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A tecnologia revoluciona o campo

Responsável por mais de 20% do PIB Brasileiro, o setor de agronegócios vem sendo cada vez mais impactado por novas tecnologias, que trazem Mais eficiência e melhor produtividade para profissionais do campo

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Como organizar a logística agrícola usando menos máquinas e consumindo menos combustível? Como usar os insumos de forma a evitar desperdícios? Como o clima está impactando a produtividade e a eficiência das culturas? 

Essas são algumas das perguntas que tiram o sono do profissional do campo e que até há bem pouco tempo eram respondidas mais por experiência do que pela análise efetiva de dados. Esse cenário, porém, vem mudando de forma mais acentuada nos últimos cinco anos, com a adoção da tecnologia por uma parte significativa das propriedades rurais brasileiras. Entre os principais responsáveis por essa transformação estão as agritechs, ou agtechs – como são chamadas as startups do setor –, que têm trabalhado na solução de problemas dentro e fora da porteira.

Criada em 2007, em Araçatuba (SP) por sete cientistas, a Solinftec é um exemplo da revolução que as novas tecnologias são capazes de trazer para o agronegócio. A startup lançou a Alice, primeira assistente virtual que leva a inteligência artificial a todas as áreas do campo. Mais do que responder às dúvidas dos agricultores, a plataforma permitirá a entrada em operação da primeira fazenda com gerenciamento assistido por inteligência artificial, já em fase de testes. “A Alice adota um sistema virtual baseado em redes neurais e deep learning, e está sendo treinada para analisar grandes massas de dados, sendo capaz de detectar padrões que escapam ao olho humano”, diz o CEO Rodrigo dos Santos. 

Uma das pioneiras no desenvolvimento de sistemas digitais de monitoramento para todo o processo produtivo, a Solinftec opera com sensores, telemetria, computador de bordo e softwares que processam dados colhidos em campo, permitindo aos produtores acompanhar em tempo real cada etapa da produção com mais precisão. Para tanto, conta com uma rede de transmissão de dados máquina a máquina, batizada Solinfnet, capaz de operar em regiões remotas e de relevos acidentados, com pouca ou nenhuma cobertura de telefonia celular. Hoje, a agritech responde pelo monitoramento de mais de 20 mil equipamentos agrícolas, interage com mais de 100 mil usuários em dez países e cobre mais de 8 milhões de hectares – o equivalente a 11 milhões de campos de futebol. “Garantimos um aumento mínimo de 10% a 20% de eficiência na colheita, o que representa um ganho operacional das máquinas de 1 a 2 horas por dia”, diz o CEO.

 Em 2018, a startup chamou a atenção do fundo de private equity americano TPG, investidor de empresas como Uber e Airbnb. Na época, Roel Collier, diretor para a América Latina, afirmou que a simplicidade oferecida pelas soluções na Solinftec para resolver problemas reais dos clientes foi determinante para o aporte. 

 Segundo Francisco Jardim, sócio da SP Ventures, gestora de fundos especializada em agro, a Solinftec não é uma exceção entre as agritechs nacionais, pois a inovação de ponta mostra-se cada vez mais recorrente. “Visito os principais ecossistemas de agro no mundo, o que fazemos no Brasil não deixa a desejar a ninguém”, diz. “A primeira safra de startups ligadas ao setor já abriga empresas em fase de consolidação. Não perguntamos mais se o movimento vingou, mas, sim, qual o tamanho desse universo, onde as agritechs poderão chegar?”

Para Mariana Vasconcelos, cofundadora da Agrosmart, com sede em Campinas, no interior de São Paulo, há um oceano azul a ser navegado, não só pela disposição do profissional do campo em adotar novas tecnologias, mas também por necessidade. O relatório “Recursos mundiais: criando um futuro sustentável para a alimentação”, da ONU, mostra que em 2050 a população mundial alcançará 9 bilhões de habitantes. Para alimentar esse contingente será necessário aumentar em até 70% a produção de alimentos já nos próximos anos. “Isso só será possível com a adoção de novas práticas de cultivo e muita tecnologia”, afirma a empresária. 

