Uncategorized

As lições dos jogos olímpicos

Aprendizados e reflexões que ficaram de legado para o mundo corporativo após o adeus dos esportistas a Tóquio
Jornalista, com MBA em Recursos Humanos, acumula mais de 20 anos de experiência profissional. Trabalhou na Editora Abril por 15 anos, nas revistas Exame, Você S/A e Você RH. Ingressou no Great Place to Work em 2016 e, desde Janeiro de 2023 faz parte do Ecossistema Great People, parceiro do GPTW no Brasil, como diretora de Conteúdo e Relações Institucionais. Faz palestras em todo o País, traçando análises históricas e tendências sobre a evolução nas relações de trabalho e seu impacto na gestão de pessoas. Autora dos livros: *Grandes líderes de lessoas*, *25 anos de história da gestão de pessoas* e *Negócios nas melhores empresas para trabalhar*, já visitou mais de 200 empresas analisando ambientes de trabalho.

Compartilhar:

O esporte sempre nos ensina. Seja individualmente, coletivamente, praticando ou assistindo, os elementos em torno de competições, desafios e superações sempre nos brinda com lições poderosas para a vida. E para a vida profissional, principalmente. Ao assistir boa parte da última edição dos Jogos Olímpicos, como brasileira, eu torci; como profissional, eu aprendi e, como uma eterna contadora de histórias, compartilho aqui algumas das reflexões que a Olimpíada de Tóquio me despertou.

## Simone Biles e a saúde mental de cada dia

A ginasta americana chegou com todos os holofotes em cima de sua performance. Esperava-se da atleta, multimedalhista no Rio e um dos nomes mais aclamados das Olímpiadas, nada menos do que ouros e recordes. Assim como esperamos algum dia de Michael Phelps e Usain Bolt ou ainda do icônico time de basquete americano da edição de 92, em Barcelona, reconhecido como dream team. Ela mesma se colocou essa pressão, ao bordar em seu uniforme o símbolo de uma cabra, GOAT em inglês, em referência à sigla para “Greatest off all Time” afirmando que só queria que as crianças não tivessem vergonha de serem muito boas ou até mesmo ótimas no que fazem. Mas ela desistiu.

Alegando preservar sua saúde física e mental, teve a coragem de abandonar as competições ao perceber que não teria condições de continuar. “Às vezes, temos de dar um passo atrás”, reconheceu a atleta. Trabalhar apenas por performance, meta e reconhecimento (seja ele financeiro, do público ou do chefe) já está mais do que provado que não traz realização.

Insistimos às vezes em assumir os papéis de super-homens e mulheres maravilhas porque fomos nos acostumando a colher bons resultados – e gostamos dos rótulos que recebemos. Batemos metas, ganhamos bônus, estrelinhas e reconhecimentos e isso sempre é muito bom, mas não é o que faz a diferença no final das contas. Biles percebeu isso num momento delicado, mas teve a coragem de dizer não e de reconhecer que – embora ela mesma tenha se autointitulado GOAT – ninguém é perfeito. E tudo bem.

## O “piti” de Djokovic

O número 1 do Tênis no ranking mundial, que já tinha afirmado antes que “lidar com pressão é um privilégio e que ele aprendeu a administrá-la”, sendo esse um caminho natural para quem quer chegar ao topo, perdeu o controle na disputa pela medalha de bronze contra o espanhol Pablo Carreno Busta.

Assim como Simone Biles, Djokovic era o favorito à medalha de ouro – e voltou para casa sem nenhuma para sua coleção de títulos. Perdeu para o espanhol e desistiu da disputa – também pelo bronze – na competição por duplas. Entre alguns erros na partida contra Pablo Busta, Djokovic chegou a jogar a raquete para longe e, em outra oportunidade, destruiu outra raquete ao batê-la com força. A pressão, meu caro Djokovic, pode ser um privilégio dos que buscam o topo, mas administrá-la não é tão simples assim. Sentir-se derrotado não é fácil em qualquer arena – seja ela política, esportiva ou corporativa – e demonstrar emoções é algo natural. Bancar o coach de autoajuda e exibir uma superioridade emocional que não é real não ajuda nem você nem outros atletas.

