Sustentabilidade

Capitalista sim. Consciente? Nem tanto

Para transformar a teoria ESG em prática, muitas vezes é necessário falar o óbvio: liderança e cultura consciente devem ser pilares do capitalismo e toda empresa é capaz de gerar impacto social
Fundadora da #JustaCausa, do programa #lídercomneivia e dos movimentos #ondeestãoasmulheres e #aquiestãoasmulheres

Compartilhar:

Há três anos venho abordando o capitalismo consciente e os objetivos de desenvolvimento sustentável do planeta nas minhas aulas sobre liderança. Para minha surpresa, esses temas ainda são desconhecidos por uma ampla parcela da nossa elite empresarial, assim como [o tão recentemente falado ESG](https://www.revistahsm.com.br/post/reimaginando-negocios-com-esg-e-foco-no-g), ou ASG – Ambiental, Social e Governança, em português. E, infelizmente, muitos daqueles que já são fluentes nesses assuntos ainda estão longe de transformar o discurso em prática.

O capitalismo consciente é um movimento global criado nos Estados Unidos a partir de um estudo acadêmico conduzido por Raj Sisodia, Jaf Shereth e David Wolf, cujo objetivo era verificar como algumas empresas conseguiam manter alta reputação e fidelidade dos clientes sem ter investimentos exorbitantes em publicidade e marketing.

Antes do livro ser publicado, John Mackey, CEO da Whole Foods, identificou no conteúdo muitas características e atitudes que há anos ele já aplicava em seu negócio e, com sua contribuição, o estudo evoluiu para o livro* Firms of Endearment* (*Empresas Humanizadas*, aqui no Brasil), publicado em 2007, que discorre sobre como as empresas lucram a partir da paixão e do propósito. Iniciava-se então, ali, o [movimento capitalismo consciente](https://mitsloanreview.com.br/post/o-lugar-da-concorrencia-no-capitalismo-consciente). O Instituto capitalismo consciente Brasil foi criado em 2013.

O movimento preconiza que negócios conscientes são regidos por uma liderança consciente que tem um propósito maior, cria e retroalimenta uma cultura consciente, sempre com a orientação para os stakeholders, ou seja, os públicos ou partes interessadas na empresa para quem ela gera diferentes valores.

## Liderança consciente

Líderes conscientes são aquelas pessoas responsáveis por servir ao propósito da organização, criando valor para todos (e não somente para os acionistas), cultivando uma cultura consciente de respeito, confiança, inclusão, colaboração e cuidado.

## Propósito maior

O propósito é a causa pela qual a empresa existe. O lucro é uma consequência desse propósito que sensibiliza, engaja e move as pessoas que fazem parte ou se relacionam com a empresa.

## Cultura consciente

A cultura consciente é a incorporação e a prática dos valores, princípios e comportamentos que conectam as pessoas umas às outras, constroem, alimentam, reforçam e transformam, sempre que necessário, a forma de ser e agir da empresa.
O óbvio ululante, não?

Esses não deveriam ter sido os pilares fundamentais do capitalismo? Deveriam. Mas não foram. Então, sempre é tempo de resgatar o óbvio.

Assim como é óbvio que toda empresa é um negócio de impacto social. Ou existe empresa em algum espaço fora da sociedade, com ações que não impactam a vida das pessoas? A questão é que esse impacto tem sido danoso, predatório, parasitário, desigual e desumano.

Precisamos enfrentar e trocar a inconsciência, inconsequência, imediatismo e o “curtoprazismo” de gestões empresariais privadas e públicas, com evidente impacto negativo, por modelos que tenham uma governança ambiental e social verdadeiramente responsável.

Em tese, nada de novo. A não ser a urgência, já que ainda não existe um Planeta B e o desenvolvimento sustentável do Planeta A, primeiro e único, é responsabilidade minha, sua, nossa.

Espero que essa “resiglagem” – ESG e ODSs – nos impulsione a agir, transformar teoria em prática, fazer acontecer o que é óbvio, urgente e necessário para gerar impacto positivo e garantir um futuro sustentável para todas as pessoas. E que, em breve, sejamos todos capitalistas conscientes.

*Gostou do artigo da Neivia Justa? Saiba mais sobre capitalismo consciente e práticas ESG assinando gratuitamente [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter). Aproveite e ouça [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando a IA desafia o ESG: o dilema das lideranças na era algorítmica

A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Semana Mundial do Meio Ambiente: desafios e oportunidades para a agenda de sustentabilidade

Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Tecnologia, mãe do autoetarismo

Ninguém fala disso, mas muitos profissionais mais velhos estão discriminando a si mesmos com a tecnofobia. Eles precisam compreender que a revolução digital não é exclusividade dos jovens

Tecnologias exponenciais
Setores que investiram em treinamento interno sobre IA tiveram 57% mais ganhos de produtividade. O segredo está na transição inteligente.

Vitor Maciel

6 min de leitura
Empreendedorismo
Autoconhecimento, mentoria e feedback constante: a nova tríade para formar líderes preparados para os desafios do trabalho moderno

Marcus Vaccari

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Se seu atendimento não é 24/7, personalizado e instantâneo, você já está perdendo cliente para quem investiu em automação. O tempo de resposta agora é o novo preço da fidelização

Edson Alves

4 min de leitura
Inovação
Enquanto você lê mais um relatório de tendências, seus concorrentes estão errando rápido, abolindo burocracias e contratando por habilidades. Não é só questão de currículos. Essa é a nova guerra pela inovação.

Alexandre Waclawovsky

8 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A aplicação da inteligência artificial e um novo posicionamento da liderança tornam-se primordiais para uma gestão lean de portfólio

Renata Moreno

4 min de leitura
Finanças
Taxas de juros altas, inovação subfinanciada: o mapa para captar recursos em melhorias que já fazem parte do seu DNA operacional, mas nunca foram formalizadas como inovação.

Eline Casasola

5 min de leitura
Empreendedorismo
Contratar um Chief of Staff pode ser a solução que sua empresa precisa para ganhar agilidade e melhorar a governança

Carolina Santos Laboissiere

7 min de leitura
ESG
Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Carolina Ignarra

4 min de leitura
ESG
Brasil é o 2º no ranking mundial de burnout e 472 mil licenças em 2024 revelam a epidemia silenciosa que também atinge gestores.
5 min de leitura
Inovação
7 anos depois da reforma trabalhista, empresas ainda não entenderam: flexibilidade legal não basta quando a gestão continua presa ao relógio do século XIX. O resultado? Quiet quitting, burnout e talentos 45+ migrando para o modelo Talent as a Service

Juliana Ramalho

4 min de leitura