Dossiê HSM

Fraldas de cavalo, unicórnios e os próximos 25 anos

Muitas soluções propostas para os problemas do presente podem estar sendo produzidas com um certo grau de miopia, como ocorreu no início do século 20 quando as grandes cidades estavam praticamente soterradas por dejetos de cavalos, principal base de transporte da época. Enquanto desenhavam fraldas para os cavalos, foram atropelados pelo surgimento dos carros. Para não acontecer o mesmo com seu negócio, ajuste sua visão com estas 25 “lentes” para enxergar (e transformar) o futuro nos próximos 25 anos.

Lala Deheinzelin

Futurista, especialista em novas economias e criadora do movimento Crie Futuros e da Fluxonomia 4D....

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O presidente da Western Union, empresa de entregas a cavalo, disse em 1876: “O telefone é complicado demais para se tornar de fato um meio de comunicação”. Era uma época em que as cidades cresciam muito e o transporte era baseado em tração animal. Os urbanistas que pesquisavam fraldas para resolver tanto cocô foram “atropelados” pelo surgimento dos carros.

A falta de visão de futuro é algo muito comum, e costumo chamá-la de “fraldas de cavalos”. Para evitar o surgimento de novas fraldas, ou que aquele unicórnio não nasça porque a ideia parece maluca demais, reuni 25 afirmações e boas práticas que auxiliam a ver novas alternativas para o futuro. Para o Brasil, elas são particularmente estratégicas: novas economias e a colaboração podem ser a solução para muitos de nossos imensos desafios.

__01. EVITE “FRALDAS DE CAVALO”.__ O que você está desenvolvendo ou investindo pode perder o sentido em breve? Tudo fica obsoleto mais rápido com as mudanças exponenciais.

__02. QUANDO TUDO MUDA, O QUE NÃO MUDA?__ Não mudam as profissões e os negócios ligados ao “cuidar”, em todas as suas variáveis. Vantagem adicional: consumir tem limites, mas o cuidar pode ser ilimitado.

__03. ALFABETIZAÇÃO EM FUTUROS.__ Não podemos mais nos orientar pelo passado, seja nos estudos ou na interpretação de contextos.

__04. O PASSADO NÃO É REFERÊNCIA SEGURA PARA O FUTURO.__ Um erro frequente: velhas ferramentas para novos cenários. Precisamos de métodos e sistemas diferentes dos habituais.

__05. TRABALHE COM QUEM VÊ O QUE VOCÊ NÃO VÊ.__ Sim, se relacione com quem é diferente. O desconforto vale a pena: um vê os pontos cegos do outro.

__06. “O FUTURO É FRUTO DOS SONHOS DO PASSADO E DAS ESCOLHAS DO PRESENTE”.__ Visões de futuro cocriadas são fortes elementos agregadores, pois revelam necessidades atuais e oportunidades futuras. Amplie o foco para futuros ligados ao sociocultural, que são estratégicos, porém mais difíceis de ser imaginados.

__07. DESENVOLVA A PERCEPÇÃO DE SER PARTE DE UM CONJUNTO MAIOR.__ Não nos percebemos como células de um corpo maior, interdependente. Esse desafio leva à criação de profissões, produtos e serviços que desenvolvam empatia, percepção integral, capacidade de síntese, alteridade, corresponsabilidade. A inteligência artificial será essencial para aumentar a inteligência humana.

__08. A MAIOR TRANSIÇÃO DA HISTÓRIA.__ A desmaterialização do mundo digital (fora do tempo e espaço) trouxe a exponencialidade como dinâmica em alcance, velocidade e intensidade. É preciso aprimorar a capacidade de perceber e se ajustar, internamente (cuidados) e externamente (dados e sua interpretação).

__09. USE A FORÇA DA MUDANÇA A SEU FAVOR.__ Estamos em crise devido a nossa capacidade linear de lidar com as dinâmicas exponenciais do digital. Compreenda essa transição e aproveite, pois nesses momentos surgem novas profissões e negócios. E lembre-se: serão ideias improváveis. Se não for um pouco estranho, não serve para o futuro.

__10. VISUALIZAÇÃO DE DADOS EM FLUXO.__ Se só a IA conhecer os dados e suas conexões, podemos ter dependência digital ou EH: estupidez humana. Os dados devem ser exibidos graficamente e com fluxo no tempo e espaço para facilitar sua interpretação. Enorme oportunidade para desenvolvimento de profissões e negócios.

__11. DO INCREMENTAL AO DISRUPTIVO.__ Há momentos em que é suficiente ajustar e otimizar, mas a etapa evolutiva atual exige incorporar o disruptivo ao design de produtos e serviços. E diversificar investimentos, priorizando os de risco e alternativos.

__12. INVISTA no IMPROVÁVEL, MAS DESEJÁVEL.__ O desejo do coletivo é tão potente que faz com que o improvável seja possível. Há muitos futuros possíveis, porém improváveis, e neles residem os novos unicórnios.

__13. EQUILIBRE CONSERVAR E INOVAR.__ Receita “Luiza Trajano”: veja o que deve ser conservado, o que deve ser eliminado e o que deve ser mudado. Incluo outro: descubra pontos cegos (evitados pois causam estranhamento) e pense: o que deve ser criado?

__14. MUDANÇA DE MODELO ECONÔMICO: APROVEITE.__ Quando o padrão de rede (conexões e fluxo de bens, informações, pessoas, serviços) muda, macromudanças são inevitáveis. O digital mudou tudo, e essa mudança econômica já está em curso: atente-se a ela.

__15. MUDANÇA DE MODELO POLÍTICO: FOMENTE.__ É uma questão fisiológica: o grau de inovação, agilidade e alcance necessários para dar conta do século 21 demanda novas estruturas de tomada de decisão, arcabouço jurídico-tributário e arranjos territoriais. Os “comos” representam oportunidades para, por exemplo, tecnologias para democracia digital direta.

__16. CHAVE DO EXPONENCIAL: CONVERGÊNCIA.__ “Só a convergência gera potência” é uma máxima da Fluxonomia. Oportunidade para mudanças de mindset e de estrutura organizacional rumo à colaboração.

__17. NOVOS UNICÓRNIOS: GIGANTES DA COLABORAÇÃO.__ Na crise de 2008 surgiram gigantes da tecnologia que convergiram dados (Google, Facebook), excedentes de infraestrutura (Uber, Airbnb) e mercados (Amazon, Mercado Livre). A crise de 2020 fará surgir os gigantes da colaboração, capazes de convergir tempo, excedentes, habilidades e parceiros.

__18. OPERE COMO ECOSSISTEMA.__ Organizações inspiradas em sistemas vivos, que operam com colaboração entre as partes, com mecanismos compartilhados de percepção (dados), regulamentação (normas) e alimentação (recursos). O desafio está no item 7: não nos percebemos partes de um organismo.

__19. EVITE POLARIZAÇÕES:__ o “OU” vira “E”. Uma das chaves para o salto evolutivo está em notar o “diferente” como complemento e não como oposto. Culturas orientais têm isso incorporado (e simbolizado no ying-yang), por isso têm maior habilidade em operar como ecossistemas (vide o sucesso da China). Oportunidade para quem nos preparar para a complementaridade.

__20. INTEGRE A “PRAÇA” E A “TORRE”.__ Niall Ferguson descreveu duas estruturas, uma centralizada, com função de coordenação e foco em dados (torres), e outra distribuída, com função de implementação e foco em interações (praças). Exemplo: a internet é “praça”, o Google é “torre”. A história é uma alternância de poder entre elas; o equilíbrio virá quando sairmos de uma abordagem “OU” e passamos para uma “E”, e no futuro teremos profissões, negócios e tecnologias para apoiar isso.

__21. CIRCULE RECURSOS ALÉM DO MONETÁRIO.__ Se economia é circulação de recursos que produzem riqueza e qualidade de vida, metade dela ainda não está acessada: são os multicapitais, que incluem as dimensões cultural, ambiental e social (recursos 4D). Dada a crise econômica, tudo o que contribui para identificar, precificar e circular esses recursos é urgentemente necessário.

__22. TRADICIONAL + COMPLEMENTAR.__ Bernard Lietaer revelou que uma economia saudável opera com a equação “economia tradicional + economias complementares”. Oportunidade para a criação de infraestruturas e ferramentas para circular excedentes, permutas multilaterais, multicapitais 4D, tempo.

