Um dos efeitos mais evidentes da pandemia do novo coronavírus e do isolamento social tem sido a tão necessária aceleração da digitalização das empresas. Ou, como se convencionou dizer, o avanço da transformação digital.
Contudo, neste contexto, o uso cada vez mais intenso da tecnologia para intermediar as relações humanas evidência o iminente aumento da responsabilidade do exercício de uma liderança ainda mais humanizada.
Quando o futurista americano e cofundador da Singularity University, Raymond Kurzweil, correlacionou a tecnologia com as emoções e a espiritualidade, muitos tiveram dificuldade em tangibilizar quando e como iríamos viver tal conexão.
Se fizermos o exercício de olhar exemplos de lideranças políticas – linha de frente no combate ao inimigo invisível -, veremos que países liderados por mulheres têm mostrado resultados mais efetivos, como menor taxa de mortalidade, maior número de testes realizados e menor impacto social.
Existe um ponto aqui: o estilo de liderança feminina dinamarquesa, finlandesa, tailandesa, neozelandesa e alemã encontra nexo, justamente, em um discurso transparente e verdadeiro. A mensagem clara e direta para a população, inclusive (e especialmente) para as crianças, é um exemplo de preocupação latente com o presente e futuro.
No caso da Dinamarca, a primeira-ministra Mette Frederiksen fez um discurso dirigido às crianças de todo o país, explicando “por que não havia problema em sentir medo”.
Sermos verdadeiros, transparentes, empáticos e inclusivos, passando uma mensagem clara – mesmo que tenhamos que abordar temas densos como medo e morte – são características de uma liderança humanizada e que atribui elementos femininos ao seu equilíbrio e estilo de liderança. O principal elemento feminino que destaco aqui é o cuidado.
Exemplo masculino deste cuidado no exercício da liderança humanizada veio do presidente de Israel, Reuven Rivlin. Semanalmente, ele conta histórias para crianças, ao vivo, pelo Facebook e YouTube. A iniciativa, chamada de “Hora da história com o presidente Rivlin”, demonstra a preocupação deste estilo de liderança com, ao meu ver, o futuro da nossa sociedade.
Aqui vem meu paralelo: como podemos nos espelhar nestes exemplos de lideranças políticas propositivas para tornar as nossas empresas mais humanizadas e, consequentemente, como previu Kurzweil, prosperar na era dos dados?
Acredito que, quando as nossas relações estão sendo intermediadas pela tecnologia, se destaca quem traz, em seu discurso, um caráter humanizado e consciente: na preocupação com quem está em home office, com a família confinada e em como está a dinâmica desta casa.
Existem milhões de empresas (e que bom) preocupadas em manter a produtividade de seus colaboradores em tempos de pandemia. E, melhor ainda, igualmente preocupadas em manter a saúde mental de sua equipe.
O ponto aqui é como fazê-lo? Vejo como fundamental olhar o contexto social, político e econômico que estamos vivendo. E isso envolve o uso da tecnologia para trazer calor humano às relações. Sentimos falta do contato, do abraço, do olho no olho real, do aperto de mão. Como supri-los?
Os exemplos das lideranças políticas que trouxe aqui possuem uma mensagem fundamental para o mundo dos negócios: as empresas precisam enxergar além do seu colaborador. Para cada CPF, existe uma família, um lar. Como líder, você está se conectando com esse lar?
A humanização das relações vem da conexão verdadeira, onde a produtividade é resultado do meio no qual vivemos. Em tempos de quarentena forçada, as empresas precisam entrar na casa de seus colaboradores.
A liderança que for empática e verdadeira será a luz guia em meio ao breu de tempos sombrios. E a principal aliada para chegar à outra margem a salvo. E são.