## A beleza da equidade de gênero

Falamos tanto sobre diversidade no mundo corporativo que ver a equidade de gênero ganhando espaço nos Jogos mostra que estamos avançando nessa pauta. Tivemos novos eventos de gênero misto em sete esportes – homens e mulheres (juntos) defendendo a bandeira de seu país em alguma modalidade: tiro com arco, atletismo, judô, tiro, natação, tênis de mesa, triatlo. Não assisti a todos, mas ver o revezamento da natação entre nadadoras e nadadores e as equipes mistas de judô lutando de igual para igual me provocou uma sensação boa. Eram homens e mulheres torcendo por si e pelo outro (a), incentivando e querendo que o próximo fosse melhor que ele mesmo (a). Afinal, somos mais fortes e muito melhores quando unimos nossas forças. Equidade é isso. Que bom que a Olímpiada tem aumentado a participação de equipes mistas e que esse exemplo ajude a derrubar os estereótipos de gênero, que classificam esportes de meninos e meninas de forma diferente.

## Trabalho com diversão

O que vimos dentre vários medalhistas brasileiros foi a leveza com que disputaram suas competições. Já falamos sobre pressão – e, claro, que eles também sofreram suas pressões, mas as declarações de Ítalo Ferreira (ouro no surf); Rayssa Leal (prata no Skate) e Rebeca Andrade (ouro e prata da ginástica) trouxeram uma palavra fundamental quando falamos sobre trabalho: diversão. Trabalhamos para pagar contas, para bater metas, para receber os tapinhas nas costas e benefícios, mas sobretudo, devemos trabalhar por realização. Esse sentimento de fazer o que amamos, de estar lá dando o nosso melhor porque é o que fazemos com paixão sempre será a melhor definição de sucesso.

## O ouro dividido

Para alguns, uma falta de competitividade; para outros, um belo exemplo de colaboração. O empate na disputa pelo salto em altura masculino entre o italiano Gianmarco Tamberi e o catari Mutaz Barshim foi uma das principais histórias da Olímpiada de Tóquio. Ao decidirem parar de disputar o primeiro lugar em um determinado momento da competição, os atletas dividiram sua medalha de ouro e subiram juntos ao local mais alto do pódio.

Em tempos de trabalho colaborativo, de gestão por squads e de pensar o talento como um ecossistema em que é muito mais interessante trabalhar juntos do que separados, vale a reflexão. Afinal, qual seria a melhor tradução para espírito olímpico do que essa?

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

Saúde psicossocial é inclusão

Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Uncategorized
A inovação vai além das ideias: exige criatividade, execução disciplinada e captação de recursos. Com métodos estruturados, parcerias estratégicas e projetos bem elaborados, é possível transformar visões em impactos reais.

Eline Casasola

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA é um espelho da humanidade: reflete nossos avanços, mas também nossos vieses e falhas. Enquanto otimiza processos, expõe dilemas éticos profundos, exigindo transparência, educação e responsabilidade para que a tecnologia sirva à sociedade, e não a domine.

Átila Persici

9 min de leitura
ESG

Luiza Caixe Metzner

4 min de leitura
Finanças
A inovação em rede é essencial para impulsionar P&D e enfrentar desafios globais, como a descarbonização, mas exige estratégias claras, governança robusta e integração entre atores para superar mitos e maximizar o impacto dos investimentos em ciência e tecnologia

Clarisse Gomes

8 min de leitura
Empreendedorismo
O empreendedorismo no Brasil avança com 90 milhões de aspirantes, enquanto a advocacia se moderniza com dados e estratégias inovadoras, mostrando que sucesso exige resiliência, visão de longo prazo e preparo para as oportunidades do futuro

André Coura e Antônio Silvério Neto

5 min de leitura
ESG
A atualização da NR-1, que inclui riscos psicossociais a partir de 2025, exige uma gestão de riscos mais estratégica e integrada, abrindo oportunidades para empresas que adotarem tecnologia e prevenção como vantagem competitiva, reduzindo custos e fortalecendo a saúde organizacional.

Rodrigo Tanus

8 min de leitura
ESG
O bem-estar dos colaboradores é prioridade nas empresas pós-pandemia, com benefícios flexíveis e saúde mental no centro das estratégias para reter talentos, aumentar produtividade e reduzir turnover, enquanto o mercado de benefícios cresce globalmente.

Charles Schweitzer

5 min de leitura
Finanças
Com projeções de US$ 525 bilhões até 2030, a Creator Economy busca superar desafios como dependência de algoritmos e desigualdade na monetização, adotando ferramentas financeiras e estratégias inovadoras.

Paulo Robilloti

6 min de leitura
ESG
Adotar o 'Best Before' no Brasil pode reduzir o desperdício de alimentos, mas demanda conscientização e mudanças na cadeia logística para funcionar

Lucas Infante

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, a robótica ganhou destaque como tecnologia transformadora, com aplicações que vão da saúde e criatividade à exploração espacial, mas ainda enfrenta desafios de escalabilidade e adaptação ao mundo real.

Renate Fuchs

6 min de leitura