Desenvolvimento pessoal

Esqueça o equilíbrio entre vida pessoal e profissional

Hoje, casa e trabalho se misturam, mas há uma harmonia possível. Mais fluida, dinâmica e conectada – e sob sua responsabilidade
Jornalista, com MBA em Recursos Humanos, acumula mais de 20 anos de experiência profissional. Trabalhou na Editora Abril por 15 anos, nas revistas Exame, Você S/A e Você RH. Ingressou no Great Place to Work em 2016 e, desde Janeiro de 2023 faz parte do Ecossistema Great People, parceiro do GPTW no Brasil, como diretora de Conteúdo e Relações Institucionais. Faz palestras em todo o País, traçando análises históricas e tendências sobre a evolução nas relações de trabalho e seu impacto na gestão de pessoas. Autora dos livros: *Grandes líderes de lessoas*, *25 anos de história da gestão de pessoas* e *Negócios nas melhores empresas para trabalhar*, já visitou mais de 200 empresas analisando ambientes de trabalho.

Compartilhar:

Encontrar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional significava o maior símbolo de sucesso e realização. De um lado estavam, orgulhosos, aqueles que conseguiam segurar os pratinhos do escritório e de casa em perfeita harmonia. Do outro, as áreas de recursos humanos, satisfeitas, exibindo suas práticas mais humanizadas nas pesquisas de clima periódicas. Quem aí não se lembra das salinhas de descompressão, massagem de 15 minutos e os famosos pufes ou redes para estimular o cochilo pós-almoço dos funcionários?

Acontece que o mundo mudou muito rapidamente. Essa divisória que a era industrial nos impôs e que ainda insistimos em colocar em nossa rotina foi rompida há algum tempo, mais especificamente com a popularização dos smartphones.

Esses aparelhinhos, cada vez mais sofisticados, permitiram que passássemos a carregar o trabalho para a casa e a casa para o trabalho, integrando aos poucos a tal vida pessoal e profissional. Segundo uma pesquisa da [Strategy Analytics](https://www.strategyanalytics.com/access-services/devices/mobile-phones/smartphone/smartphones/reports/report-detail/half-the-world-now-owns-a-smartphone), em 1994, 30 mil pessoas tinham acesso a um smartphone. Em 2012, uma realidade completamente diferente: 1 bilhão de seres humanos tinham um celular inteligente. Em junho de 2021, já era quase a metade da população mundial: 3,95 bilhões de usuários desse objeto que integra toda nossa vida, derrubando de vez o mito de que há um único horário específico e regrado para se conectar às atividades profissionais e outro para os afazeres pessoais e domésticos.

Não bastasse toda a tecnologia que já vinha desmistificando esse tal equilíbrio entre duas vidas, a pandemia escancarou de vez que a vida é uma só. Com chefe, filho, bichos de estimação e uma pilha de louça esperando para lavar.

Portanto, meus amigos, parem de tentar achar o equilíbrio perfeito entre a vida profissional e pessoal e tentem encontrar o melhor fluxo na sua rotina diária para combinar as atividades que cabem nas 24 horas do seu dia.

## Trabalho só de segunda a sexta
Na era industrial, que pautou nossa forma de trabalhar durante anos (e ainda sussurra no nosso ouvido como devemos agir), havia uma divisão muito clara na nossa rotina. “Eu trabalho a maior parte do tempo, no restante eu vivo”.

Ou seja, o trabalho, para muitos, era um elemento de sobrevivência. Lá, na firma, na fábrica, no escritório, eu sobrevivo para garantir o sustento da minha vida, aquela parte pequenina que acontece das oito às dez da noite.

Parece terrível isso, não é mesmo? Sim, mas tem gente que tem saudade da época em que podia se desconectar do trabalho às seis da tarde na sexta-feira e se reconectar às oito da manhã na segunda-feira, com direito a sentir melancolia ao ouvir a música de abertura do Fantástico.

Seria mesmo melhor termos uma vida dividida em duas esferas em que você passa o tempo todo achando que o mundo ideal é encontrar a harmonia perfeita entre elas? Depende muito de como você recebe essa mistura de papéis e, principalmente, de como organiza essa vida única.

