Estratégia e Execução

5 histórias, 5 escolhas

As mulheres que você conhecerá a seguir tomaram decisões bem distintas em relação ao desenho de sua vida –profissional e pessoal– e mostram-se bem satisfeitas com o que fizeram

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Como são as mulheres que aparecem nas pesquisas sobre tendências de mercado de trabalho e empreendedorismo quando as conhecemos em carne e osso? HSM Management buscou fazer o perfil de cinco gestoras mulheres que tivessem balançado entre o lean in e o opt out e contassem histórias distintas. É isso que o leitor encontra nestas páginas. 

A empresária Sônia Hess não teve filhos  –embora trate as enteadas como “filhas postiças”– e mergulhou na carreira com grande sucesso. No extremo oposto, a gerente Marcia Gouveia Schultz teve um bebê e saiu do mundo empresarial. Adriana Machado (da gigante GE), Lorrana Scarpioni (da plataforma Bliive) e Carolina Fernandez (da firma de consultoria C2M RH) acharam cada uma o próprio caminho do meio.

**SÔNIA HESS, A EMPRESÁRIA**

Presidente da camisaria Dudalina, empresa familiar de vestuário feminino e masculino, Sônia Hess não teve vida fácil. Uma entre os 16 filhos do casal Rodolfo Francisco de Souza Filho e Adelina Clara Hess de Souza, ela começou cedo ajudando os pais em um comércio de secos e molhados na cidade de Luís Alves, no interior de Santa Catarina. Além de estudar em uma escola local, atendia a freguesia, pesava alimentos, media tecidos, passava camisas prontas e datilografava etiquetas. Sônia conta que Seu Rodolfo era poeta, enquanto a mãe era enérgica e boa comerciante. 

“Dona Adelina teve 12 dos 16 filhos em casa, em uma cidade que não tinha nem farmácia”, relembra. Cuidava da casa e da loja, das crianças e do marido, que era cardíaco. Um dia, Dona Adelina não pôde acompanhar o marido nas compras e o fornecedor acabou “empurrando” para ele uma seda excedente. 

Olhando para aquele monte de tecido, Dona Adelina teve a ideia de fazer camisas. Nasceu a Dudalina. Sônia mostra que puxou à mãe. Estudou na Espanha e, depois, foi comandar a implantação de uma nova tecnologia de uma empresa espanhola em uma fábrica têxtil com cerca de mil funcionários na cidade de Montes Claros, norte mineiro. Enfrentou o sertão, a seca, o choque cultural, mas saiu vitoriosa da batalha. 

Com forte dedicação, foi a herdeira escolhida para dirigir a Dudalina em 2003 e expandiu notavelmente o negócio, que hoje tem mais de 2 mil colaboradores, cinco fábricas e 50 lojas. Ela tentou imprimir a sua gestão o foco em pessoas e as boas condições de trabalho –que são preocupações femininas–, compartilhando resultados. Seu slogan vem daí: “Amor à camisa e às pessoas”. 

Casada, Sônia se declara “mãe postiça” das três enteadas. No entanto, também diz que tem orientação a resultados, razão pela qual nunca foi discriminada por ser mulher –ela reconhece que o mundo dos negócios ainda é masculino. As mulheres predominam entre os colaboradores da Dudalina, mas, conforme a empresária, não na chefia. Ela conta, por exemplo, que, em uma seleção para trainees, queria dar preferência a mulheres, mas nenhuma das duas finalistas quis enfrentar o desafio. “A carreira é a batalha de uma vida”, afirma ela, e acredita que muitas gestoras escolhem não lutá-la. Ou seja, segundo Sônia, várias mulheres simplesmente decidem não ser líderes. 

**ADRIANA MACHADO,  A SUPEREXECUTIVA**

Os ingredientes são triviais, mas nem por isso fáceis de encontrar: união, amor e o entendimento comum de que tanto marido como mulher precisam se desenvolver como indivíduos –e de que o trabalho é parte desse desenvolvimento. Essa é a receita de Adriana Machado, vice-presidente de assuntos governamentais e políticas públicas para a América Latina da General Electric (GE), para dar conta de seu desafio profissional. Adriana se refere ao casamento de 23 anos, com dois filhos, de 9 e 16 anos. “O apoio do meu marido é a chave”, diz. 

É a vantagem competitiva que explica o fato de ela ser a primeira mulher a chegar ao alto comando de uma subsidiária latino-americana da gigante GE. Ninguém anteciparia o avanço de Adriana. Seu histórico profissional estava mais para alguém que prestaria um concurso público ou assumiria um cargo governamental. Nascida em Niterói (RJ) e criada em Brasília (DF), ela se formou na primeira turma de ciência política da Universidade de Brasília (UnB), foi consultora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), passou pelo Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea) e trabalhou na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), da Presidência da República. 