__23. INOVE MARKETPLACES E MEIOS DE PAGAMENTO.__ A demanda acima precisa de uma nova geração de marketplaces, com meios de pagamento capazes de converter e operar tipos diferentes de moedas.

__24. INCORPORE NOVAS ECONOMIAS.__ Novas economias são novas dinâmicas de geração de valor. Na economia criativa, o valor é definido pelo “como” se faz (atributos, propósitos). Na compartilhada, o “possuir” dá lugar ao “usar”, e a economia colaborativa ganha escala pela gestão em redes coordenadas e capazes de convergir. A economia multivalores gera valor pelo uso de recursos além do monetário. E principalmente por produzir resultados além do monetário.

__25. VISÃO EM 4D: RESULTADOS (ESG +C).__ Sobreviverá quem gerar (e comunicar) resultados além do quantitativo e do monetário. Pergunte-se: “O que faço também otimiza e gera impacto positivo cultural, ambiental e social?”. Tanto no tripé da sustentabilidade quanto no ESG, falta a dimensão cultural, que alguns colocam, com propriedade, como ODS Zero: a evolução de mindset e consciência é base para que todo o resto possa acontecer.

não menospreze essa onda da transição; Surfe nela. A prancha para isso está na soma de futuring, novas economias e colaboração, algo que aprofundamos na Fluxonomia 4D.

Comida no prato

por Fabricio Bloisi
Equilibrar produção e consumo com os recursos naturais disponíveis

O futuro começa quando começamos a pensar grande, a sonhar com um alto impacto positivo sobre a sociedade, a economia e o desenvolvimento do país. E isso passa necessariamente pela inovação, por transformações capazes de mudar vidas. Acredito que, no futuro próximo, as empresas vão assumir um papel que transcende a gestão de seus negócios e passarão a resolver também problemas da sociedade e de urgência global. Para isso, o investimento em P&D (pesquisa e desenvolvimento) será ainda mais essencial.

Nas próximas duas décadas, vamos assistir à escalada da inovação para o benefício da humanidade. As empresas contribuirão ativamente para fazer da tecnologia uma alavanca de soluções em grande escala e que promovam um futuro mais promissor para o Brasil e para o mundo.

Em 2050, a população mundial deve chegar a 9,7 bilhões de pessoas, segundo a ONU. Um dos grandes desafios nesse cenário será viver de forma sustentável em um planeta com 2 bilhões de pessoas a mais, o que nos faz repensar nossos hábitos, negócios e missão desde já. A começar pela mesa dos brasileiros, com compromissos para garantir segurança alimentar a todos.

E como fazer isso? Alçando o País a um novo patamar de produção e consumo, alinhado com os recursos naturais disponíveis – tal como definido pela ONU nos ODS (objetivos de desenvolvimento sustentável). Até 2030, a meta é reduzir à metade o atual desperdício per capita de alimentos, o que significa diminuir a perda de alimentos ao longo de toda a cadeia de produção e de abastecimento – do campo à mesa.

Não por acaso, alimentar o futuro do mundo é nossa missão aqui no iFood, o que na prática se traduz em garantir acesso à alimentação de qualidade e mais barata para toda a população. Sem dúvida, um círculo virtuoso e com o poder de combater a fome e o desperdício, além de contribuir para baixar a inflação no País no médio prazo.

A redução das desigualdades e a criação de mais oportunidades para todos via tecnologia – especialmente com a democratização do acesso à educação e ao empreendedorismo – contribuirão para uma economia forte e que cresce. Mais do que nunca, temos de discutir caminhos para a economia e como a tecnologia pode contribuir para gerar e distribuir riquezas para os brasileiros.

Outro aspecto fundamental para que o sonho se torne realidade é alçar o Brasil à condição de líder global em meio ambiente, com as organizações investindo em ações efetivas não só para reduzir o impacto de suas operações, mas também regenerar. Nesse sentido, no ano passado, o iFood assumiu publicamente o compromisso de, até 2025, zerar a poluição plástica em suas operações de delivery, neutralizar a emissão de carbono e garantir que 50% das entregas sejam feitas por modais não poluentes.

Somos todos protagonistas dessa revolução. O novo mundo, em permanente construção, exige de nós inovação, agilidade, colaboração e criatividade. Isso beneficiará não somente as empresas e os trabalhadores como a sociedade e a economia, que ganharão com relações cada vez mais sustentáveis e dignas.

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