Estratégia e Execução

Empresas pelo fim do racismo

Em todo o mundo, o assassinato de George Floyd em frente às câmeras, nos Estados Unidos, provocou indignação e vem motivando discussões sobre racismo estrutural. Em artigo na revista __Fast Company__, professor do Insead cobra iniciativas das empresas e escolas de gestão no combate a esse problema, que ceifa vidas e reduz oportunidades.

Compartilhar:

## Qual o papel dos modelos de liderança?

*Em artigo na revista Fast Company, professor do Insead cobra uma postura de quem está à frente das organizações empresariais ou nas instituições que formam futuros líderes*

Qual a relação entre os modelos e práticas de liderança, no dia a dia das grandes empresas, e o racismo estrutural que ainda persiste nas sociedades de todo mundo e que se traduzem em casos de injustiça e violência, como o do assassinato de George Floyd no Estados Unidos?

A questão, bastante provocativa, permeia o artigo do professor de Comportamento Organizacional do Insead, Gianpiero Petriglieri. Para ele, os modelos vigentes de liderança contribuem para a desumanização ao ter como objetivo final, muitas vezes, sob uma superfície “iluminada”, apenas poder pessoal e lucro, ou ambos.
“Promovemos a diversidade, a compaixão e a licença remunerada não porque elas são boas em si, mas porque aumentam o comprometimento, a motivação e, em última análise, os resultados finais da organização. Você deve estar sempre preparado para defender a equidade do ponto de vista empresarial”, escreve.

Mas, afinal, o que há de errado com isso? Para o professor Petriglieri, a maioria das iniciativas empresariais nesse campo reforçam uma visão de liderança que, sem rodeios, é um meio de fazer com que as coisas aconteçam e os objetivos estabelecidos sejam alcançados. Em outras palavras, se você é capaz de fazer isso, você é um líder. Caso contrário, não é.
“Influenciar os outros importa mais do que representá-los. Eficiência importa mais do que liberdade. A participação é enquadrada como uma forma de colocar as pessoas a bordo, em vez de libertá-las”, destaca o autor.
Petriglieri dá como exemplo a recente disputa entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e o fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg. Ambos são líderes controversos cuja influência agora vai muito além de seus negócios e do mundo dos negócios, explica o professor.
“Ambos nos lembram que a liderança nem sempre é boa ou ausente. Às vezes é presente e prejudicial. O caos, a incompetência e as agressões que os críticos lamentam como fracassos da liderança são tudo menos isso. Há muito tempo são características, não falhas, da liderança antissocial. E nossas críticas seriam mais críveis se não tivéssemos pavimentado o caminho para isso, promovendo visionários impulsivos e operadores habilidosos que construíram seu caminho até o topo”, afirma.

Embora reconheça que muitos leitores esperam que ele fale de líderes que se destacam positivamente ou ofereça orientações que os executivos adotem novos comportamentos, Petriglieri propõe um caminho bem diferente. “Temos muito trabalho pela frente”, afirma.

Para o professor, um exemplo de liderança a ser seguido, ou pelo menos um bom começo nesse sentido, ele está em cada um que, de alguma forma, atua no mundo dos negócios. “Se você está incomodado o suficiente para compartilhar uma crítica desse tipo ao modelo de liderança, talvez esteja aberto à sua ideia principal”, escreve, explicando que o problema não está no que os líderes e as empresas deixam de fazer, mas no que tem feito por tanto tempo. Então, como mudar?

“Parar. Devemos parar de fazer o que estamos fazendo, reconhecendo a raiva que causamos e agindo para que as soluções apareçam. Pare de vender receitas. Levante mais objeções. Estimule conversas difíceis. Isso significaria valorizar a liberdade, o protesto e a dissidência tanto quanto a eficiência, as melhores práticas e histórias edificantes. Pode até ser o início da humanização da liderança, tornando-a menos um perigo, ou uma cura, e mais um trabalho em constante evolução”, conclui.
__
INICIATIVAS INOVADORAS__
Para além das lideranças e das empresas, o assassinato de George Floyd e o movimento Black Lives Matter segue mobilizando pessoas em todo o mundo, de diversas formas, algumas bastante inovadoras. YouTubers, por exemplo, estão criando vídeos monetizados que possibilitam a qualquer fazer doações, com o simples gesto de desabilitar o bloqueador de anúncios.

