Artigo – Planejamento tático-operacional

Calibrar eficiência e resiliência ou morrer

Eficiência sempre foi o santo graal operacional das organizações. Mas agora a ordem é planejar a resiliência calibrando seus tradeoffs com resiliência – em contextos isolados ou mobilizando os rivais
__Martin Reeves__ é diretor global do Bruce Henderson Institute, o think tank do Boston Consulting Group (BCG) dedicado a gerar novas ideias em estratégia e gestão para a empresa. Sócio do BCG desde 2008, é especialista em estratégia e coautor do livro Your Strategy Needs a Strategy.

Compartilhar:

Nos últimos 25 anos, as empresas que superaram o resultado médio de seus setores durante crises tiveram duas vezes mais chances de melhorar o desempenho de longo prazo. Mais importante: o desempenho durante crises tem um impacto sobre o retorno total ao investidor no longo prazo (TSR, na sigla em inglês) três vezes maior do que o impacto do desempenho durante períodos de estabilidade.

Ao planejar a execução, as lideranças passam a procurar reconfigurar suas empresas para serem capazes de prosperar em qualquer ambiente econômico – o que requer investir em capacidades e estruturas que aumentem a resiliência. Aí, sabe-se, há um tradeoff a fazer: investimentos em resiliência podem reduzir a eficiência no curto prazo. Além disso, seus benefícios da resiliência são incertos – se houver, só se revelam em longo prazo. Como fazer o tradeoff?

A abordagem tradicional dos líderes para isso é projetar os benefícios e compará-los com os custos usando a análise de fluxo de caixa descontado. Uma empresa que queira se proteger contra uma possível interrupção de fornecimento fará esse cálculo.

Só que essa abordagem tem limitações importantes. Uma é que, para fazermos a previsão dos benefícios de construir novos relacionamentos com fornecedores, precisamos saber a frequência e a gravidade dos choques que afetarão os fornecedores existentes. A abordagem baseada em projeções para fazer o tradeoff entre eficiência e resiliência não funciona bem tampouco para a variação das respostas a crises. Ela calcula o valor da resiliência limitado ao patamar de sustentar a operação, mas empresas resilientes conseguem encontrar oportunidades em crises. Por exemplo, uma companhia que se supera durante uma crise pode se aproveitar dessa vantagem para adquirir um concorrente em dificuldades ou entrar em um novo mercado, beneficiando-se no longo prazo. São oportunidades valiosas e não facilmente quantificáveis.

Em nossa visão, os gestores devem tomar suas decisões não com base em projeções, mas em informações. Estudos de sistemas complexos e biologia revelam cinco princípios para enfrentar fazer isso.

## “Bom o suficiente”
Pode ser vantajoso nos negócios satisfazer-se com menos, embora isso contraste muito com a cultura da otimização em que somos criados. Soluções boas o suficiente geralmente são simples de entender e mais rápidas e fáceis de implementar. Talvez não produzam o resultado ideal, mas este implicaria fazer extensa coleta de dados e análises de todas as possibilidades futuras – exercício demorado que ficaria desatualizado antes de ser concluído talvez.

Para executar bem uma estratégia boa o suficiente, os líderes precisam testar suas empresas em diferentes cenários plausíveis. Esses podem ser baseados em fenômenos (“nossos negócios sobreviveriam se uma pandemia global ocorresse?”) ou em resultados (“nossos negócios sobreviveriam se as receitas caíssem 30% por algum motivo?”).

Uma variação dessa abordagem é usar o bom o suficiente para definir um conjunto viável de opções e procurar refinar cada uma, mantendo a ideia de “o ótimo é inimigo do bom”. Esse é o modelo seguido pelos principais bancos do mundo desde a crise de 2008. A relativa resiliência dos bancos em meio à covid-19 em comparação com crises passadas comprova o acerto do modelo.

Outro benefício de adotar essas soluções é que elas são mais robustas em uma gama maior de situações. Exemplo: todos os governos do mundo lideram o tradeoff entre mitigar a propagação da doença e permitir a atividade econômica. A solução “ideal”, como determinada em Princeton, dizia que lockdowns curtos e precisamente cronometrados seriam o melhor a fazer – mas isso era frágil e tornou-se altamente ineficaz. As soluções boas o suficiente, como um distanciamento social sustentado, mas bem menos severo que um lockdown, controlaram mais a doença em diferentes lugares e situações.

## Aprendizado
Uma solução desse tipo seria “avaliar a resiliência da empresa em crises passadas”, jogando luz sobre as escolhas feitas: a empresa estava suficientemente preparada? Quais mecanismos de resiliência funcionaram melhor ou pior do que o esperado?

Para tanto, as organizações podem estabelecer momentos de reflexão como parte do planejamento, incluindo sessões de post-mortem do desempenho em crises com a análise do que poderia ter sido feito diferente. Taiwan, que ficou estudando a epidemia de SARS por um tempo, recalibrou seus planos de resposta a uma possível volta da SARS. Assim, estava mais bem preparado para responder quando a covid-19 surgiu.

Outra estratégia de aprendizado é “não perder de vista os impactos históricos”. Claro que novos eventos podem não ter precedentes, mas para as ameaças que seguem o modelo de distribuição da lei de potência, como quebras do mercado de ações, a probabilidade de impactos sem precedentes pode ser aproximadamente calibrada mesmo quando há ineditismo. Por exemplo, a ocorrência de um terremoto é imprevisível, mas sua distribuição em termos de intensidade e frequência permite considerar a ocorrência de tremores de certa magnitude na criação de normas de construção civil.