 Fundada em 2014, a Agrosmart está presente em nove países e monitora 210 mil hectares cultivados no Brasil. Sua plataforma de agricultura digital oferece informações que auxiliam produtores rurais a tomar decisões mais assertivas na irrigação, no manejo de pragas e doenças, no plantio e na colheita. Por meio de sensores de solo e imagens, a empresa monitora as lavouras, integra diferentes fontes de dados e gera modelos agronômicos e climáticos, com base em condições de solo, microclima e genética. Os resultados podem ser acompanhados em tempo real por meio de um aplicativo. Na média, suas tecnologias proporcionam uma economia de 60% de água; ajudam a economizar 40% de energia e a gerar um aumento de produtividade de até 20%. 

**PIRACICABA VIRA REFERÊNCIA**

Distante 170 km da capital, Piracicaba tem na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) uma das principais referências em pesquisa agrícola do País. Ao redor da universidade nasceu o programa AgTech Valley, chamado de o Vale do Silício do Agronegócio, com a proposta de reconhecer, fortalecer e criar uma identificação da sociedade com o ecossistema tecnológico. A cidade sedia organizações de pesquisa, o Parque Tecnológico, referência para o setor de tecnologia na agricultura; o Centro de Tecnologia Canavieira; o Centro de Pesquisa em Energia Nuclear para Agricultura, além de incubadoras e empresas voltadas ao agronegócio dos mais variados portes.

Não é à toa que Piracicaba concentra boa parte das startups de agro do País, sendo o maior cluster do setor, de acordo com o I Censo Agtech Startups Brasil, feito pela Associação Brasileira de Startups.

 “A Esalqtec, incubadora da Esalq, foi uma das sementes desse ecossistema”, afirma Sergio Barbosa, gerente executivo. Criada em 2006, soma 99 associadas, oito residentes e 14 empresas incubadas. “A troca de experiências e o desafio de transformar pesquisa em produto para o mercado nos levou a reavaliar o programa de graduação da universidade para nos adaptarmos às novas realidades do mercado”, diz o executivo. “Nossos alunos precisam ser preparados para fazer análise crítica e saber integrar tecnologia ao campo.”

 Segundo Barbosa, o que mudou nos últimos anos foi a atenção que o polo despertou tanto em investidores quanto nas grandes empresas do setor. “O Brasil tem geração de conhecimento e tecnologia próprios em função do ambiente diferenciado de agricultura tropical, que nos dá vantagem competitiva”, declara. “Daí o interesse das empresas que atuam fora do País em formar parcerias, em investir nas inovações oferecidas pelas startups nascidas aqui.”

 Foi exatamente o que fez a Stefanini, multinacional brasileira da área de TI, quando decidiu se aproximar do mercado de agribusiness. “No início deste ano procuramos não só a Esalq, mas outras instituições que compõem o ecossistema de Piracicaba”, conta Breno Barros, diretor de inovação e negócios digitais da Stefanini. “Conhecemos diversas startups focadas em agricultura e pecuária, responsáveis pelas mais diversas soluções para produção, rastreabilidade, meios de pagamento e transação financeira.” Segundo o executivo, o objetivo da Stefanini é trabalhar em parceria com agritechs que ofereçam tecnologias voltadas à eficiência de plantio, colheita, melhora da tomada de decisão, além daquelas focadas no ecossistema financeiro. “Trata-se de um segmento novo para nós”, afirma Barros. “Começaremos pequenos e num futuro próximo deveremos nos associar a um desses hubs. A Esalq tem uma fazenda digital, um cenário muito importante para testes de novas tecnologias, um campo fértil para uma parceria perene.”

**DESAFIOS**

Entender as dores do campo e desenvolver novas tecnologias que solucionem os problemas de forma simples é ainda o grande desafio da maioria das agritechs que chega ao mercado. “Parece um caminho natural, mas, na prática, nem sempre a tecnologia dita disruptiva no laboratório se mostra eficiente no campo”, diz Ernani Carvalho, coordenador do Núcleo de Agronegócios da ESPM-Sul. Soma-se a esse fator, as dificuldades de conectividade em boa parte das áreas rurais do País e alguns aspectos culturais. “Hoje, muitos dos que tomam a decisão nas fazendas têm em média 60 anos e são pouco familiarizados com o universo da transformação digital”, afirma. “Serão os filhos dessa geração que efetivamente levarão a tecnologia para dentro da porteira e farão as agritechs deslancharem em larga escala por todo o País.”

