ESG
4 min de leitura

Capacitismo ainda está acima do talento das pessoas com deficiência no mercado de trabalho

Mais que cumprir cotas, o desafio em 2025 é combater o capacitismo e criar trajetórias reais de carreira para pessoas com deficiência – apenas 0,1% ocupam cargos de liderança, enquanto 63% nunca foram promovidos, revelando a urgência de ações estratégicas além da contratação
Desde 2008, a Talento Incluir tem a missão de levar ações focada em colaborar com o desenvolvimento das pessoas com deficiência para ampliar a inclusão no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. É a pioneira em inclusão produtiva de Profissionais com Deficiência. Seu propósito Propósito é romper o capacitismo para que as pessoas com deficiência ocupem os espaços nas empresas e na sociedade.
CEO e fundadora do Grupo Talento Incluir.

Compartilhar:

Para 2025 a urgência na pauta de inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho deverá focar em ações mais estratégicas para além das contratações. É preciso desenvolver carreira, dignidade e oportunidades.

Por mais incrível que pareça, após 33 anos de lei de Cotas, as empresas brasileiras ainda não cumprem a exigência numérica. Das cotas que as empresas devem cumprir como exige a Lei de Cotas, apenas 49% estão ocupadas (segundo os dados do Ministério do Trabalho de 2021 – SITE RADAR).

 É lamentável imaginar que levaremos mais seis décadas para fazer o mínimo que é cumprir a lei.

De acordo com a recém-divulgada pesquisa “Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência”, realizada em parceria da Talento Incluir, Instituto Locomotiva, Pacto Global e a iO Diversidade, com 1.230 pessoas com 18 anos ou mais, que se declararam com deficiência ou neurodivergência, 95% concordam que a Lei de Cotas para pessoas com deficiência é fundamental para a empregabilidade dessa população e deve continuar existindo.

A qualidade das contratações é o próximo desafio das contratações. Segundo a pesquisa, 63% das pessoas com deficiência empregadas nunca foram promovidas e 9 a cada 10 já passaram por capacitismo no ambiente de trabalho.

As microagressões mais frequentes incluem, desde ouvir comentários capacitistas, preconceito ou discriminação por parte de superiores à perda de oportunidades de promoção. Apesar de toda a gravidade dos episódios, a pesquisa mostrou que apenas 35% das pessoas afetadas relataram os incidentes às empresas. O medo de retaliação ou demissão (38%) e a descrença em resultados (29%) foram os principais motivos para este silêncio.

Outro dado preocupante é a estagnação profissional. Embora metade dos entrevistados tenha mais de três anos na mesma empresa, 63% nunca foram promovidos. Apenas 12% ocupam cargos de média liderança (como gerentes ou supervisores), enquanto míseros 2% estão em posições de alta liderança. É importante enfatizar que o público respondente está inserido no mercado e não reflete o total de pessoas com deficiência na liderança de forma geral. Quando buscamos esse percentual no geral de líderes nas empresas, esse número não excede 0,1%.

Há uma percepção majoritária de que ser uma pessoa com deficiência ou neurodivergente impacta negativamente na empregabilidade – muito embora não impacte negativamente na execução do trabalho, de acordo com os resultados da pesquisa. Embora para 76% o fato de ser pessoa com deficiência ou neurodivergente ‘não impacte’ ou ‘impacte positivamente’ na capacidade de executar o trabalho, para 60% isso impacta negativamente nas chances de ter um bom trabalho.

A Lei de Cotas, criada para impulsionar a empregabilidade de pessoas com deficiência, é vista como fundamental por 95% dos entrevistados. No entanto, a pesquisa indica que 94% acreditam que as empresas só contratam pessoas com deficiência por obrigação legal. Além disso, 89% afirmam que essas contratações não vêm acompanhadas de condições adequadas de trabalho.

A maioria dos respondentes da pesquisa já empregados/as (52%) atribui sua contratação ao perfil ou ao currículo. Apesar disso, 38% relatam que só foram contratados/as para cumprir cota ou porque a vaga era afirmativa. Esse cenário é reforçado pelo descumprimento sistemático da legislação. Muitas empresas optam por pagar multas em vez de cumprir as exigências, perpetuando a exclusão e as desigualdades no ambiente corporativo.

Os dados do Radar da Inclusão evidenciam que barrar o capacitismo exige um esforço conjunto entre governo, empresas e sociedade civil. É preciso fiscalização rigorosa do cumprimento da Lei de Cotas; investimento em programas de aceleração de carreira para pessoas com deficiência; ações de letramento contínuo para equipes e lideranças nas empresas; inclusão da perspectiva da diversidade no compliance corporativo; criação de metas relacionadas ao acolhimento e à inclusão.

A pesquisa também ressalta a importância de ampliar a representatividade em cargos de liderança, para que pessoas com deficiência possam atuar como protagonistas na construção de um ambiente corporativo mais justo e acessível.

Os avanços na inclusão profissional só serão possíveis com uma mudança inicial: a de atitude. Combater o capacitismo é mais do que uma questão de justiça social; é um imperativo para promover ambientes de trabalho inovadores, diversos e produtivos.

Iniciativas como a pesquisa Radar da Inclusão, busca um levantamento de dados que possam ajudar a construir uma base para políticas públicas e práticas empresariais mais inclusivas, contribuindo para que pessoas com deficiência e neurodivergentes tenham oportunidades iguais de alcançar seu pleno potencial pelos seus talentos e não por suas deficiências.

Compartilhar:

Desde 2008, a Talento Incluir tem a missão de levar ações focada em colaborar com o desenvolvimento das pessoas com deficiência para ampliar a inclusão no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. É a pioneira em inclusão produtiva de Profissionais com Deficiência. Seu propósito Propósito é romper o capacitismo para que as pessoas com deficiência ocupem os espaços nas empresas e na sociedade.

Artigos relacionados

ESG
Conheça as 8 habilidades necessárias para que o profissional sênior esteja em consonância com o conceito de trabalhabilidade

Cris Sabbag

6 min de leitura
ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura
ESG
O etarismo continua sendo um desafio silencioso no ambiente corporativo, afetando tanto profissionais experientes quanto jovens talentos. Mais do que uma questão de idade, essa barreira limita a inovação e prejudica a cultura organizacional. Pesquisas indicam que equipes intergeracionais são mais criativas e produtivas, tornando essencial que empresas invistam na diversidade etária como um ativo estratégico.

Cleide Cavalcante

4 min de leitura
Empreendedorismo
A automação e a inteligência artificial aumentam a eficiência e reduzem a sobrecarga, permitindo que advogados se concentrem em estratégias e no atendimento personalizado. No entanto, competências humanas como julgamento crítico, empatia e ética seguem insubstituíveis.

Cesar Orlando

5 min de leitura
ESG
Em um mundo onde múltiplas gerações coexistem no mercado, a chave para a inovação está na troca entre experiência e renovação. O desafio não é apenas entender as diferenças, mas transformá-las em oportunidades. Ao acolher novas perspectivas e desaprender o que for necessário, criamos ambientes mais criativos, resilientes e preparados para o futuro. Afinal, o sucesso não pertence a uma única geração, mas à soma de todas elas.

Alain S. Levi

6 min de leitura