Carreira

Employer branding e propósito: alguns cuidados

Na construção da carreira, profissionais valorizam elementos básicos de um emprego em detrimento dos propósitos organizacionais e de marca
Atua como consultora em projetos de comunicação, employer branding e gestão da mudança pela Smart Comms, empresa que fundou em 2016. Pós-graduada em marketing (FGV), graduada em comunicação (Cásper Líbero) e mestranda em psicologia organizacional (University of London), atuou por 13 anos nas áreas de comunicação e marca em empresas como Johnson&Johnson, Unilever, Touch Branding e Votorantim Cimentos. É professora do curso livre de employer branding da Faculdade Cásper Líbero, um dos primeiros do Brasil, autora de artigos sobre o tema em publicações brasileiras e internacionais e co-autora do livro Employer Branding: conceitos, modelos e prática.

Compartilhar:

No mercado de talentos, é comum de alguns anos para cá ouvir falas repetidas aos quatro ventos sobre o propósito. Como discurso, ter um propósito se tornou um ponto central das escolhas das pessoas por um determinado lugar para se trabalhar. No entanto, costumo receber essas afirmações com cautela por alguns motivos.

Primeiro, é preciso fazer um recorte e lembrar que ao falarmos de “escolher lugares para se trabalhar” estamos fazendo um recorte bem específico para olhar uma minoria que realmente pode escolher, especialmente em uma realidade como a brasileira.

Em segundo lugar, diversas pesquisas, algumas realizadas há mais de 20 anos (antes até do “propósito” virar o tema da vez), dão conta de que os três fatores preponderantes nas escolhas mudaram quase nada ao longo dos anos: __(1)__ salários e benefícios atrativos; __(2)__ possibilidade de equilibrar diferentes esferas da vida; __(3)__ segurança no emprego.

Muda um pouco a ordem de fatores quando os recortes são por idade, região e área de trabalho, mas são sempre os mesmos, acompanhados de fatores como “fazer o que gosta”, “desenvolvimento” e “segmento de atuação da empresa”.

## Sem base não há propósito

Depois de alguns anos ouvindo em profundidade centenas de pessoas que trabalham em empresas de tecnologia, indústrias e serviços – sendo algumas delas unicórnios, empresas familiares (quase centenárias) e multinacionais –, notei que se esses três fatores preponderantes não são cuidados, o restante desmorona, com propósito e tudo.

Essa derrocada ocorre para quem pode escolher e para quem não pode, sendo que esses últimos obviamente são mais prejudicados.

Tendo a ser um pouco mais confiante nessas pesquisas que, ao mostrar um perfil generalizado, colocam os[ aspectos tangíveis de escolha](https://mitsloanreview.com.br/post/remotizacao-e-a-emigracao-de-talentos-do-brasil) no topo da lista de prioridades por um motivo principal: essas pesquisas sempre são pautadas por autorrelato, sem observação.

Sejamos francos: o que as pessoas dizem não reflete exatamente o que elas fazem. Se uma pesquisa pergunta a alguém se propósito importa numa escolha de emprego, é difícil que a pessoa responda que não. Afinal, propósito é bom e nobre, e quem não quer ser visto assim, ou ver a si mesmo, dessa forma?

Assim, “propósito” vai lá para o alto da lista de pontos decisórios no resultado da pesquisa e vira manchetes, como: “propósito é tão importante quanto salário quando as pessoas decidem trabalhar ou não em uma empresa”. Ótimo. Sabe quantas vezes ouvi alguém dizer que propósito foi fator preponderante para que entrassem ou desejassem sair da empresa em que estão? Conto nos dedos de uma mão.

Isso significar que ter um propósito não é importante? Claro que não, pois sustentar um propósito é relevante em múltiplos sentidos.

Acontece que o propósito falha como base da marca empregadora quando as escolhas sobre o que se diz ficam pautadas mais no propósito em si do que em como esse propósito é vivido no dia a dia. Além disso, há um fator mais agravante: a insistência em conectar o propósito da empresa com propósitos pessoais.

Nos dois casos, a falha pode ser gerada tanto na proposta de valor ao empregado (EVP) quanto nas narrativas construídas em pontos de contato.

O propósito da empresa pode dar contornos muito interessantes ao trabalho que cada um faz e as narrativas construídas em torno disso. No entanto, exceto em casos muito específicos, para a maioria de nós o propósito sozinho não responde aos fatores básicos que realmente direcionam as [escolhas de carreira](https://www.revistahsm.com.br/post/o-que-explica-a-baixa-qualidade-nos-curriculos).

*Gostou do artigo escrito pela Bruna Gomes Mascarenhas? Então saiba mais sobre gestão employer branding assinando [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Passa conhecimento

Incluir intencionalmente ou excluir consequentemente?

A estreia da coluna “Papo Diverso”, este espaço que a Talento Incluir terá a partir de hoje na HSM Management, começa com um texto de sua CEO, Carolina Ignarra, neste dia 3/12, em que se trata do “Dia da Pessoa com Deficiência”, um marco necessário para continuarmos o enfrentamento das barreiras do capacitismo, que ainda existe cotidianamente em nossa sociedade.

Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
Conheça o conceito de Inteligência Cultural e compreenda os três pilares que vão te ajudar a trazer clareza e compreensão para sua comunicação interpessoal (e talvez internacional)

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
Liderança
Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.

Athila Machado

6 min de leitura
Empreendedorismo
Após a pandemia, a Geração Z que ingressa no mercado de trabalho aderiu ao movimento do "quiet quitting", realizando apenas o mínimo necessário em seus empregos por falta de satisfação. Pesquisa da Mckinsey mostra que 25% da Geração Z se sentiram mais ansiosos no trabalho, quase o dobro das gerações anteriores. Ambientes tóxicos, falta de reconhecimento e não se sentirem valorizados são alguns dos principais motivos.

Samir Iásbeck

4 min de leitura
Empreendedorismo
Otimizar processos para gerar empregos de melhor qualidade e remuneração, desenvolver produtos e serviços acessíveis para a população de baixa renda e investir em tecnologias disruptivas que possibilitem a criação de novos modelos de negócios inclusivos são peças-chave nessa remontagem da sociedade no mundo

Hilton Menezes

4 min de leitura
Finanças
Em um mercado cada vez mais competitivo, a inovação se destaca como fator crucial para o crescimento empresarial. Porém, transformar ideias inovadoras em realidade requer compreender as principais fontes de fomento disponíveis no Brasil, como BNDES, FINEP e Embrapii, além de adotar uma abordagem estratégica na elaboração de projetos robustos.

Eline Casalosa

4 min de leitura