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 E não são poucas as startups dispostas a mudar esse cenário rapidamente. Segundo o estudo Radar Agtech 2019, apresentado em agosto pela Embrapa, em parceria com SP Ventures, Homo Ludens Consultoria e Centro Universitário FEI, já são 1.125 startups com atividades relacionadas à cadeia agroalimentar brasileira em atividade, 90% delas distribuídas pelas regiões Sudeste e Sul. Apesar do crescimento agressivo, se levarmos em conta que em 2015 as agritechs não passavam de 245, as oportunidades se multiplicam em todas as áreas. 

A SP Ventures, que se prepara para operar ainda este ano um novo fundo de R$ 75 milhões voltado a agritechs da América Latina, está de olho em duas grandes tendências do segmento: migração da comercialização de produtos do offline para o online, como venda de sementes, maquinários, agroquímicos e adubos, um mercado que movimenta mais de US$ 4 milhões; e as fintechs do agro, que a partir da análise de dados passarão a oferecer crédito com menores riscos. 

**CORRIDA AÉREA**

Com quatro vants (sigla de veículos aéreos não tripulados) sobrevoando o canavial e aguardando ansiosamente a chegada do quinto, de maior porte, Rogério Nicola, gerente de tecnologia agrícola da Usina Cofco, de São José do Rio Preto, a cerca de 500 km da capital paulista, parece criança de tanta alegria. Os “brinquedos” que tanto despertam seu interesse consumiram um investimento de 

R$ 1 milhão e há dois anos são responsáveis pelo mapeamento do canavial, resultando em ganhos efetivos nas quatro fazendas da usina.

“A meta é mapear 170 mil hectares até 2020, o equivalente em ruas de cana a 28 voltas na terra”, diz Nicola. Segundo ele, o investimento é válido. Em 2019, a diminuição de perdas será de 1%, graças ao mapeamento, que apontou irregularidades e gerou informações mais assertivas para a tomada de decisão. “Se levarmos em conta que mapeamos parte da plantação, apenas 25 mil hectares de cana plantada, num total de 32,5 mil toneladas, a economia de 1% equivale a R$ 2,2 milhões”, diz. “Um volume bastante significativo”. 

Os vants usados pela Usina Cofco são fabricados em São Carlos, também no interior de São Paulo, pela XMobots, uma das pioneiras no segmento. Quando começou a operar em 2009 tinha por foco a fabricação de drones – como também são conhecidos – para a área ambiental. Em 2014, porém, enxergou o potencial do agronegócio ao acoplar a seus equipamentos tecnologia capaz de substituir o trabalho de topografia de campo, de difícil realização e alto custo. “Em 2016, viabilizamos outras funções aos vants para agricultura de precisão em culturas como cana-de-açúcar, silvicultura, laranja e café”, diz o sócio Giovani Amianti. “A cana responde por 85% do nosso faturamento, que deverá alcançar R$ 15 milhões este ano.” Com 300 aeronaves em uso, e preços que variam de R$ 80 mil a R$ 700 mil, dependendo do porte e das funcionalidades, a XMobots se prepara para expandir sua participação no mercado de agro brasileiro, hoje na casa dos 35%. A startup acoplou câmeras multiespectrais em seus vants, capazes de analisar a saúde da planta, gerando relatórios fitossanitários.

A startup de São Carlos não está sozinha nessa corrida, pelo contrário. Estudo feito pela consultoria PwC revela que o mercado global de drones pode chegar a US$ 127 bilhões nos próximos dois anos, 26% desse valor gerado pelo uso na agricultura. Desde que foram definidas as regras para uso de vants no País, em maio de 2017, o número de fabricantes cresceu, assim como a oferta de serviços – pulverização, monitoramento, adubação de precisão, manejo de plantas daninhas, aplicação de insumos e eliminação de falhas no plantio.

 Agrônomo formado pela Esalq e com quase duas décadas de experiência na área de defensivos agrícolas, Luís Gustavo Scarpari há um ano fundou a Scardrones, com foco no controle biológico das lavouras de cana-de-açúcar. Não fabrica vants, sua especialidade é o controle biológico de pragas. Solta cotésias (vespinhas) na plantação, um trabalho normalmente feito manualmente no canavial, de forma arriscada e com altos índices de desperdício. “Desenvolvemos um sachê oxibiodegradável que carrega 1.500 cotésias por unidade e é solto no canavial na área definida pelo cliente e em horários mais flexíveis”, afirma Scarpari. “Além disso, o drone consegue percorrer o canavial tombado, inacessível aos agricultores, e tem toda a operação monitorada por mapa de vídeo.” 