Em 2005, no entanto, Adriana deu uma virada na carreira, entrando para a GE. “Quando decidimos nos mudar de Brasília para São Paulo, não tínhamos clareza de como seria, mas  arriscamos. Estávamos longe do apoio da família, mas nos apoiamos no trabalho, crescemos profissionalmente e nossos horizontes se expandiram”. 

Em 2012 ela chegou ao comando das operações latino-americanas do grupo. Está sob a responsabilidade de Adriana um programa de investimentos de US$ 1,5 bilhão no País no decênio 2011-2020, que inclui a inauguração do primeiro Centro de Pesquisas Global da GE na América Latina, com investimentos de US$ 500 milhões, localizado no Rio. Com os filhos, ela procura ficar o maior tempo possível, apesar das reuniões a qualquer hora e das viagens ao exterior. 

**MARCIA GOUVEIA SCHULTZ, MÃE E DONA DE CASA**

Uma imagem incômoda frequentava a mente da curitibana Marcia Gouveia Schultz: ela chegando à escolinha para pegar a filha Julia com a babá e a menina correndo para os braços da empregada, não para os dela. Isso foi logo depois que Julia nasceu, em 2011. Marcia havia enfrentado três anos de tratamentos e expectativas até conseguir engravidar e queria acompanhar cada passo da pequena. 

Na época, ela trabalhava na Momentive Química, multinacional de origem norte-americana que fabrica resinas para madeiras. Economista formada pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em marketing, Marcia chegou a um posto executivo responsável pela área de comércio exterior após 12 anos na empresa. 

Tinha boa renda, 14º salário, um plano de saúde ótimo e outros benefícios. Lá também conheceu o pai de Julia –casaram-se em 2008. A direção da empresa apostava nela, patrocinou-lhe cursos de especialização e abriu oportunidades de ascensão, mas “não era uma supercarreira”, diz Marcia com frieza. Isso e a maternidade levaram-na a pensar na opção opt out. 

Em uma autoavaliação sincera, ela conta que tinha se acomodado com o status e o ambiente de trabalho agradável, porém já estava cansada de investir na carreira. Além disso, depois que teve o primeiro bebê e soube pelo médico que poderia ter outros, animou-se ainda mais com a ideia de acompanhar de perto a evolução dos filhos. “Como, apesar de horários flexíveis, eu frequentemente precisava ficar até mais tarde no escritório, conversei com meu marido sobre minhas dúvidas. Fizemos contas e concluímos que, se eu deixasse o emprego, a perda financeira não seria tão grande; decidi fazer isso.” 

A outras mulheres, Marcia aconselha pesar bem os prós e os contras nesse processo decisório: como ficará a relação com o marido, quais as perspectivas profissionais futuras, as condições práticas para fazer a família aumentar –a qualidade de vida, a estrutura, a existência de uma pessoa de confiança para cuidar das crianças etc. “O ideal seria a mulher poder viver seu sonho profissional sem precisar deixar de lado a vontade de ser mãe”, analisa. 

Marcia não pôde e sabe que será difícil voltar ao mercado de trabalho se quiser fazer isso um dia. Ela já pensou em caminhos alternativos, contudo, como prestar um concurso público ou abrir um negócio próprio. Uma coisa é certa: nada disso acontecerá tão cedo; sua opção preferencial foi pela família e ela está plenamente satisfeita com isso.

**LORRANA SCARPIONI, A INOVADORA**

Insegurança e medo foram os maiores obstáculos na carreira de Lorrana Scarpioni até agora. Não é para menos: ela tem só 23 anos de idade. Mesmo assim, soma vitórias impressionantes em sua curta carreira de empreendedora. Formada em duas faculdades –direito pela UniCuritiba e relações públicas pela Universidade Federal do Paraná–, Lorrana criou, em 2013, a plataforma Bliive, baseada na internet, que hoje tem 75 mil usuários em mais de cem países. Trata-se de uma rede colaborativa de troca de tempo. 

Por meio do Bliive, as pessoas fazem escambo de horas de atividades, como aulas de idiomas, culinária ou música, utilizando uma moeda própria do site, o TimeMoney. Recentemente, seu empreendimento social foi reconhecido pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), que incluiu Lorrana em um ranking dos dez brasileiros mais inovadores com menos de 35 anos, publicado na edição em português da revista Technology Review. 

