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De Shareholders para Stakeholders

O novo normal do capitalismo
Dario Neto é diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Grupo Anga. Também é pai do Miguel e marido da Bruna. Marcel Fukayama é diretor geral do Sistema B Internacional e cofundador da consultoria em negócios de impacto Din4mo.

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A reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos de 2020 sacramentou, enfim, o início de uma nova era para a economia global a partir do protagonismo de empresas orientadas aos stakeholders. Foi uma longa jornada desde as primeiras aparições da agenda de sustentabilidade na década de 1970, passando pelas últimas décadas de intenso trabalho da comunidade científica internacional e organismos multilaterais e, nos últimos 15 anos, com a atuação incansável de movimentos globais independentes como os dois curadores desta coluna: Sistema B e Capitalismo Consciente. 

Cremos que, diante dos desafios e das oportunidades que temos neste século, as empresas podem e devem ser as grandes protagonistas na construção de uma economia de impacto positivo. A agenda 2030, dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, por exemplo, tem um custo anual de US$ 2,5 trilhões para ser implementada em mercados emergentes. 

Para repensarmos o papel das empresas na sociedade é fundamental avançarmos na mudança de cultura do mercado. A primazia do acionista, ou shareholder primacy, gerou distorções na administração e uma busca obsessiva por uma agenda de maximização de resultados no curto prazo. 

É preciso repensar esse desenho para que o melhor interesse das empresas seja a geração de valor compartilhado no longo prazo. Essa é a essência da mudança. Com o manifesto publicado em Davos celebramos o agora mundialmente (re)conhecido capitalismo de stakeholders.

Davos ratificou o que todos nós vínhamos sentindo dia a dia como evangelistas da nova economia: cada vez menos é preciso explicar em grandes centros as razões pelas quais as empresas precisam ter e viver um propósito maior e serem orientadas a todas as partes impactadas. Agora é hora de multiplicar essa mensagem em nível local e instrumentalizar negócios para trilharem a sua jornada de consciência. Empresas B ou Negócios Conscientes das cidades do interior do Brasil precisam se tornar referência para inspirar mais e mais negócios em nível local. Práticas e histórias precisam ser compartilhadas.

Separamos para você, caro healing leader, aplicações práticas extraídas de alguns dos marcos globais recentes mais importantes que apontam para o fim de uma tendência e o início desta nova era pós-Davos:

1. Lidere a transformação com visão de fractal. O recente reset editorial do Financial Times (FT) para guiar empresários ao novo normal na economia chamou a atenção de todo o mundo. FT se posicionou abertamente propondo lucro com propósito como o caminho para proteger o livre mercado e a geração de riqueza do capitalismo. Mas o mais interessante é que, contrariando a tendência global para o mercado de mídia, o FT atingiu 1 milhão de assinantes pagos em 2019, diminuindo quase toda a dependência de outras fontes de receita, tais como eventos ou anúncios. Líderes que curam buscam coerência interna para que ela leve ao transbordamento e ao êxito em todo o ecossistema em questão.

2. Priorize investimentos que honrem seu propósito e assegurem impacto socioambiental positivo. Para além do capitalismo de stakeholders, já mencionado em uma das cartas anuais anteriores de Larry Fink, fundador da BlackRock, a carta deste ano é clara e vertical sobre a necessidade do protagonismo das empresas em prol da agenda climática, bem como de transparência sobre ações e informações relativas à sustentabilidade. Líderes que curam entendem que propósito é o motor da rentabilidade a longo prazo e priorizam investimentos – muitas vezes não óbvios – para garantir que o propósito seja vivido na prática. Esses investimentos atrairão esse novo capital alinhado em franco processo migratório para a nova economia.

3. Vincule a sua responsabilidade ao impacto. Em agosto de 2019, mais de 180 CEOs de grandes empresas americanas publicaram um manifesto no Business Roundtable com uma mensagem clara aos seus acionistas. Como administradores e lideranças empresariais, estavam colocando suas posições a serviço da construção de uma nova forma de fazer negócio e saindo da lógica de maximizar valor aos acionistas para o modelo de gerar valor aos stakeholders. Comece a combinar o discurso com a prática fortalecendo sua governança. O Sistema B tem, por exemplo, uma proposta de duas cláusulas para inserir no contrato ou estatuto social de sua empresa que amplia a segurança jurídica e vincula a administração do seu negócio com o compromisso de gerar impacto positivo e consideração de stakeholders na sua decisão de curto e longo prazos.

4. Meça e reporte seu impacto. Onde o seu negócio está nessa jornada em direção a uma nova economia? Comece medindo o seu impacto social e ambiental com métricas críveis, verificáveis e comparáveis. Isso ajudará você a construir o plano de desenvolvimento contínuo e lhe dará métricas para dialogar com investidores que buscam impacto social, ambiental e governança (ESG).

5. Alinhe sua agenda com a agenda global. Nada importa se não alinharmos nossos empreendimentos com a agenda desta década, os ODS. Como o seu negócio está performando em relação aos 17 objetivos globais e às 169 metas? Conheça a nova ferramenta da ONU, lançada em colaboração com o B Lab, que te permite medir, criar um caminho de melhora e acompanhar o seu desenvolvimento para ser um dos protagonistas na resolução dessa agenda.

Note que desde já é possível acelerar a transformação cultural em seu negócio e se juntar a um movimento global que está redefinindo sucesso na economia. A era das intenções já passou – precisamos de compromissos combinados com ações concretas. Isso fortalecerá sua liderança para atuar com consistência, coerência e integridade frente aos seus investidores, colaboradores, fornecedores e consumidores. Seja bem- vindo(a) ao novo normal do capitalismo.

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