Tecnologia e inovação

AI-first e a nova era da internet

Inteligência artificial deixou de ser exclusividade das gigantes de tecnologia e, cada vez mais, está no dia a dia de pequenas empresas
Sérgio Passos é cofundador e diretor de tecnologia (CTO) em Take Blip. É graduado em ciência da computação (UFMG), pós-graduado em engenharia de telecomunicações (UFMG) e mestre em administração de empresas com ênfase em estratégia e marketing (PUC Minas). É investidor e mentor para startups e consultor sobre tecnologias móveis.

Compartilhar:

A inteligência artificial (IA) não é mais a mesma. Está muito melhor e também mais acessível. Ganhou escala e deixou de ser privilégio das big techs. Não está mais restrita a um grupo de desenvolvedores ou a um clã de moscas brancas do mercado, profissionais cada vez mais raros.

Esse movimento de democratização vem desbravando caminhos para uma nova revolução digital, a nova era da internet. Estamos falando da AI-first.

Talvez a expressão AI-first ainda possa soar estranha, mas ela está bem mais próxima do dia a dia do que se imagina. Em um mundo AI-first, as empresas aplicam algoritmos de inteligência artificial de forma rotineira para entender melhor seus clientes, tomar decisões estratégicas e oferecer melhores experiências baseadas no histórico de todas as nossas interações no mundo virtual.

Não é uma novidade. Google e Meta já se apresentavam como empresas AI-first bem antes do movimento de digitalização global forçado pela pandemia de covid-19. A mudança está no acesso a essa tecnologia, antes disponível apenas para grandes empresas e que, agora, está ao alcance de pequenas e já é realidade para o público final.

Essa democratização só é possível porque o acesso a ferramentas que embarcam soluções de inteligência artificial ficou mais fácil e barato. Com elas, não é preciso ter uma equipe de TI ultraespecializada, porque são amigáveis e mais fáceis de usar. A IA está entrando naturalmente no cotidiano de um número maior de empresas por soluções especialistas.

O resultado desse movimento é a liberdade para que organizações de menor porte possam contar com recursos de IA no dia a dia do negócio, sem precisar destinar um orçamento parrudo para a contratação de especialistas. Vivemos um apagão de profissionais de tecnologia, então, contar com a possibilidade de aproveitar ao máximo os recursos da inteligência artificial sem precisar montar uma equipe com formação sofisticada abre caminho para a explosão do uso dessa tecnologia.

A adoção em escala da inteligência artificial nos remete à revolução provocada pela computação em nuvem, em uma era em que o uso de computadores de alto desempenho dependia de poderosos data centers. Antes da nuvem, possuir um data center e contar com computadores com alto poder de processamento era um luxo restrito a grandes empresas.

## Inteligência para aumentar receita
É comum no mundo corporativo que os recursos de IA sejam usados para suportar ações nas camadas mais altas de gestão. Mas a beleza da transformação que a AI-first traz é exatamente o pleno uso da inteligência artificial em todos os níveis da organização.

Um dos maiores benefícios da aplicação do conceito é promover melhorias a partir do “customer feedback loop”. Em uma tradução livre, essa expressão significa decodificar os sinais que os clientes fornecem sobre a experiência com a marca, em qualquer oportunidade de comunicação.

Uma empresa AI-first vai aplicar os algoritmos de inteligência artificial para aprender mais sobre cada cliente em cada uma das interações. Quanto mais rápido for esse entendimento, mais agilidade ela terá para reagir e entregar uma experiência melhor.

No entanto, os desafios não se resumem a conhecer o cliente, porque a informação que carrega valor é aquela que oferece um conjunto de dados para que seja tomada uma ação efetiva, como a entrega de uma experiência única para o cliente. A AI-first é, portanto, uma enorme aliada das áreas de marketing e relacionamento com o cliente.

É preciso, ainda, deixar bem claro que a AI-first não chega para substituir nenhum colaborador. O papel dela é empoderar a atividade desse funcionário, sobretudo se ele estiver na ponta da cadeia, estabelecendo o contato direto com o consumidor.

Na delicada equação de equilibrar custos com o atendimento e investir em recursos de vendas, a inteligência artificial chega para aumentar a receita. Isso é imprescindível, porque uma das maiores dificuldades das empresas hoje é conseguir entregar a informação para quem precisa atuar em tempo real e resolver problemas de relacionamento com os clientes.