 A pulverização também é o foco da Arpac, fabricante e prestadora de serviços gaúcha, com sede em Porto Alegre. Há dois anos no mercado, Eduardo Goerl, ex-piloto de aviação civil, trabalha com a pulverização de agentes biológicos e químicos em áreas localizadas, o que garante economia e redução do impacto ambiental. “O canavial tem em média 15% de área infestada”, diz. “Ao focarmos na área delimitada pelo problema, geramos uma economia de produto próxima de 85% e uma redução total em torno de 60% de custos, em comparação à aplicação em 100% da área de plantio, como acontece normalmente.”

 A startup, que foi acelerada pelo programa AgroStari da Basf, conta com cinco equipes e clientes do porte da Raizen. 

Esse segmento também despertou a atenção da Cedro Capital, gestora de fundos e recursos regional com foco no Centro-Oeste, Minas Gerais e Tocantins. Para a primeira rodada de captação, que se encerrará em 2020, o fundo captou R$ 55 milhões para investir em até 15 startups, entre elas, agritechs. “Procuramos empresas com produto já no mercado, faturando, que fazem algo diferente e surfam nas tendências dos próximos anos”, diz Alessandro Machado, sócio-diretor. 

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A Gira, agritech de análise de riscos da produção agrícola, foi uma das selecionadas pela Cedro. “Trouxemos uma solução que está revolucionando a cadeia de crédito do agronegócio”, diz o CEO Gianpaolo Zambiazi. Em 2015, eles criaram o CPR, instrumento de crédito com indicadores agronômicos, que permite o acompanhamento da produção por meio de análises jurídicas e agronômicas, auxiliando na gestão de recebíveis pelas indústrias, distribuidores de insumos, cooperativas e tradings. “Contamos com mais de 1.000 agrônomos e mais de 50 advogados habilitados para avaliar as operações cadastradas na plataforma, que tem no milho e na soja 90% de suas transações.”

 A Gira é a única empresa do País a ter acesso aos dados de mais de 40 anos de pesquisa da Embrapa, o que lhe permite atuar como certificadora na concessão de crédito. O próximo passo será fornecer crédito direto, com um volume inicial de R$ 100 milhões. “Desenvolvemos uma matriz de crédito que leva em consideração o histórico de produtividade, custo de produção, logística e posicionamento da propriedade rural”, diz Zambiasi.

 Para Daniel Trento, gerente de inovação da Embrapa, trabalhar em parceria com as startups inovadoras, que trazem resultados efetivos para o campo, foi o desafio que a entidade abraçou há dois anos, quando lançou o Pontes para a Inovação. “O objetivo é conectar as agritechs com investidores, para que tenham acesso a recursos para acelerar seus negócios”, afirma. 

O cenário é tão promissor que grandes grupos vêm somando forças para garantir que a tecnologia chegue realmente ao campo e gere resultados. Recentemente, AGCO (Massey e Valtra), Bayer, CNH Industrial, Jacto, Nokia e Tim, entre outras, se juntaram para lançar o ConectarAgro, solução de conectividade aberta com a meta de cobrir, até o fim do ano, 

5 milhões de hectares no campo, sendo 1 milhão de hectares de pequenos e médios produtores. Para Gregory Riordan, da CNH, resolver a questão da conectividade é o próximo salto de produtividade que a agricultura brasileira precisa dar.

**SOMAR PARA ACELERAR O CRESCIMENTO**

 Mais do que firmar parcerias entre si, as gigantes do mercado exercitam cada vez mais a aproximação com as startups. A corrida em busca de parcerias sólidas deu-se mais fortemente há dois anos, quando perceberam que em menos de uma década a concorrência não viria mais do próprio setor, mas de potências como Google e Amazon. A Monsanto, que em 2011 havia adquirido a Climate Corporation por US$ 930 milhões, considerada a primeira grande transação envolvendo uma agritech, tratou de engordar o portfólio. Em 2018, contava com investimentos em 16 agritechs no mundo, entre elas a brasileira TBit, especializada na análise de grãos, sementes, rações e fertilizantes.

