Diversidade

As organizações também precisam ser uma rede de apoio às mulheres

No Dia Internacional das Mulheres, as empresas têm que se conscientizar sobre o papel delas tanto na sociedade quanto no ambiente corporativo
Virginia Vairo é head de pessoas e cultura na Betterfly Brasil, plataforma de benefícios corporativos que integra bem-estar, proteção financeira e impacto social.

Compartilhar:

O Dia Internacional das Mulheres, comemorado no dia 8 de março, é uma data para reafirmar compromissos que são diários, principalmente, no mercado de trabalho. De acordo com o McKinsey Study, empresas com mais mulheres na liderança, quando comparadas com a média da indústria, possuem um resultado operacional 48% maior e uma força de crescimento no faturamento 70% maior. Mesmo assim, a mulher ainda é vista em uma posição desigual a dos homens e, muitas vezes, a maternidade é uma das discriminações vivenciadas no mercado de trabalho. Essa barreira existe desde o processo seletivo, com perguntas como “você tem filhos?” ou “com quem vai deixá-lo quando estiver doente?”.

Há muitos estudos e evidências que demonstram a dificuldade de reinserção dessa mulher ao retornar de uma licença-maternidade e do quanto esse é um dos motivos de uma distância na evolução da carreira feminina ou de uma remuneração com menos equidade em relação aos seus pares do sexo masculino. Levantamento realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou que cerca de 50% das mulheres perdem o emprego após um ano e meio do retorno da licença-maternidade. A maior parte das demissões se dá sem justa causa ou por iniciativa do empregador.

Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que, em 2021, apenas 54,6% das mães de 25 a 49 anos, com crianças de até 3 anos, estavam empregadas. A situação é ainda pior no caso das mães negras: só 49,7% delas tinham emprego. E, mesmo quem tinha um cargo, sofria com a falta de acolhimento nas organizações.

Esse gap traz questões mais graves como, por exemplo, o grande número de mulheres pobres na velhice. Ou seja, o fato de as mulheres pararem para ter seus filhos e retornarem em condições diferentes acarreta problemas maiores na sociedade. O livro *Valor Feminino*, da escritora e pesquisadora Andrea Villas Boas, traz alguns dados preocupantes entre as brasileiras: três em cada quatro idosos pobres são mulheres; sete em dez brasileiras enfrentarão a pobreza em algum momento; e na mesma função que homens, as mulheres recebem salário em média 27% menores.

Recentemente, muitas empresas passaram a oferecer diversos benefícios adicionais ao da lei para tentar diminuir essa diferença social como, por exemplo, licença extendida, congelamento de óvulos, auxílio-creche etc. Na tentativa de oferecer outro tipo de apoio que dê condições melhores para essa família.

No entanto, ainda faltam programas de re-onboarding que recebam essa mãe de forma mais integral, entendendo os momentos em que ela vai precisar se ausentar para retirar leite ou sair mais cedo porque o bebê está doente. É preciso compreensão de que isso é um momento e não toda a jornada profissional dela.

Então, é necessário uma rede de apoio do time, em que o líder e a empresa olhem com uma conscientização maior para esse momento em que a mãe pode estar emocionalmente sensível. Essa mudança de consciência deve ser valorizada e deve estar no discurso e na cultura da empresa, como um desejo e um pacto de romper o ciclo que se perpetua de milhares de mulheres muito mais vulneráveis em seus empregos e momentos de carreira.

Outro fator que pode contribuir para melhorar esses índices é tomar decisões olhadas no individual, mas que impactam a sociedade. Ou seja, analisar como podemos contribuir, com um olhar mais sistêmico e de longo prazo, buscando maiores benefícios para aquela pessoa, família e sociedade. Lutar contra uma decisão de desligamento após o retorno de uma licença-maternidade fortalece o time, traz o desafio de conciliar tempos e espaços e faz com que todos juntos busquem soluções. É preciso um olhar mais humano.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

ESG
Adotar o 'Best Before' no Brasil pode reduzir o desperdício de alimentos, mas demanda conscientização e mudanças na cadeia logística para funcionar

Lucas Infante

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, a robótica ganhou destaque como tecnologia transformadora, com aplicações que vão da saúde e criatividade à exploração espacial, mas ainda enfrenta desafios de escalabilidade e adaptação ao mundo real.

Renate Fuchs

6 min de leitura
Inovação
No SXSW 2025, Flavio Pripas, General Partner da Staged Ventures, reflete sobre IA como ferramenta para conexões humanas, inovação responsável e um futuro de abundância tecnológica.

Flávio Pripas

5 min de leitura
ESG
Home office + algoritmos = epidemia de solidão? Pesquisa Hibou revela que 57% dos brasileiros produzem mais em times multidisciplinares - no SXSW, Harvard e Deloitte apontam o caminho: reconexão intencional (5-3-1) e curiosidade vulnerável como antídotos para a atrofia social pós-Covid

Ligia Mello

6 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo de incertezas, os conselhos de administração precisam ser estratégicos, transparentes e ágeis, atuando em parceria com CEOs para enfrentar desafios como ESG, governança de dados e dilemas éticos da IA

Sérgio Simões

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Os cuidados necessários para o uso de IA vão muito além de dados e cada vez mais iremos precisar entender o real uso destas ferramentas para nos ajudar, e não dificultar nossa vida.

Eduardo Freire

7 min de leitura
Liderança
A Inteligência Artificial está transformando o mercado de trabalho, mas em vez de substituir humanos, deve ser vista como uma aliada que amplia competências e libera tempo para atividades criativas e estratégicas, valorizando a inteligência única do ser humano.

Jussara Dutra

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.

Vanda Lohn

5 min de leitura
Empreendedorismo
Afinal, o SXSW é um evento de quem vai, mas também de quem se permite aprender com ele de qualquer lugar do mundo – e, mais importante, transformar esses insights em ações que realmente façam sentido aqui no Brasil.

Dilma Campos

6 min de leitura
Uncategorized
O futuro das experiências de marca está na fusão entre nostalgia e inovação: 78% dos brasileiros têm memórias afetivas com campanhas (Bombril, Parmalat, Coca-Cola), mas resistem à IA (62% desconfiam) - o desafio é equilibrar personalização tecnológica com emoções coletivas que criam laços duradouros

Dilma Campos

7 min de leitura