Em uma empresa AI-first, um atendimento no SAC pode ser uma excelente oportunidade de venda. O atendente nem precisa ter acesso a dados pessoais do cliente, a IA faz esse trabalho e entrega a informação que realmente interessa. Na prática, ele só precisa saber qual o momento exato de oferecer um produto e/ou serviço que fará diferença.

## Passo a passo para decisões inteligentes
A aplicação de IA para geração de receita precisa seguir um passo a passo. A primeira providência é criar uma base de dados com os registros de todas as impressões digitais e físicas dos consumidores com a marca. Isso vale para navegação em sites, redes sociais, aplicativos e até participação em eventos patrocinados.

O segundo momento é dedicado à criação do modelo de IA, que é basicamente a segmentação de clientes a partir do seu comportamento e do entendimento de padrões. É necessário identificar padrões que levaram os clientes a converter alguma ação relacionada à marca, desde a resolução de um problema até uma boa experiência de compra, com recomendação positiva.

Com esses dados, é possível definir os grandes objetivos que a empresa tem com seus diversos públicos. A partir dessa segmentação, ela enxerga o caminho feliz para atingir essa meta. Uma vez entendido o padrão, é possível criar um modelo preditivo.

Após a construção desse modelo, será necessário ter um conjunto de ferramentas, automações e relatórios para fornecer informações. Esses dados são essenciais para que os funcionários atuantes na linha de frente com o cliente saibam como agir. É o que chamamos de melhor próxima ação para ser tomada com determinado cliente, como uma recomendação que vai deixá-lo feliz com a marca.

O papel da IA é deixar o trabalho mais assertivo e verdadeiramente personalizado. Porém, essa transformação não acontece em um passe de mágica. Só há resultados quando a empresa inteira, do tomador de decisão à equipe que está em contato direto com o cliente, tem acesso a recursos de IA. A melhoria contínua dos serviços e produtos depende de uma mudança cultural nos processos internos da empresa. A tecnologia é inteligente, mas não age sozinha.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Gestão de Pessoas
Conheça o conceito de Inteligência Cultural e compreenda os três pilares que vão te ajudar a trazer clareza e compreensão para sua comunicação interpessoal (e talvez internacional)

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
Liderança
Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.

Athila Machado

6 min de leitura
Empreendedorismo
Após a pandemia, a Geração Z que ingressa no mercado de trabalho aderiu ao movimento do "quiet quitting", realizando apenas o mínimo necessário em seus empregos por falta de satisfação. Pesquisa da Mckinsey mostra que 25% da Geração Z se sentiram mais ansiosos no trabalho, quase o dobro das gerações anteriores. Ambientes tóxicos, falta de reconhecimento e não se sentirem valorizados são alguns dos principais motivos.

Samir Iásbeck

4 min de leitura
Empreendedorismo
Otimizar processos para gerar empregos de melhor qualidade e remuneração, desenvolver produtos e serviços acessíveis para a população de baixa renda e investir em tecnologias disruptivas que possibilitem a criação de novos modelos de negócios inclusivos são peças-chave nessa remontagem da sociedade no mundo

Hilton Menezes

4 min de leitura
Finanças
Em um mercado cada vez mais competitivo, a inovação se destaca como fator crucial para o crescimento empresarial. Porém, transformar ideias inovadoras em realidade requer compreender as principais fontes de fomento disponíveis no Brasil, como BNDES, FINEP e Embrapii, além de adotar uma abordagem estratégica na elaboração de projetos robustos.

Eline Casalosa

4 min de leitura
Empreendedorismo
A importância de uma cultura organizacional forte para atingir uma transformação de visão e valores reais dentro de uma empresa

Renata Baccarat

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Em meio aos mitos sobre IA no RH, empresas que proíbem seu uso enfrentam um paradoxo: funcionários já utilizam ferramentas como ChatGPT por conta própria. Casos práticos mostram que, quando bem implementada, a tecnologia revoluciona desde o onboarding até a gestão de performance.

Harold Schultz

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Diferente da avaliação anual tradicional, o modelo de feedback contínuo permite um fluxo constante de comunicação entre líderes e colaboradores, fortalecendo o aprendizado, o alinhamento de metas e a resposta rápida a mudanças.

Maria Augusta Orofino

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial, impulsionada pelo uso massivo e acessível, avança exponencialmente, destacando-se como uma ferramenta inclusiva e transformadora para o futuro da gestão de pessoas e dos negócios

Marcelo Nóbrega

4 min de leitura
Liderança
Ao promover autonomia e resultados, líderes se fortalecem, reduzindo estresse e superando o paternalismo para desenvolver equipes mais alinhadas, realizadas e eficazes.

Rubens Pimentel

3 min de leitura