a própria agenda ESG e estar pronta para o que vier.

## Mais tecnologia e dados
1 – Não há como agilizar esforços ESG sem ajuda da tecnologia. Só equipes mistas de humanos e máquinas conseguirão coletar e analisar todos os dados de dentro da empresa, cruzá-los com todos os dados de seus stakeholders-
-chave, e recomendar como agir em relação a isso na direção dos 17 ODS. A tecnologia ainda facilita a criação de mecanismos para os stakeholders terem voz na supervisão e na tomada de decisões da empresa, o que é uma premissa ESG.
É fundamental, contudo, ter humanos atentos para evitar vieses do tipo antidiversidade nos algoritmos. Quem faz o alerta é Claudinei Elias, fundador e CEO da empresa de tecnologia e dados para gestão de governança e riscos Bravo GRC.

## Proximidade com as gerações mais jovens
2 – Os mais velhos, como baby-boomers e a geração X, sensibilizam-se relativamente pouco com as letras E, S e G. Os millennials (nascidos de 1980 até o fim dos anos 2000) são mais receptivos ao tema e os representantes da geração Z (de 1995 para cá) tendem a ser os grandes aliados dos líderes na causa da sustentabilidade, quando não os protagonistas do processo. Garantir funcionários, fornecedores e clientes nessa faixa etária é particularmente útil.
Como definiu uma pesquisa Box1824, os Z são “comunaholics”, ou seja, transitam por múltiplas comunidades, fazendo a conversa horizontal de que o ESG tanto precisa. Aliás, eles também são definidos como conversadores, conciliadores e avessos à polarização desmedida dos millennials.
Sendo a primeira geração que nunca viveu sem internet, os Z são hipercognitivos, usando a tecnologia e o conhecimento disponível para antecipar e corrigir problemas (previstos ou não) – o que costuma ser excelente para a atuação em ESG. E o maior encaixe de todos: na visão dos Z, as empresas têm de ser “radicalmente éticas”.

## Foco maior na cadeia de fornecimento
3 – Todos os stakeholders de uma empresa são importantes num esforço ESG, mas, para fazer as coisas andarem mais rápido, é preciso voltar-se para os fornecedores. Por duas razões: (1) são esses os relacionamentos que a maioria das empresas costuma negligenciar mais – é muito comum as contratações serem feitas com base somente no menor preço, por exemplo – e (2) fornecedores estão entre os pontos de maior vulnerabilidade de qualquer negócio, sobretudo na cada vez mais hegemônica arquitetura de ecossistema, em que a empresa se cerca de parceiros e terceirizados.
Reveja logo todos os seus fornecedores e garanta que tenham sido escolhidos, e sejam mantidos, com base na qualidade do serviço (SLA) e não no preço. Assegure que os prazos de pagamento praticados sejam dignos – algumas empresas levam meses para pagar. Construa com eles um modo de trabalhar colaborativo, e não o “eu pago, eu mando”. Lembre: não basta obrigar seu fornecedor a assinar o termo de compliance; tem de participar.

## CURIOSIDADE even over PROPÓSITO; CONVERSA even over CONTROLE
4 – Já falamos bastante neste Dossiê sobre os perfis das pessoas que trabalham num departamento de ESG. Mas há características que sobressaem em relação às demais, segundo especialistas ouvidos por HSM Management. Uma é a curiosidade, que faz uma pessoa correr atrás do aprendizado. Como a área é relativamente nova e está em constante mudança, profissionais curiosos são fundamentais, na visão de Elias. Mais que especialistas. Mais que gente com um propósito pessoal que esteja alinhado com a função. “ESG é muito mais importante do que abraçar árvore”, ele brinca. A outra qualidade de destaque é a capacidade de conversar, na visão de Bethlem, porque em ESG tudo é negociado, dentro e fora da empresa. Por isso, inclusive, a área de controle, com estatísticos nerds, não deve ser a protagonista do ESG.