Segundo a Fast Company, a YouTuber Zoe Amira, especializada em conteúdo de beleza e que conta com quase 70 mil seguidores, foi pioneira na criação de vídeos desse tipo, que geram receita através do Adsense. No primeiro deles, ela anuncia que é possível ajudar a causa sem colocar a mão no bolso.
A postagem aconteceu no dia 30 de maio; em 4 de junho, já contabilizava mais de 7,5 milhões de visualizações. A receita será destinada integralmente para uma lista de organizações que inclui Brooklyn Bail Fund, Minnesota Freedom Fund, BlackLivesMatter.com e Reclaim the Block.

A fim de garantir que as visualizações gerem doações, os YouTubers pedem que os usuários desativem temporariamente qualquer bloqueador de anúncios do navegador, não pulem os anúncios e, se estiverem repetindo o vídeo, devem fazer isso a partir da lista de reprodução ou saindo e clicando no vídeo novamente.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Liderança
A liderança eficaz exige a superação de modelos ultrapassados e a adoção de um estilo que valorize autonomia, diversidade e tomada de decisão compartilhada. Adaptar-se a essa nova realidade é essencial para impulsionar resultados e construir equipes de alta performance.

Rubens Pimentel

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O DeepSeek, modelo de inteligência artificial desenvolvido na China, emerge como força disruptiva que desafia o domínio das big techs ocidentais, propondo uma abordagem tecnológica mais acessível, descentralizada e eficiente. Desenvolvido com uma estratégia de baixo custo e alto desempenho, o modelo representa uma revolução que transcende aspectos meramente tecnológicos, impactando dinâmicas geopolíticas e econômicas globais.

Leandro Mattos

0 min de leitura
Empreendedorismo
País do sudeste asiático lidera o ranking educacional PISA, ao passo que o Brasil despencou da 51ª para a 65ª posição entre o início deste milênio e a segunda década, apostando em currículos focados em resolução de problemas, habilidades críticas e pensamento analítico, entre outros; resultado, desde então, tem sido um brutal impacto na produtividade das empresas

Marina Proença

5 min de leitura
Empreendedorismo
A proficiência amplia oportunidades, fortalece a liderança e impulsiona carreiras, como demonstram casos reais de ascensão corporativa. Empresas visionárias que investem no desenvolvimento linguístico de seus talentos garantem vantagem competitiva, pois comunicação eficaz e domínio do inglês são fatores decisivos para inovação, negociação e liderança no cenário global.

Gilberto de Paiva Dias

9 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Com o avanço da inteligência artificial, a produção de vídeos se tornou mais acessível e personalizada, permitindo locuções humanizadas, avatares realistas e edições automatizadas. No entanto, o uso dessas tecnologias exige responsabilidade ética para evitar abusos. Equilibrando inovação e transparência, empresas podem transformar a comunicação e o aprendizado, criando experiências imersivas que inspiram e engajam.

Luiz Alexandre Castanha

4 min de leitura
Empreendedorismo
A inteligência cultural é um diferencial estratégico para líderes globais, permitindo integrar narrativas históricas e práticas locais para impulsionar inovação, colaboração e impacto sustentável.

Angelina Bejgrowicz

7 min de leitura
Empreendedorismo
A intencionalidade não é a solução para tudo, mas é o que transforma escolhas em estratégias e nos permite navegar a vida com mais clareza e propósito.

Isabela Corrêa

6 min de leitura
Liderança
Construir e consolidar um posicionamento executivo é essencial para liderar com clareza, alinhar valores e princípios à gestão e impulsionar o desenvolvimento de carreira. Um posicionamento bem definido orienta decisões, fortalece relações profissionais e contribui para um ambiente de trabalho mais ético, produtivo e sustentável.

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Empreendedorismo
Impacto social e sustentabilidade financeira não são opostos – são aliados essenciais para transformar vidas de forma duradoura. Entender essa relação foi o que permitiu ao Aqualuz crescer e beneficiar milhares de pessoas.

Anna Luísa Beserra

5 min de leitura
ESG
Infelizmente a inclusão tem sofrido ataques nas últimas semanas. Por isso, é necessário entender que não é uma tendência, mas uma necessidade estratégica e econômica. Resistir aos retrocessos é garantir um futuro mais justo e sustentável.

Carolina Ignarra

0 min de leitura