Contribuir com a qualidade de vida das pessoas, promovendo um clima favorável à saúde dentro das organizações, é um dos grandes desafios do mercado corporativo no século 21. As empresas despertaram de vez para a necessidade de pensar iniciativas de atenção ao bem-estar físico, emocional e mental dos colaboradores consistentes e integradas, não só como estratégia de atração e engajamento de talentos, mas também como pilar importante de sustentabilidade dos negócios.
O tema não apenas ganha espaço nas organizações, como começa a ser incorporado na [cultura organizacional](https://www.revistahsm.com.br/post/cultura-forte-marca-forte), deixando de ser “problema do RH” e se tornando responsabilidade de todos. É assim que o banco BV, uma das maiores instituições financeiras do País em ativos, entende que o programa de saúde e bem-estar deve ser pensado: por todos, inclusive pela liderança.
Em 2017, a empresa lançou com um programa de [felicidade corporativa](https://www.revistahsm.com.br/post/produtividade-sustentavel-equilibrio-entre-trabalho-e-corpo), capitaneado por um squad dentro da área de pessoas e cultura, mas pensado e estruturado a partir da escuta dos colaboradores. O programa consiste na organização de oficinas de felicidade durante o ano que incluem reflexões e exercícios para promover mais alegria na vida, sobretudo no ambiente de trabalho.
Do seu lançamento até os dias atuais, foram implementadas 38 iniciativas para falar de felicidade e trabalhar o bem-estar, que contemplaram 2,5 mil dos 4 mil funcionários da organização. Desde o início da pandemia, algumas ações, especialmente focadas em saúde mental, foram intensificadas.
À frente deste programa, está Ana Paula Tarcia, diretora de pessoas e cultura do banco BV, que concedeu uma entrevista a __HSM Management__ sobre a importância de abordar a [felicidade no ambiente de trabalho](https://www.revistahsm.com.br/post/como-criar-uma-cultura-de-alta-performance-sem-afetar-a-saude-mental-da-sua), o programa de saúde e bem-estar da instituição, mas destacou: “A felicidade não é corporativa, mas do indivíduo.”
__HSM Management: O que motivou a criação de um programa de felicidade corporativa?__
__Ana Paula Tarcia:__ Acredito que não oferecer [flexibilidade](https://www.revistahsm.com.br/post/cinco-grandes-dilemas-que-o-rh-deve-enfrentar-em-2021), e formas de equilíbrio entre vida pessoal e profissional e ações de bem-estar, faz com que as empresas não sejam competitivas, em termos de atração dos melhores talentos e na redução de turnover. Nós ouvimos nossos colaboradores e eles dividiram conosco os temas que os incomodavam no dia a dia e que impactavam na sua felicidade. Diante disso, nos mobilizamos para criar iniciativas para tornar aquela situação mais leve.
__HSM Management: Quais foram os desafios para a implementação do programa na companhia?__
__Ana Paula Tarcia:__ Não se ensina felicidade. Não teria efeito algum se eu dissesse: agora vamos trabalhar a felicidade. Nós fizemos um vídeo perguntando aos funcionários o que era ser feliz para eles e cada um expressou o que queria. No fim, o tema foi despertando interesse de todos dentro da instituição. Começamos com cursos, ações de saúde física, podcast sobre ansiedade, apoio psicológico e até financeiro. Dois livros dão embasamento à nossa estratégia: *A Ciência da Felicidade* e *O Jeito Harvard de Ser Feliz*. São livros que falam sobre o impacto de estímulos negativos às pessoas na vida e trabalho e também de como construir bons relacionamentos [gera ambientes mais positivos](https://www.revistahsm.com.br/post/o-papel-de-empresas-e-liderancas-na-saude-mental-organizacional).
__HSM Management: Que medidas o banco BV implementou para apoiar os funcionários em tempos pandêmicos?__
__Ana Paula Tarcia:__ A pandemia reforçou iniciativas que já promovemos com colaboradores. O ambulatório interno do Hospital Sírio Libanês passou a dar suporte aos funcionários e dependentes com teleatendimento, incluindo apoio psicológico e nutricional. O programa BV Acolhe reforçou atendimento psicológico, orientação financeira, jurídica e em casos de violência doméstica. É um canal exclusivo, confidencial, criado para oferecer o apoio necessário aos colaboradores e seus familiares em situações diversas, 24 horas por dia, sete dias por semana,
A [liderança](https://www.mitsloanreview.com.br/post/liderando-para-o-futuro) foi treinada para agir com respeito a individualidade de cada um, promovemos palestras sobre temas variados, como educação dos filhos em casa, por exemplo, e levamos mais informação de saúde para evitar o contágio. Realizamos podcasts e lives com conteúdos sobre saúde mental, ansiedade, nutrição, alimentação, educação e meditação, e promovemos parcerias com aplicativos que fornecem aulas online de exercícios físicos.
Os funcionários receberam dicas tais como “marcar reuniões de 50 minutos”, para ter dez minutos de pauta, ou “bloquear o horário do almoço na agenda”. Horários mais flexíveis permitem trabalhar oito horas não sequenciais, das 6h às 20h. Além dessas ações, iniciamos [treinamento e sensibilização de saúde mental para área de pessoas e liderança](https://www.revistahsm.com.br/post/apenas-falar-de-saude-mental-nao-e-o-suficiente), com foco principal em promover segurança emocional dentro da companhia. Esse projeto não é apenas da área de pessoas e, sim, faz parte da cultura do banco com o envolvimento de todos os colaboradores, principalmente, a liderança.
Continuamos focados na pessoa e o que mais podemos fazer para que cada uma se sinta cada vez mais segura não só fisicamente como também emocionalmente no seu ambiente de trabalho.
__HSM Management: Como você percebe a relação do programa de felicidade com saúde mental dos colaboradores?__
__Ana Paula Tarcia:__ Bem-estar é diferente para cada um. Tem gente que fica satisfeita com uma sessão de mindfulness, mas tem gente que vai ficar bem se se sentir bem conectada com seu gestor. O segredo é construir esse ambiente positivo – porque é ele que [aumenta o engajamento](https://www.revistahsm.com.br/post/quatro-elementos-para-construir-um-ambiente-que-inspira-e-desenvolve-pessoas). Sem falar que o que todos buscam é um equilíbrio pessoal. Uma pessoa que não está bem emocionalmente tem maior dificuldade em falar de felicidade e maior chance de transtornos mentais. Pensar que somos um ser integral nos ajuda a entender onde podemos atuar e acolher da melhor forma cada pessoa.
__HSM Management: Que indicadores são usados para medir o sucesso desse programa?__
__Ana Paula Tarcia:__ Acredito que as oficinas contribuem para a felicidade dos funcionários, o que impacta nas métricas de clima de trabalho. A consultoria Korn Ferry mediu que nosso engajamento está em 87%. E 97% dos funcionários têm orgulho de trabalhar no BV e recomendariam o banco para os amigos. Além disso, nossa marca empregadora ficou mais forte e hoje 60% de quem o banco atrai não vem do mercado financeiro. Quando falamos em saúde mental, iniciaremos em breve um mapeamento para todos os colaboradores para obtermos uma fotografia do cenário atual e, anualmente, um acompanhamento destes números e ações de melhoria, se for o caso. Evitamos conectar qualquer um destes programas a produtividade, o que focamos, como disse, é promover um ambiente seguro emocionalmente, porque entendemos que isso é o correto a se fazer e está alinhado ao nosso propósito.
*Confira mais conteúdos sobre saúde mental em [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) e [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter).*