Por Juliana Ramalho, fundadora e CEO da Talento Sênior.
O envelhecimento populacional é uma realidade que já molda as temáticas mundiais e o mercado de trabalho. No Brasil, segundo o Censo 2022, a população brasileira encolheu 6,45%, reflexo de uma taxa de natalidade reduzida e de mudanças migratórias. Enquanto isso, o Brasil já conta com 54,8 milhões de pessoas com mais de 50 anos, um número que deve crescer significativamente nas próximas décadas. Em 2043, estima-se que um quarto da população terá mais de 60 anos, enquanto a presença de jovens será proporcionalmente menor.
Enquanto essa população cresce, o etarismo, ainda predomina no mercado de trabalho e empurra talentos experientes para a invisibilidade, privando empresas e sociedade de uma fonte valiosa de conhecimento e inovação. É inaceitável que, em pleno século XXI, profissionais maduros sejam descartados apenas pelo avanço da idade.
Empresas que desconsideram a inclusão de profissionais sêniores perdem a conexão com o mercado consumidor, já que o público 60+ representa uma parcela significativa do consumo. Deixar de incluí-los nas equipes criativas e estratégicas é como ignorar as necessidades do cliente final. Além disso, as empresas perdem também as habilidades essenciais desses profissionais que dominam a gestão de conflitos, possuem resiliência e contribuem com pensamento estratégico e experiência para resolver problemas complexos.
A diversidade geracional é um propulsor de criatividade. Equipes compostas por diferentes faixas etárias promovem um ambiente mais colaborativo e empático, essencial para o desenvolvimento de produtos e serviços inovadores.
Nas grandes empresas, há uma correlação entre profissionais mais velhos e alto custo. Em geral, se as pessoas têm muito tempo de casa, têm salários mais altos e deixam o plano de saúde mais caro. Se visto assim, resumido numa fórmula matemática que não soma as contribuições da sua experiência, os cortes sempre tendem a ter idades avançadas. Contudo, afirmações assim corroboram com o viés do etarismo e isso se perpetua na sociedade jovencentrica que temos.
O futuro depende da inclusão e se o mercado não se adaptar ao envelhecimento populacional, enfrentará uma escassez crítica de talentos, especialmente em setores que demandam conhecimentos técnicos e especializados. A inclusão de profissionais sêniores não é apenas uma questão ética, mas uma estratégia de sobrevivência econômica.
É preciso uma reformulação das diretrizes educacionais. Profissionais de 45 ou 55 anos podem e devem buscar uma segunda carreira, mas para isso não devem enfrentar barreiras desnecessárias, como vestibulares voltados para jovens recém-saídos do ensino médio. As universidades precisam criar formatos acessíveis e atraentes para atrair esse público e voltar a encher suas salas de aulas.
Em fóruns globais, como o Summit of the Future da ONU, que tive a oportunidade de participar este ano, infelizmente ainda não percebo o tema longevidade humana sendo tratado como uma pauta prioritária e urgente. Assim como trabalhamos para combater mudanças climáticas e garantir um futuro sustentável, precisamos criar um mercado de trabalho que valorize todas as gerações para este novo mundo
É preciso repensar paradigmas. Não podemos mais criar inovações em modelos de trabalho já superados. A era industrial, com jornadas rígidas e hierarquias inflexíveis, ficou para trás. A gestão digital e os novos modelos de trabalho, como o TaaS, representam uma oportunidade para as empresas usufruírem da experiência dos sêniores e alavancarem resultados.
Precisamos mudar a narrativa e as práticas de contratação. O conceito de Talent as a Service (TaaS), que conecta profissionais experientes a demandas específicas de empresas é um modelo inovador que tem gerado oportunidades de continuidade de carreira profissional às pessoas 45+. Ele permite que sêniores trabalhem de forma flexível, atendendo a várias organizações simultaneamente, sem os custos associados aos contratos tradicionais.
Por este conceito de contrato de trabalho as empresas acessam o conhecimento de executivos experientes em projetos específicos, sem a necessidade de contratos longos. Já nas empresas, os profissionais maduros atuam como mentores naturais para as gerações mais jovens, contribuindo para o desenvolvimento interno das empresas.
O envelhecimento mundial não deve ser encarado como um problema, mas como uma oportunidade para construir um mercado de trabalho mais inclusivo, inovador e resiliente. Afinal, a riqueza de um time está na diversidade e a força de uma sociedade está em valorizar todos os seus talentos de todas as idades.