## Adaptação
O equilíbrio desejado entre eficiência e resiliência pode mudar ao longo do tempo. Um princípio orientador adotado por organizações resilientes é a adaptatividade: a capacidade de recalibrar rapidamente os tradeoffs conforme necessário. Três iniciativas ajudam nisso. __Manter opções de ação__ é uma maneira de agir com menor custo, baseando-se em novas informações e reequilibrando rapidamente resiliência e eficiência. Por exemplo, ter reservas de caixa, levantar capital preventivamente, manter uma linha de crédito rotativo aberta. __Desenvolver sistemas de resposta reversíveis__ permitem que deem resposta a impactos de curto prazo sem ficarem presas a acordos de mais longo prazo que podem ser caros ou restritivos. __Melhorar a desenvoltura nos negócios__ pode ajudar as empresas a permanecer ágeis e a revisar suas respostas às mudanças no ambiente externo. Acelerar a velocidade de uma organização aumenta a eficiência, ajudando as empresas a implementarem as ações desejadas de modo mais rápido, e também aumenta a resiliência, reduzindo o tempo de reação para se adaptar a crises.

![-041-044 TradeOff-4- quadro 1](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/5hYrEUyLYjSPZ28PncqQlq/53ea1db89dc9fde9712b9670f9c5957e/-041-044_TradeOff-4-_quadro_2.png)

Esses três princípios ajudam as empresas a calibrar tradeoffs entre eficiência e resiliência em um contexto isolado. Mas os líderes também podem fazer isso em uma perspectiva competitiva {o diagrama abaixo mostra resultados}. Há quatro iniciativas adicionais a tomar {veja acima}

FAZER CONCESSÕES ENTRE RESILIÊNCIA E EFICIÊNCIA É DIFÍCIL porque as abordagens de otimização, tradicionais, não servem a isso. Mas deixou de ser um desafio que possa ser evitado só por ser difícil.

![-041-044 TradeOff-4- quadro 1](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/7kfGFdDSwjF5lY1Mf7ICH9/7437885e28de2ad1fcbef52cc5cea74e/-041-044_TradeOff-4-_quadro_1.png)

*© BCG Henderson Institute
Editado com autorização do BCG Henderson Institute. Todos os direitos reservados.*

Artigo publicado na HSM Management nº 155

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança na gestão do mundo híbrido

Este modelo que nasceu da necessidade na pandemia agora impulsiona o engajamento, reduz custos e redefine a gestão. Para líderes, o desafio é alinhar flexibilidade, cultura organizacional e performance em um mercado cada vez mais dinâmico.

Data economy: Como a inteligência estratégica redefine a competitividade no século XXI

Na era digital, os dados emergem como o ativo mais estratégico, capaz de direcionar decisões, impulsionar inovações e assegurar vantagem competitiva. Transformar esse vasto volume de informações em valor concreto exige infraestrutura robusta, segurança aprimorada e governança ética, elementos essenciais para fortalecer a confiança e a sustentabilidade nos negócios.

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

ESG, Inteligência artificial e gestão, Diversidade, Diversidade
Racismo algorítimico deve ser sempre lembrado na medida em que estamos depositando nossa confiança na inteligência artificial. Você já pensou sobre esta necessidade neste futuro próximo?

Dilma Campos

Inovação
A transformação da cultura empresarial para abraçar a inovação pode ser um desafio gigante. Por isso, usar uma estratégia diferente, como conectar a empresa a um hub de inovação, pode ser a chave para desbloquear o potencial criativo e inovador de uma organização.

Juliana Burza

ESG, Diversidade, Diversidade, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça os seis passos necessários para a inserção saudável de indivíduos neuroatípicos em suas empresas, a fim de torná-las também mais sustentáveis.

Marcelo Franco

Lifelong learning
Quais tendências estão sendo vistas e bem recebidas nos novos formatos de aprendizagem nas organizações?

Vanessa Pacheco Amaral

ESG
Investimentos significativos em tecnologia, infraestrutura e políticas governamentais favoráveis podem tornar o país líder global do setor de combustíveis sustentáveis

Deloitte

Estratégia, Liderança, times e cultura, Cultura organizacional
À medida que o mercado de benefícios corporativos cresce as empresas que investem em benefícios personalizados e flexíveis não apenas aumentam a satisfação e a produtividade dos colaboradores, mas também se destacam no mercado ao reduzir a rotatividade e atrair talentos.

Rodrigo Caiado

Empreendedorismo, Liderança
Entendimento e valorização das características existentes no sistema, ou affordances, podem acelerar a inovação e otimizar processos, demonstrando a importância de respeitar e utilizar os recursos e capacidades já presentes no ambiente para promover mudanças eficazes.

Manoel Pimentel

ESG, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça e entenda como transformar o etarismo em uma oportunidade de negócio com Marcelo Murilo, VP de inovação e tecnologia da Benner e conselheiro do Instituto Capitalismo Consciente.

Marcelo Murilo

ESG
Com as eleições municipais se aproximando, é crucial identificar candidatas comprometidas com a defesa dos direitos das mulheres, garantindo maior representatividade e equidade nos espaços de poder.

Ana Fontes

ESG, Empreendedorismo
Estar na linha de frente da luta por formações e pelo desenvolvimento de oportunidades de emprego e educação é uma das frentes que Rachel Maia lida em seu dia-dia e neste texto a Presidente do Pacto Global da ONU Brasil traz um panorama sobre estes aspectos atuais.

Rachel Maia