Um dia, atuando como consultor, ouvi de um CEO algo como “você tem um dom de se conectar com as pessoas de maneira genuína, sabia? E essas conexões de verdade acabam potencializando os negócios”.
Confesso que sempre me relacionei de maneira tão natural com os outros que não percebi haver “metodologia” ali. A percepção me fez reinventar a carreira. Entendi que o setor da saúde, no qual atuava, precisa muito de conectores, pela complexidade de sua cadeia de valor. Empresas concorrentes ou complementares têm de se conectar para que se gere valor e se transforme o mercado para melhor.
Há mesmo uma metodologia de conexão? Consigo explicar melhor a gênese. Alguns acharão que o fato de eu ser baiano diz muito a esse respeito. Faço gosto realmente em atividades de alto grau de relacionamento, como jogar bola, falar em público, papear com amigos – muitos amigos. Mas, desde novo com aptidão para exatas programação, fui estudar ciência da computação, o que por um tempo me inscreveu no time dos nerds. Então, minha gênese, ou metodologia, é juntar o lado nerd com o lado “pessoas”.
Por quê? Aparentemente a mistura de emoções e dados nos leva a posições de liderança. Foi o que ocorreu em praticamente todas as empresas em que trabalhei, desde meu primeiro estágio até quando troquei minha cidade natal, Salvador, por São Paulo. Passei por diversas empresas no setor financeiro como Fidelity e Bradesco, por grandes consultorias como a IBM e a McKinsey, pela farma AstraZeneca e também por startups como Distrito e The Bridge.
Em 202o cofundei uma startup no setor da saúde, a comunidade Hackmed, e, em 2021, uma consultoria estratégica e de investimento em saúde, a Synapse. A cada empresa, cliente, cidade e país, colecionei relações com pessoas e, sendo um curioso de carteirinha, aprendi muito sobre os papéis de todas elas.
## A NECESSIDADE DO ECOSSISTEMA
No ecossistema da saúde, fui desconfiando que muitos problemas não podiam ser resolvidos apenas por pessoas de uma função e/ou de uma empresa. Isso foi amplificado pelo comentário do CEO citado no início do artigo e com um insight, que veio quando integrei o board executivo de uma farma global e tive interações muito interessantes com países como China, Rússia, Índia, Reino Unido, EUA, Colômbia etc.
Olhar de fora outros sistemas de saúde me fez ver a necessidade gritante do “conector”. Mesmo as empresas que diziam querer inovação ecossistêmica acabavam só priorizando seus interesses. Então, eu me tornei um conector de ecossistema.
[Veja texto ao final.]
Há quase uma matemática para justificar a existência desse profissional na área de saúde:
1. Cada empresa do setor faz parte de um subsetor da saúde, que por sua vez, compõe uma cadeia de valor. Exemplos: laboratórios diagnósticos, prestadores de serviços, operadoras de saúde, indústria farmacêutica, indústria de medical devices, distribuidores do varejo farmacêutico etc.
2. Essas empresas são instituições com uma governança e uma liderança focadas em gerar resultados por meio da execução de diversas táticas/atividades conectadas com sua estratégia.
3. As dores do ecossistema de saúde não se resolvem trabalhando ações em uma única instituição; é necessário um trabalho em rede, no qual os elos se conectem genuinamente para pensar nessa resolução.
4. A estrutura existente para fomentar essa conexão entre os elos dessa rede é pautada num jogo de interesses individuais
O que está faltando na equação? Um “player” desses que esteja genuinamente interessado na melhoria do ecossistema como um todo. Alguém que consiga apoiar os elos individuais, sim, mas com o intuito de provocá-los a olhar para a cadeia que eles estão inseridos e entendendo que esse trabalho possui um objetivo “maior”.
Esse “novo elo” não surge dentro de um planejamento estratégico e uma estrutura organizacional tradicionais, a meu ver, mesmo que estejamos falando de uma consultoria ou de um departamento interno de open innovation. É necessário unir isso com human skills, o que pressupõe não conectar os elos “apenas” por uma ótica do próprio business development, mas entenda que, se forem importantes para fazer alguém prosperar, as conexões devem ser feitas e seu benefício virá “lá na frente”.
Parece utópico, não é? Mas está acontecendo de fato, ao menos em saúde. E se você for de outro setor, eu deixo uma pergunta: “Será que algo que mencionei acima ressoou como verdade no seu dia a dia?”. Porque, nesta nova economia, estou convicto de que muitos segmentos vivem dores similares às da saúde e precisam de conectores que fortaleçam os ecossistemas.
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como conectar
Os projetos da Synapse, que sempre passam pelo conector Bruno Pina e envolvem geração de receita, servem para ilustrar o papel descrito neste artigo. Eles incluem:
• Colaboração estratégica com o InovaHC, núcleo de inovação tecnológica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), para “buscar formas de colaborar bilateralmente em iniciativas que possam transformar a saúde”.
• Colaboração com o Department for Business Trade do governo britânico no Brasil para buscar oportunidades de colaboração entre Brasil e Reino Unido.
• Projeto entre Brasil e Portugal com foco em saúde.
• Colaboração com o Learning Village, o ecossistema de Inovação da HSM.