Ela admite ter coragem de empreender, sim, pagando o preço por isso, que compreende o esforço de correr atrás de tudo ao mesmo tempo, fazendo duas faculdades, trabalhando, criando o Bliive. “Muitas vezes me sinto inexperiente e tenho medo de não dar certo, mas sempre aprendo que poderia ter sonhado ainda mais alto”, revela a empreendedora social. Como, apesar da insegurança, Lorrana nunca desistiu de seu sonho? Ela conta que o segredo foi espelhar-se na mãe, dona de uma pequena malharia que funciona no quintal da família. 

A mãe sempre trabalhou para ajudar no orçamento familiar –o pai é engenheiro florestal–e, ao mesmo tempo, cuidou dos dois filhos, Lorrana e seu irmão. “Quando começávamos a fazer barulho, brigando um com o outro, lembro que ela saía da malharia, atravessava o quintal e resolvia o problema lá em casa”, conta. “Isso fez toda a diferença para nossa educação.” 

Lorrana ainda não tem filhos, mas, inspirada na mãe, já desenvolveu uma noção relativamente clara de como conciliar o trabalho e a família. “É lógico que é um equilíbrio difícil de encontrar, mas sei que ter minha mãe presente na minha vida foi importante.” Pouco depois de lançar o Bliive, Lorrana recebeu prêmios nacionais relevantes, como o Jovens Inspiradores, com mais de 16 mil inscritos. Para quem a enxergava como uma “menina maluca”, os prêmios lhe serviram de credenciais. “Aprendi que, quando o medo paralisa, é importante continuar em movimento e deixá-lo passar –fazendo, arriscando.” 

**CAROLINA FERNANDEZ, A EMPREENDEDORA**

A promulgação, em 2013, da PEC das Domésticas deu um impulso ao negócio da psicóloga Carolina Fernandez. A nova legislação, que aumentou os direitos dos trabalhadores domésticos, fez com que muitas famílias passassem a contratar consultoria de organizações como a sua, a C2M RH. 

A empresa é especializada em recrutar, capacitar e recolocar no mercado profissionais como cozinheiros (fixos e para eventos), arrumadeiras, babás, caseiros, faxineiras, passadeiras, copeiras, governantas, jardineiros e motoristas particulares, além de personal organizers. Aos 38 anos, casada, mãe de um menino de 7, Carolina começou a trabalhar na área de recursos humanos ainda na faculdade, aos 19. Tem formação em coaching, gestão de projetos (certificação PMI) e entrevista por competência, e passou por empresas como Accenture, Embratel, Sita, Stefanini, Laboratório Daudt e Grupo Sá Cavalcante. Em 2008, saiu do mercado por motivos pessoais. 

Depois de anos de tentativas e muita dificuldade, conseguiu engravidar em 2006, mas perdeu um dos bebês e o outro nasceu com a saúde frágil, contraindo uma grave pneumonia ainda pequeno. Então, ela pediu demissão da empresa em que trabalhava na época, o Grupo Sá Cavalcante, para ficar em casa com o filho. Seu superior direto não aceitou a demissão e deu-lhe todo o apoio para que trabalhasse de casa. “Eles foram muito legais, mas eu sentia culpa por não estar indo ao trabalho e me desliguei.” 

A ideia de abrir a C2M RH veio da necessidade pessoal. Com o filho exigindo muitos cuidados após 60 dias internado na UTI por causa da pneumonia, ela começou a procurar uma babá. “Pedi indicação de amigas, o que não deu certo, e daí percebi que outras pessoas passavam pelo mesmo problema. Então busquei adaptar toda a minha vivência de RH ao cenário de residências e pequenas e médias empresas, e nasceu a C2M”, explica. Hoje com mais de 2 mil clientes cadastrados entre pessoas físicas, pequenas e médias empresas, operando em todo o estado do Rio de Janeiro, a carioca Carolina confessa que não sente saudade do tempo em que era uma executiva empregada em grandes empresas. 

Embora fosse bem remunerada e contasse com todos os benefícios, ela levava uma vida cansativa e estressante e, admite, não deu muita sorte com as equipes com que trabalhou antes do Sá Cavalcante. “Em uma empresa de locação de caminhões para grandes obras em que trabalhei, por exemplo, vi barbaridades em termos de gerentes humilhando funcionários.” A empreendedora testemunhou muitos chefes indiferentes às questões pessoais de colaboradores e não sente falta alguma disso. “O gestor diz quão importante é a qualidade de vida, mas a verdade é que é uma tortura o subordinado ter de lhe pedir para ir a uma reunião de escola dos filhos.” Para Carolina, o empreendedorismo foi uma terceira via na qual ela se realizou como profissional de recursos humanos e como mãe. “Eu me realizei empreendendo; há dificuldades, mas me motivam em vez de me paralisarem.”

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