Estratégia e Execução

Contagem regressiva com Ricardo Vagas

anda difícil gerenciar seu projeto? imagine construir estradas no afeganistão, responder à crise do ebola na África ou destruir fábricas de armas químicas na Síria – ao mesmo tempo. É a rotina do escritório de gerenciamento de projetos da oNu, cuja área de projetos é liderada por um brasileiro.

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> **Saiba mais sobre  Ricardo Vargas**
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> Quem é: Especialista em gerenciamento de projetos e diretor do grupo de práticas de projetos do Escritório de Serviços de Projetos das Nações unidas (uNoPS, em inglês). 
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> Trajetória: Engenheiro químico de formação, tem 18 anos de prática na área. Foi chairman do Project Management Institute (PMI) e é revisor oficial da publicação de referência da área, o PMBOK Guide.
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> Livros: Entre os 14 títulos que publicou sobre gerenciamento de projetos, inclusive em outros idiomas, estão Construindo Times Altamente Eficazes e Análise de Valor Agregado.

**5 – Você é conhecido por seu trabalho com gerenciamento de projetos para empresas privadas. Como foi parar na ONU?**

Três anos atrás, o telefone tocou e a voz do outro lado disse, em inglês, estar buscando uma pessoa para dirigir a área de projetos que a uNoPS estava montando. Minha resposta imediata foi: “vou pensar se tenho alguém para indicar”. Só que, depois, contando para minha esposa, ela achou que essa poderia ser uma oportunidade para mim mesmo e voltei atrás, delimitando um prazo de cinco anos para esse trabalho. Por quê? Minha profissão sempre foi tornar meu cliente mais rico e eu teria pela primeira vez a experiência de usar o conhecimento com finalidade humanitária. além disso, haveria a experiência de morar fora com minha família, em Copenhague, que é uma cidade maravilhosa. E também existia o potencial de aprendizado pessoal, tanto no aspecto operacional, já que os projetos têm complexidade muito acima da média, como no aspecto político. Dentro da oNu, temos uns 200 chefes no mínimo, os interesses são muito diversos e a estrutura é enorme – só no afeganistão há mais ou menos 400 pessoas, para você ter uma ideia

4 – **Por que a ONU montou uma área de gerenciamento de projetos?** 

Porque a quantidade de projetos é imensa e é preciso melhorar constantemente a entrega, o que não é fácil. imagine o nível de planejamento necessário para construir uma escola a 500 km de Juba, capital do Sudão do Sul, onde nem estrada existe. o planejamento era feito individualmente – cada um dos 300 gerentes de projeto, que atuam no campo, fazia o seu, com dedicação máxima. agora, a uNoPS os apoia, integrando metodologia, processos, variação de risco e a parte da sustentabilidade e dando-lhes ferramentas. o que eu devo fazer é que os projetos sejam entregues no prazo definido, com custo otimizado, no processo e governança corretos.

**3 – Como é a estrutura de vocês?** 

Somos três diretores responsáveis pelas chamadas práticas de entrega. Nós nos reportamos à diretora-executiva da uNoPS, grete Faremo, que, na Noruega, foi ministra da Justiça, do Petróleo e da Defesa. um é diretor de infraestrutura, que cuida da parte de design dos projetos. Cabe a ele, por exemplo, estabelecer como fazer para que uma ponte esteja sólida e capaz de se sustentar. um segundo dirige toda a parte de aquisições necessárias ao projeto: carros, remédios, cimento etc. E o terceiro sou eu, que tenho de fazer com que as melhores práticas de gerenciamento de projetos sejam aplicadas nos projetos para que os riscos sejam avaliados e as pessoas não desperdicem dinheiro, além de entregarem no prazo. Temos ainda os diretores responsáveis pelas regiões geográficas, como o diretor da África.

**2 – Com que complexidade vocês operam?** 

Existe uma quantidade imensa de projetos sendo tocados ao mesmo tempo – cerca de 1,2 mil hoje – e a variedade é grande também: temos projetos de três a quatro dias e outros de três a quatro anos. Há operação de distribuição de remédios, de capacitação de governo, de planejamento de compras, de construções diversas, de remoção de minas terrestres etc. Como a maior parte de nossas operações é pós-conflito ou pós-desastre ambiental, são locais muito frágeis. agora há pouco três colaboradores nossos estavam dando uma consultoria para o governo do iêmen e tivemos de tirá-los de lá às pressas quando a instabilidade atingiu níveis intoleráveis. a gente sabe que, se falhar, pode morrer de verdade. Nunca esquecerei as pessoas cobertas com papelão por não terem o que vestir. 

**1 – Se você tivesse de destacar habilidades gerenciais que fazem diferença para lidar com tanta complexidade, qual seria?** 

Destaco duas: liderança e equilíbrio psicológico. liderança é necessária porque há muitas partes interessadas: nossas entidades-irmãs se o projeto nascer por iniciativa delas, doadores, governos locais etc. Na maternidade que estamos construindo no Haiti temos o governo, o unicef e o uNFPa [Fundo de População das Nações unidas] como stakeholders. E equilíbrio psicológico é fundamental porque, muitas vezes, estamos falando de um ambiente sem luz nem água, que tem malária, do qual é difícil sair e, com frequência, onde se trabalha com recursos mínimos. O profissional ainda tem de ser automotivado. E também ajuda bastante ter boa capacidade de planejamento pessoal – criar uma rotina para si é valioso.

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