Marketing e vendas

O empoderamento do cliente e a era do customer experience

O que mudou no comportamento do consumidor e como as empresas devem se adequar a essa nova realidade?

Compartilhar:

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/f83d5f81-982f-4371-80ce-56f2f72034c5.png)

Há bem pouco tempo, as empresas se orgulhavam dos altos índices de satisfação que alcançavam com seus clientes. Esse comportamento era um forte indicador de recompra e, naturalmente, definidor da fidelidade dos consumidores.

Na atualidade, os consumidores estão modificando hábitos a uma velocidade muito superior às empresas, mesmo aquelas que se consideram atualizadas quanto às estratégias de relacionamento. O que os satisfazia no passado não é, necessariamente, um fator de sucesso para eles continuarem fiéis à empresa da qual sempre compraram. 

Uma das razões para essa mudança de comportamento é o vertiginoso crescimento das redes sociais, que empoderou os consumidores e acrescentou um complicador para as empresas: os clientes multiplicaram seu poder de abandoná-las e também de causar danos à marca. 

Há pouco tempo, uma reclamação grave de um cliente costumava ficar restrita à empresa e, em casos mais graves, chegava ao diretor. Assim, o dano à reputação da empresa dependia de muitos telefonemas e e-mails, representando um grande esforço do consumidor para reclamar. Nos dias atuais, a repercussão de uma única experiência negativa do consumidor pode criar um estrago sem precedentes nas vendas e na imagem da empresa.

O fato é que as organizações possuíam basicamente quatro maneiras de vender e prestar suporte aos clientes: presencial, site próprio, telefone e e-mail. Nos dias de hoje, os canais de negócios se multiplicaram, chegaram a dez e não param de crescer. Se, por um lado, as equipes de marketing gostaram dessa facilidade para contatar seus consumidores, por outro, as áreas operacionais nunca se viram tão assustadas e desafiadas a entender a jornada de seus clientes, que parecem cada vez mais incontroláveis.

Estamos na era do omnichannel, em que os consumidores, por meio das redes sociais, dos sites de busca, dos sites de reclamação, dos grupos em aplicativos e da coleta de opinião dos demais compradores, aumentaram seu poder de fogo junto às marcas, mudando sua reação quando algo não vai bem: de simples reclamação para o abandono da marca conjugado com reclamações em grande escala. Veja um resumo da mudança de comportamento no quadro a seguir:

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/c769d13f-b4cc-4a88-b0cb-f2dfe2196fdf.jpeg)

O próprio desenvolvimento tecnológico, que é um grande aliado das empresas para fazerem cada vez mais ações de vendas e marketing, agora é o grande responsável pelo novo empoderamento dos clientes, levando-os a comportamentos mais radicais quando a empresa fornecedora falha.

Nessa nova relação, os clientes abandonam as empresas sem piedade e, além disso, propagam essa insatisfação para centenas de outras pessoas. Em paralelo, as empresas até percebem essa mudança de atitude, mas estão ocupadas demais em lançar produtos e serviços freneticamente para superar a concorrência. Assim, essa estratégia de novidades incessantes tem gerado muitas falhas na jornada do cliente em todas as suas etapas.

Motivado pela percepção de mudança abrupta no comportamento dos consumidores e pela dificuldade crescente de as empresas entenderem essa nova realidade, realizei uma pesquisa inédita sobre os motivos de os clientes “abandonarem” suas empresas favoritas – de que maneira fazem isso, em que momento tomam essa decisão e qual a repercussão desse abandono. 

No total, foram computadas 494 pesquisas válidas, considerando uma margem de erro de 4% para um nível de confiança de 95%. Foram coletadas respostas de pessoas com mais de 21 anos e que acessam a web em todo o Brasil. A finalidade desse estudo foi contribuir para a melhoria das relações de consumo e para levar organizações de todos os portes e de todos os setores a refletirem melhor sobre como os consumidores se comportam em sua jornada quando algo não vai bem.

A impressionante marca de 98% dos respondentes já desistiram de ser cliente por algum problema originado pela empresa. O estudo concluiu também que 90% das pessoas fazem divulgação das experiências negativas para amigos, familiares ou conhecidos. Esse número é um importante dado para reflexão, pois clientes insatisfeitos tendem a “punir” as empresas duplamente: deixando de comprar e atuando como detrator da marca em larga escala.

São vários os motivos que levam os clientes a abandonarem as empresas que costumam consumir (veja o gráfico na próxima página).

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/d5762cde-633a-4f0d-9627-ea437e3b9d12.jpeg)

Podemos listar de maneira bem pragmática sete fatores que levam o cliente no Brasil a trocar de marca: 

1. Atendimento

2. Qualidade

3. Confiança

4. Tempo

5. Solução

6. Promessa

7. Frustração

No passado, o mercado brasileiro trabalhava com a hipótese de que um cliente insatisfeito poderia falar com 13 outros, propagando sua experiência negativa. Contudo, na atualidade, concluímos que um único cliente insatisfeito propaga a informação, na média, para 232 pessoas, demonstrando um poder bélico sem precedentes. 

Minha sugestão é que esse indicador (1 para 232 pessoas), a partir de agora, faça parte das discussões diárias das empresas, as quais devem medir o quanto estão perdendo de vendas e os danos à sua reputação. Não seria um bom momento para os executivos repensarem como estão investindo na mudança de cultura organizacional e implantarem verdadeiramente o Customer Experience (CX)?

