Na edição da primavera de 2021 da MIT Sloan Management Review, o professor da Oxford University Carl Benedikt Frey publicou um artigo intitulado “How culture gives US an innovation edge over China”. No artigo, Frey afirma que “sociedades coletivistas têm uma vantagem na produção e na comercialização em larga escala devido à disposição dos trabalhadores de obedecer… mas desencorajar o comportamento não convencional tem o infeliz efeito colateral de abafar a criatividade” e conclui que “os mesmos traços culturais conformistas que facilitam a produção em massa [para a China] podem dificultar a evolução pela inovação, o que alguns chamam de armadilha da obediência”.
Ele está certo? Bem, a China começou sua reforma e abertura sob o governo de Deng Xiaoping nos anos 1970. Por mais que mantivesse as características-chave de seu sistema estatal, Xiaoping começou a experimentar aspectos de uma economia de mercado, incluindo o empreendedorismo. Atualmente, o governo central continua a dirigir a economia e a manter o desenvolvimento em ritmo sustentável, mas o setor privado também se tornou muito significativo. Os empresários chineses desempenharam um papel importante na concretização da política do governo central de 2014, de incentivo à inovação.
Os governos locais geralmente atuam como pontes entre o governo central e os empresários. Os principais governos locais seguem as diretrizes nacionais e com frequência oferecem financiamento para empresas. Além disso, na estrutura econômica dual chinesa, coexistem empresas estatais e empresas privadas. Embora às vezes possa haver conflitos, também há uma relação bastante simbiótica. As estatais fornecem bens e serviços públicos, e não visam apenas uma viabilidade econômica estreita, mas uma vida melhor para as pessoas. Empreendedores, por sua vez, são encorajados a ter sucesso e não só a obedecer a regras.
Em seu discurso no centenário do Partido Comunista Chinês, em 1º de julho, o presidente Xi Jinping afirmou nove vezes: “… esforcem-se conscientemente para aprender com a História e, assim, criar um futuro brilhante”. Ele também disse: “Devemos continuar a adaptar os princípios básicos do marxismo para as realidades específicas da China e de sua bela cultura tradicional”.
Ou seja, a China está construindo sua própria marca de modernidade, atendo-se aos princípios do socialismo e abraçando o dinamismo da economia de mercado. A crença milenar na integração de “yin e yang”, a absorção de pensamentos estrangeiros, como o budismo, bem como o senso de “unidade”, foram moldando a civilização chinesa por mais de 1 mil anos. Isso, ao lado do propósito e do sistema de governo da China, gerou uma abordagem de múltiplas dimensões em busca da modernidade, o que garante que a China continuará a navegar de forma inclusiva e a crescer social, econômica e politicamente.
A “armadilha da obediência” de Frey, portanto, erra o alvo. Ao exercer uma governança inclusiva, que inclui elementos coletivistas e individualistas, a inovação da China cresce ano após ano. E assim se projeta para o futuro.