## Mudança de mindset
Durante anos, fomos ensinados a acreditar que uma vida produtiva era a que se dedicava 100% ao trabalho duro. Pausa e folga eram coisas para se fazer depois, no além da aposentadoria. Portanto, fomos habituados a organizar nossa rotina dessa forma: trabalho antes, diversão depois, afinal a palavra produtividade não combinava com divertimento.

Na integração de vidas, você faz tudo junto, trabalha e se diverte, o que pode acontecer de domingo a domingo. Cabe a você, muito mais do que à empresa ou ao seu chefe, saber criar uma nova rotina, uma nova organização para sua agenda que permita incluir no expediente um passeio com o cachorro, um banho, uma leitura de uma hora, exercícios físicos e o que mais você quiser.

Mas, cabe? Cabe, porque não estamos mais falando de oito horas, mas de 24 horas livres para você administrar da forma que seu momento de vida e suas prioridades determinam.

Diferentemente do que muitos pensam, essa liberdade exige disciplina, além de autoconhecimento e uma boa dose de confiança. Sim, sem confiança no ambiente de trabalho e entre equipes, você volta a operar no modelo segunda à sexta, das 8h às 17h.

Hoje podemos fazer conexões, negócios e contratações sem sair de casa. E podemos sair de casa não exatamente para ir ao trabalho, mas pegar a estrada mais cedo na sexta-feira (ou na quinta, ou na quarta) e fazer um pouco de tudo que cabe na vida, inclusive trabalhar. É, eu não tenho dúvidas de que o mundo do trabalho evoluiu. A minha dúvida é se nós, trabalhadores, evoluímos.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

ESG
Adotar o 'Best Before' no Brasil pode reduzir o desperdício de alimentos, mas demanda conscientização e mudanças na cadeia logística para funcionar

Lucas Infante

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, a robótica ganhou destaque como tecnologia transformadora, com aplicações que vão da saúde e criatividade à exploração espacial, mas ainda enfrenta desafios de escalabilidade e adaptação ao mundo real.

Renate Fuchs

6 min de leitura
Inovação
No SXSW 2025, Flavio Pripas, General Partner da Staged Ventures, reflete sobre IA como ferramenta para conexões humanas, inovação responsável e um futuro de abundância tecnológica.

Flávio Pripas

5 min de leitura
ESG
Home office + algoritmos = epidemia de solidão? Pesquisa Hibou revela que 57% dos brasileiros produzem mais em times multidisciplinares - no SXSW, Harvard e Deloitte apontam o caminho: reconexão intencional (5-3-1) e curiosidade vulnerável como antídotos para a atrofia social pós-Covid

Ligia Mello

6 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo de incertezas, os conselhos de administração precisam ser estratégicos, transparentes e ágeis, atuando em parceria com CEOs para enfrentar desafios como ESG, governança de dados e dilemas éticos da IA

Sérgio Simões

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Os cuidados necessários para o uso de IA vão muito além de dados e cada vez mais iremos precisar entender o real uso destas ferramentas para nos ajudar, e não dificultar nossa vida.

Eduardo Freire

7 min de leitura
Liderança
A Inteligência Artificial está transformando o mercado de trabalho, mas em vez de substituir humanos, deve ser vista como uma aliada que amplia competências e libera tempo para atividades criativas e estratégicas, valorizando a inteligência única do ser humano.

Jussara Dutra

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.

Vanda Lohn

5 min de leitura
Empreendedorismo
Afinal, o SXSW é um evento de quem vai, mas também de quem se permite aprender com ele de qualquer lugar do mundo – e, mais importante, transformar esses insights em ações que realmente façam sentido aqui no Brasil.

Dilma Campos

6 min de leitura
Uncategorized
O futuro das experiências de marca está na fusão entre nostalgia e inovação: 78% dos brasileiros têm memórias afetivas com campanhas (Bombril, Parmalat, Coca-Cola), mas resistem à IA (62% desconfiam) - o desafio é equilibrar personalização tecnológica com emoções coletivas que criam laços duradouros

Dilma Campos

7 min de leitura