Com tantos anos na área, percebo claramente que as empresas, por mais que tenham boas intenções, acabam se apaixonando em demasia por seus produtos e serviços, tornando as experiências do cliente consequência desse processo, e não a origem de tudo. 

Incrivelmente isso vem piorando. Com a proliferação das startups, a paixão pelo que é criado e produzido continua em alta, por isso se faz necessário rever constantemente o modelo de experiência do cliente e focar de verdade na compreensão e na pavimentação de sua jornada. Embora muitas empresas se considerem focadas nos clientes, não priorizam legitimamente suas experiências.

Contudo, modificar esse cenário é possível. O primeiro passo para essa transformação é implantar uma cultura orientada para a experiência do cliente ligada à revisão de processos, pessoas, tecnologias, indicadores, capacitação, governança e comunicação. Ou seja, Customer Experience não é uma mecânica, tampouco uma filosofia. Embora o mercado trate o tema como algo conceitual, CX é, acima de tudo, uma estratégia empresarial com a finalidade de dirigir inteligência e recursos para o planejamento, implantação e controle de iniciativas que vão proporcionar aos clientes experiências tão gratificantes, que serão capazes de sensibilizá-los para continuarem “ligados” racional e emocionalmente à empresa fornecedora. Esse é o princípio da lealdade!

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/200dbdef-01de-4e1b-bf22-a0dd879e710d.jpeg)

Por isso, criei e aplico um framework que é de fácil apresentação e assimilação pelos executivos. Em geral, com esse modelo, eles compreendem a complexidade e os passos necessários para se modificar a jornada dos clientes na empresa. Nem sempre compreendem que essa transformação, para ser consistente, precisará talvez de um ano de projeto para maturar. Aliás, tudo começa com o comprometimento dos dirigentes a respeito do escopo, do prazo e das etapas desse complexo projeto que possui três camadas. Material disponível para download no fim do post, exclusivo para o assinante da revista

A complexidade de um projeto para elevar a experiência de clientes e colaboradores indica que não basta investir somente em tecnologia. Também não é suficiente transformar um único processo da empresa para se atingir um modelo satisfatório quanto à jornada do cliente. 

Com a facilidade de abandono das marcas pelos clientes, com o aumento da complexidade dos processos organizacionais e a proliferação de produtos e serviços concorrentes, a resposta é implantar projetos ligados à experiência do cliente com cadência, metodologia segura, capacitação das pessoas e transformação da cultura organizacional.

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/ffe9a2b1-d17d-4e1d-bda1-c9ce6666c467.png)

O conteúdo a seguir foi produzido para a edição 136-eXtra e **é exclusivo para assinantes.**

![](https://revista-hsm-public.s3.amazonaws.com/uploads/026b910f-94ff-4680-a046-156622ce65dd.jpeg)

O conteúdo acima foi criado por Roberto Madruga para a edição 136 eXtra. Na foto, vemos o framework de uma jornada do consumidor ideal. 

Confira a matéria na íntegra na HSM Management (Edição 136) para mais informações sobre este assunto.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança na gestão do mundo híbrido

Este modelo que nasceu da necessidade na pandemia agora impulsiona o engajamento, reduz custos e redefine a gestão. Para líderes, o desafio é alinhar flexibilidade, cultura organizacional e performance em um mercado cada vez mais dinâmico.

Data economy: Como a inteligência estratégica redefine a competitividade no século XXI

Na era digital, os dados emergem como o ativo mais estratégico, capaz de direcionar decisões, impulsionar inovações e assegurar vantagem competitiva. Transformar esse vasto volume de informações em valor concreto exige infraestrutura robusta, segurança aprimorada e governança ética, elementos essenciais para fortalecer a confiança e a sustentabilidade nos negócios.

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
Conheça o conceito de Inteligência Cultural e compreenda os três pilares que vão te ajudar a trazer clareza e compreensão para sua comunicação interpessoal (e talvez internacional)

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
Liderança
Entenda como construir um ambiente organizacional que prioriza segurança psicológica, engajamento e o desenvolvimento genuíno das equipes.

Athila Machado

6 min de leitura
Empreendedorismo
Após a pandemia, a Geração Z que ingressa no mercado de trabalho aderiu ao movimento do "quiet quitting", realizando apenas o mínimo necessário em seus empregos por falta de satisfação. Pesquisa da Mckinsey mostra que 25% da Geração Z se sentiram mais ansiosos no trabalho, quase o dobro das gerações anteriores. Ambientes tóxicos, falta de reconhecimento e não se sentirem valorizados são alguns dos principais motivos.

Samir Iásbeck

4 min de leitura
Empreendedorismo
Otimizar processos para gerar empregos de melhor qualidade e remuneração, desenvolver produtos e serviços acessíveis para a população de baixa renda e investir em tecnologias disruptivas que possibilitem a criação de novos modelos de negócios inclusivos são peças-chave nessa remontagem da sociedade no mundo

Hilton Menezes

4 min de leitura
Finanças
Em um mercado cada vez mais competitivo, a inovação se destaca como fator crucial para o crescimento empresarial. Porém, transformar ideias inovadoras em realidade requer compreender as principais fontes de fomento disponíveis no Brasil, como BNDES, FINEP e Embrapii, além de adotar uma abordagem estratégica na elaboração de projetos robustos.

Eline Casalosa

4 min de leitura