 “Há seis anos, quando começamos a apresentar a tecnologia, havia resistência do produtor e do próprio ecossistema de startup, que estava em busca de um novo Facebook”, diz o fundador da TBit, Igor Chalfoun. Cenário transformado, a agritech que aplica visão computacional e inteligência artificial para substituir a classificação humana na avaliação da qualidade dos produtos agrícolas já soma mais de cem clientes no Brasil e no exterior. Na prática, a tecnologia otimiza em até 80% o tempo de análise, que caiu de 18 minutos para 3 minutos; reduz em 50% a necessidade de mão de obra e garante mais de 40% de assertividade em relação ao olho humano. “Os grãos representam 90% do nosso faturamento estimado em R$ 4 milhões este ano, 150% a mais do que em 2018”, diz. 

 Na visão de Almir Araújo, responsável pela área de agricultura digital da Basf para a América Latina, a aproximação com as startups traz benefícios para as grandes companhias. “Ajuda a acelerar o processo de transformação digital com um formato mais ágil e direto na aplicação das tecnologias; permite que levemos soluções mais completas para o produtor, pois atuam em nichos que as grandes não trabalham e trazem o conceito de empreendedorismo para dentro de casa”, afirma. Nessa trajetória, a Basf desenvolveu, em parceria com a aceleradora Ace, o ecossistema AgroStart, que recentemente recebeu apoio da Samsung e da Bosch para mentorias, treinamento e infraestrutura para agritechs selecionadas. 

**INOVAÇÃO AO ALCANCE DA EMPRESA**

 Responsável pela criação em 2017, em Piracicaba, do Pulse, hub de inovação voltado para o Agro, a Raizen enxerga a parceria com as agritechs como uma forma de chegar mais rápido às inovações. “As statups nascem com o conceito de serem enxutas, especializadas e isso nos ajuda a repensar a forma como trabalhamos”, diz Pedro Leal, gerente de transformação digital. “Trabalhamos no modelo de inovação aberta, para que essas agritechs desenvolvam seus pilotos com a Raizen.” Segundo ele, o grande diferencial do hub é ter as fazendas da empresa como campo de teste. 

 Com sede em Joinville e uma unidade no Pulse, a Jet Bov, fundada em 2016 por Xisto Alves de Souza Junior, sabe o que isso significa. Investida pelo SP Ventures e acelerada pela Ace, a agritech usa inteligência artificial e armazenamento em nuvem para otimizar a cadeia de bovinos para produção de carne. Opera com mais de mil fazendas em Portugal, Brasil, Angola e Paraguai. Em três anos, ajudou no gerenciamento de mais de 2 milhões de animais de pecuária de corte. A tecnologia, de uso simples, pode ser aplicada em pequenas propriedades com 100 cabeças ou grandes criações, com mais de 100 mil animais. “Os resultados são reais”, diz Souza. “Uma vez tendo a informação correta e tomando a decisão de forma assertiva, em cima de dados, o criador consegue multiplicar os ganhos entre três e quatro vezes de um ciclo para outro”.

 Parceiro da Embrapa, Marcelo Ribas, fundador da Intergado, startup mineira focada no mercado de pecuária de precisão, também leva ao pecuarista informações exatas para a tomada de decisão. 

A empresa desenvolveu um conjunto de hardware e software capaz de entregar análises de lucratividade por animal. “Havia uma demanda por soluções eletrônicas para avaliação de eficiência alimentar”, diz Ribas. “Com a tecnologia, comportamento, consumo e peso vivo passam a ser registrados automaticamente toda vez que o animal sobe na balança ou se aproxima do cocho eletrônico para se alimentar.” A plataforma gera relatório em que o produtor consegue acompanhar em tempo real como está a engorda e tomar a melhor decisão para o abate. 

 O Boitel São José, com um plantel de 2 mil cabeças de gado de corte, conta com quatro equipamentos da Intergado. “Com a adoção da tecnologia, aumentamos nossa lucratividade em 10% e aprendemos a acompanhar melhor o desempenho de cada animal”, diz o criador Eduardo Neni. “Antes, o gado era abatido em 100 dias, nem antes, nem depois. Agora, identificamos os que param de engordar em 80 dias, portanto podem ir para abate, e os que ultrapassam os 100 dias, porém sem dar prejuízo”.

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