Tecnologia e inovação

Covid-19: o “dark side” do delivery

A explosão do Ifood, Rappi e afins esconde um problema maior: os restaurantes nem sempre podem sobreviver de delivery
Diretor de marketing digital e mídia da General Motors da América do Sul. Formado em publicidade e propaganda pela UFRJ e com um MBA em marketing pelo IAG-PUC-RJ, iniciou sua carreira na Infoglobo, foi trainee na C&A e teve sólidas passagens por empresas como Nike e ABInBev. Bruno é mestre em administração de empresas pela EAESP-FGV (MPA) e tem um canal no Youtube, o @MarketingFC, para falar de marketing, mídia e um pouco de futebol.

Compartilhar:

No último artigo da série que aborda os setores e empresas que se reinventaram, e não apenas sobreviveram na pandemia de covid-19, mostro como o setor de bares e restaurantes pode estar mascarando um falso êxito ao longo dessa crise.

De início, destaco que é indiscutível o sucesso dos aplicativos de delivery nesses anos de pandemia. O [crescimento exponencial do Ifood](https://mitsloanreview.com.br/post/organizacoes-crescem-quando-buscam-o-intangivel), Rappi, mais consolidados, e a entrada com força de Uber Eats, Zé Delivery dentre outros, mostra que esse setor veio para ficar.

Consumidores que nunca haviam feito uma compra sequer via e-commerce usaram pela primeira vez um aplicativo de delivery no período das restrições. Tudo isso foi excelente e ajudou a gerar renda para milhares de brasileiros que corajosamente trabalharam como entregadores em meio à quarentena, facilitando o acesso à alimentação no conforto do lar.

## Sobrevivência dos restaurantes

Sempre que tento entender um setor que não sou especialista, procuro pensar primeiro na minha jornada como cliente. Pensando em restaurante e em bares, em consumo individual, em casal, ou até mesmo em pequenas ou grandes grupos, geralmente a ida a um desses estabelecimentos faz parte de um ritual, do ambiente, e isso faz com que você aceite pagar um preço até maior pelo serviço. Além disso, você fica mais tempo no local, geralmente porque envolve entradas, drinks, vinho, prato principal e sobremesa. Esses rituais são essenciais para qualquer restaurante constituir sua margem e montar seu plano de lucro e crescimento.

Quando pedimos comida em casa, normalmente o ritual descrito acima não está acontecendo, e o foco acaba sendo o prato principal. O valor de um vinho ou um drink, que geralmente é manipulado na hora, dificilmente faz sentido via delivery. Na realidade, nem chega a ser convidativo no delivery, pois é fácil você ter um estoque em casa e consumir o que você tem. Nem mesmo entrada e sobremesa geralmente encontram lugar nos pedidos de delivery.

## À margem no setor

Muita gente esquece que o serviço de delivery geralmente envolve apenas parte da operação de um restaurante. Para operar esse tipo de operação, a equipe de cozinha, e parte da equipe de limpeza, geralmente é a necessária para realizar os serviços. Existe uma gama de profissionais que são excluídos da conta, principalmente garçons, bartenders, hostess, bandas e muitos outros ficaram simplesmente sem receita alguma de um dia para o outro. A solução do delivery, que não envolve os 10% normais que são distribuídos para este time, deixa de fora boa parte da cadeia.

Moro em São Paulo, muito próximo da Berrini, avenida super movimentada, com muitas empresas, logo cheia de restaurantes que viviam de almoço executivo e comida por quilo. Confesso que durante nas minhas pedaladas matinais, me entristeço ao perceber a quantidade de placas de “aluga-se” na avenida. Sem o fluxo de funcionários e clientes, muitos empresas não aguentaram e quebraram. Essa triste realidade é, às vezes, esquecida quando pensamos que existe “delivery” para esses estabelecimentos. Assim, nem todos os modelos de negócio de restaurantes são adaptáveis e aderentes ao delivery.

## REAPRENDER

A volta ao normal ainda deve demorar alguns meses, possivelmente viveremos esta realidade até 2022. No entanto, na volta, teremos que reaprender a viver numa sociedade que irá adaptar a uma nova realidade, e possivelmente sem alguns dos nossos bares favoritos, assim como restaurantes e padarias. Contudo, vamos torcer para isso passar, para que todos terem uma chance de retornar aos negócios com sucesso num futuro próximo.

*Gostou do artigo? Confira o [primeiro](https://www.revistahsm.com.br/post/covid-19-sua-empresa-se-reinventou-ou-apenas-sobreviveu) e o [segundo](https://www.revistahsm.com.br/post/covid-19-a-necessaria-revolucao-digital-da-industria-automotiva) artigo dessa série escrita pelo Bruno Campos. Além disso, assine gratuitamente [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

Saúde psicossocial é inclusão

Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Uncategorized
A inovação vai além das ideias: exige criatividade, execução disciplinada e captação de recursos. Com métodos estruturados, parcerias estratégicas e projetos bem elaborados, é possível transformar visões em impactos reais.

Eline Casasola

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA é um espelho da humanidade: reflete nossos avanços, mas também nossos vieses e falhas. Enquanto otimiza processos, expõe dilemas éticos profundos, exigindo transparência, educação e responsabilidade para que a tecnologia sirva à sociedade, e não a domine.

Átila Persici

9 min de leitura
ESG

Luiza Caixe Metzner

4 min de leitura
Finanças
A inovação em rede é essencial para impulsionar P&D e enfrentar desafios globais, como a descarbonização, mas exige estratégias claras, governança robusta e integração entre atores para superar mitos e maximizar o impacto dos investimentos em ciência e tecnologia

Clarisse Gomes

8 min de leitura
Empreendedorismo
O empreendedorismo no Brasil avança com 90 milhões de aspirantes, enquanto a advocacia se moderniza com dados e estratégias inovadoras, mostrando que sucesso exige resiliência, visão de longo prazo e preparo para as oportunidades do futuro

André Coura e Antônio Silvério Neto

5 min de leitura
ESG
A atualização da NR-1, que inclui riscos psicossociais a partir de 2025, exige uma gestão de riscos mais estratégica e integrada, abrindo oportunidades para empresas que adotarem tecnologia e prevenção como vantagem competitiva, reduzindo custos e fortalecendo a saúde organizacional.

Rodrigo Tanus

8 min de leitura
ESG
O bem-estar dos colaboradores é prioridade nas empresas pós-pandemia, com benefícios flexíveis e saúde mental no centro das estratégias para reter talentos, aumentar produtividade e reduzir turnover, enquanto o mercado de benefícios cresce globalmente.

Charles Schweitzer

5 min de leitura
Finanças
Com projeções de US$ 525 bilhões até 2030, a Creator Economy busca superar desafios como dependência de algoritmos e desigualdade na monetização, adotando ferramentas financeiras e estratégias inovadoras.

Paulo Robilloti

6 min de leitura
ESG
Adotar o 'Best Before' no Brasil pode reduzir o desperdício de alimentos, mas demanda conscientização e mudanças na cadeia logística para funcionar

Lucas Infante

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, a robótica ganhou destaque como tecnologia transformadora, com aplicações que vão da saúde e criatividade à exploração espacial, mas ainda enfrenta desafios de escalabilidade e adaptação ao mundo real.

Renate Fuchs

6 min de leitura