## De baixo para cima, para um lado e para o outro
5 – Se tem uma lei que rege o mundo corporativo, é a lei da gravidade. O que vem de cima, determinado pela liderança, tem mais chance de ser realizado por todos. Mas algo que acelera a transição ao ESG é haver movimentos também de baixo para cima e lateralmente.
Cuide para que os funcionários sejam evangelizados em ESG – eles e, se possível, suas famílias. Esses colaboradores é que defenderão o ESG perante os colegas de outros departamentos, os stakeholders externos e seus superiores.

## ESG igual a RH E MARKETING
6 – Bethlem, do ICCB, faz uma conta curiosa: se o time de liderança de uma empresa for maior que o número de funcionários das áreas de sustentabilidade, RH e marketing, é um indicativo de que consciência não é o forte do pessoal. Essas três áreas são as que lidam com os principais stakeholders. E há uma lição adjunta a tirar dessa lógica: o departamento do ESG deveria ter status similar ao de RH e marketing – orçamento, reporte, recursos…

## Líderes conscientes e coerentes
7 – Um líder pode “nascer’ consciente ou tornar-se. O ICCB, por exemplo, faz uma certificação de líderes conscientes. Mas não é um curso que se possa comprar; o líder deve ser tornar elegível a ele, percorrendo toda uma jornada. Nem Larry Fink, do BlackRock, escapa da cobrança de coerência. Apesar de ser um defensor do ESG, Fink falha no G de governança, segundo os observadores, ao ocupar os cargos de CEO e chairman da sua empresa; ele acumula poder.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Gestão de Pessoas
Conheça o conceito de Inteligência Cultural e compreenda os três pilares que vão te ajudar a trazer clareza e compreensão para sua comunicação interpessoal (e talvez internacional)

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
Liderança
Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.

Athila Machado

6 min de leitura
Empreendedorismo
Após a pandemia, a Geração Z que ingressa no mercado de trabalho aderiu ao movimento do "quiet quitting", realizando apenas o mínimo necessário em seus empregos por falta de satisfação. Pesquisa da Mckinsey mostra que 25% da Geração Z se sentiram mais ansiosos no trabalho, quase o dobro das gerações anteriores. Ambientes tóxicos, falta de reconhecimento e não se sentirem valorizados são alguns dos principais motivos.

Samir Iásbeck

4 min de leitura
Empreendedorismo
Otimizar processos para gerar empregos de melhor qualidade e remuneração, desenvolver produtos e serviços acessíveis para a população de baixa renda e investir em tecnologias disruptivas que possibilitem a criação de novos modelos de negócios inclusivos são peças-chave nessa remontagem da sociedade no mundo

Hilton Menezes

4 min de leitura
Finanças
Em um mercado cada vez mais competitivo, a inovação se destaca como fator crucial para o crescimento empresarial. Porém, transformar ideias inovadoras em realidade requer compreender as principais fontes de fomento disponíveis no Brasil, como BNDES, FINEP e Embrapii, além de adotar uma abordagem estratégica na elaboração de projetos robustos.

Eline Casalosa

4 min de leitura
Empreendedorismo
A importância de uma cultura organizacional forte para atingir uma transformação de visão e valores reais dentro de uma empresa

Renata Baccarat

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Em meio aos mitos sobre IA no RH, empresas que proíbem seu uso enfrentam um paradoxo: funcionários já utilizam ferramentas como ChatGPT por conta própria. Casos práticos mostram que, quando bem implementada, a tecnologia revoluciona desde o onboarding até a gestão de performance.

Harold Schultz

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Diferente da avaliação anual tradicional, o modelo de feedback contínuo permite um fluxo constante de comunicação entre líderes e colaboradores, fortalecendo o aprendizado, o alinhamento de metas e a resposta rápida a mudanças.

Maria Augusta Orofino

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial, impulsionada pelo uso massivo e acessível, avança exponencialmente, destacando-se como uma ferramenta inclusiva e transformadora para o futuro da gestão de pessoas e dos negócios

Marcelo Nóbrega

4 min de leitura
Liderança
Ao promover autonomia e resultados, líderes se fortalecem, reduzindo estresse e superando o paternalismo para desenvolver equipes mais alinhadas, realizadas e eficazes.

Rubens Pimentel

3 min de leitura