Inteligência artificial e gestão

Como a IA pode potencializar sua marca pessoal sem perder autenticidade?

Em tempos de algoritmos, o desafio é manter autenticidade para gerar confiança e conexão. A tecnologia deve ser uma aliada e ferramenta poderosa que pode enriquecer a vida profissional e pessoal, mas não deve ditá-las
Giuliana Tranquilini é cofundadora da consultoria BetaFly Brandmakers. Palestrante no Brasil e Estados Unidos, também é coautora do best-seller *Sua Marca Pessoal*, professora de MBA e mentora de estudantes, empreendedores e residentes de Medicina.

Compartilhar:

O Vale do Silício, nos Estados Unidos, é, de muitas formas, o centro da nossa era digital. Alguns podem argumentar que existem outros polos, mas é aqui que tudo nasceu. O ecossistema é e continua vivo e efervescente. Este é o lugar onde algoritmos são criados, desenvolvidos e liberados no mundo para transformar nossa realidade. Vivendo aqui e tendo a oportunidade de participar de algumas discussões, absorvo uma compreensão mais ampla dessas forças invisíveis que dirigem nossas vidas e carreiras. E isso me instiga muito a querer vivenciar mais a comunidade do Vale.

Recentemente, em uma das palestras que realizei aqui na Califórnia, uma pergunta de um participante ficou ressoando em minha mente por muito tempo. O questionamento, aparentemente simples à primeira vista, revelava camadas de complexidade e abria espaço para reflexões que eu já vinha fazendo.

Ele perguntou: “como posso ter certeza de que o conteúdo que leio nas redes sociais reflete as verdadeiras opiniões do autor?”. E completou: “frequentemente, sinto que estou lendo posts projetados para agradar aos algoritmos em detrimento da autenticidade do conteúdo”.

Adicionando a essa pergunta, trago um desconforto frequente dos meus clientes – profissionais da saúde que são aconselhados por suas equipes de marketing digital a compartilharem suas vidas pessoais para obter maior engajamento, mesmo isso sendo contra seus valores. Essa pergunta e essas orientações que muitos clientes recebem me levaram a refletir profundamente, e hoje vou compartilhar o que descobri nesta análise.

Até que ponto você está disposto a comprometer sua autenticidade por mais visibilidade? Esta pergunta poderia ser considerada a versão moderna do paradoxo do navio de Teseu, um dilema filosófico que questiona a identidade de um objeto em constante transformação. Se começarmos a modificar aspectos de nossa identidade para nos encaixarmos nos moldes dos algoritmos, permanecemos os mesmos? Ou nos tornamos uma projeção de algo que nunca foi verdadeiramente nós e perdemos nossa autenticidade?

O paradoxo do navio de Teseu explora questões de identidade, continuidade e transformação. Teseu, o herói mitológico, possui um navio que está constantemente sendo reparado. À medida que cada parte do navio se deteriora, ela é substituída por uma nova, idêntica. Eventualmente, todas as partes do navio são substituídas. A questão, então, é: o navio, após todas as suas partes terem sido substituídas, ainda é o mesmo “navio de Teseu”? E se todas as partes retiradas fossem reunidas e montadas em um novo navio? Qual seria o verdadeiro “navio de Teseu”?

Se os profissionais continuarem a ajustar sua comunicação pessoal para agradar a visibilidade algorítmica, correm o risco de se perderem em um ciclo interminável de retroalimentação. Se ajustamos cada palavra, cada hashtag, cada foto apenas para ganhar mais curtidas ou seguidores, estamos nos perdendo no meio disso tudo?

Tenho certeza que você vai concordar que não é agradável ser apenas um fantoche dos algoritmos, esquecendo quem realmente somos e o que realmente temos a oferecer. Então, minha provocação é: a que custo estamos dispostos a sacrificar nossa autenticidade para participar do jogo digital? O risco é nos tornarmos meras projeções de um algoritmo, desconectados de quem realmente somos e do valor autêntico que poderíamos trazer ao mundo.

## Resistindo aos algoritmos
Viver em um mundo permeado por algoritmos tem seus benefícios. Receber informações e conteúdos que são de nosso interesse torna a experiência online mais fluida e agradável, economizando nosso tempo e energia. Estar rodeado por conteúdos e sugestões que nos agradam e interessam pode ser conveniente e reconfortante, gerando um senso de pertencimento e validação.

Contudo, essa personalização extrema, fruto do direcionamento algorítmico intenso, tem seu lado sombrio. Podemos nos fechar em uma “bolha” de informações similares e confortáveis, ignorando a diversidade de pensamentos e a exposição a novas ideias e perspectivas. Esse isolamento intelectual pode levar a um empobrecimento de nossa compreensão do mundo e à criação de um terreno fértil para a polarização e intolerância.

Diante disso, surgem algumas perguntas: como podemos manter nossa autenticidade em um mundo onde a visibilidade online é, muitas vezes, sinônimo de sucesso? Como podemos usar os algoritmos a nosso favor sem nos tornarmos escravos deles? Como resistir à pressão constante para moldar nossas vidas online de acordo com o que é popular, em detrimento do que é verdadeiro?

Estas são perguntas que não têm respostas fáceis, e cada pessoa pode encontrar um caminho diferente para navegar por esse terreno delicado. Manter a autenticidade online é um desafio diário e requer reflexão, consciência e, às vezes, a coragem de ir contra a maré.

O valor da autenticidade e da verdadeira conexão humana é inestimável e, no final das contas, é isso que realmente importa. A tecnologia e os algoritmos são ferramentas poderosas que podem enriquecer nossas vidas, mas não devem ditá-las. É crucial lembrar quem somos e o que realmente valorizamos, mantendo nossa essência em um mundo digital que, por vezes, parece favorecer a aparência em detrimento da substância.

Essa luta diária contra o anonimato online e a busca pela verdadeira expressão são, de muitas formas, uma jornada em busca da própria alma, na qual o equilíbrio e a consciência são fundamentais. Não temos que ser prisioneiros dos algoritmos. Podemos usá-los como ferramentas para compartilhar nossas verdadeiras vozes e fazer a diferença no mundo digital, resgatando nossa autenticidade e integridade.

A inteligência artificial deve ser aliada e não inimiga da sua marca pessoal. Ou você correrá o risco de perder sua autenticidade e deixar de ser quem você é.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura