Nos últimos anos vimos as discussões sobre o uso de tecnologias, como inteligência artificial, aprendizado em máquina e automação, ganharem o topo das conversas nas empresas para fomentar a inovação e manter a competitividade. Mas por trás disso há um elemento fundamental que precisa ser priorizado: o capital humano. Sem as pessoas, nenhum investimento em ferramentas disruptivas vai para frente. Não à toa, o estudo 2024 Global Human Capital Trends, realizado pela consultoria Deloitte com mais de 14 mil pessoas em 95 países, mostra que quanto mais o trabalho se torna sem fronteiras, mais valorizadas são as capacidades exclusivamente humanas, como a empatia e a curiosidade.
Se pensarmos na nossa própria experiência, seja como líder ou como colega de trabalho, nossa intuição vai apontar para o mesmo caminho: valorizamos quem tem aquele insight que ninguém mais pensou na sala de reunião, ficamos admirados com quem aparece com uma ideia simples que soluciona um processo complicado. Mas por que não incentivamos isso no nosso dia a dia? A mesma pesquisa da Deloitte revela que 73% dos respondentes dizem que é importante garantir que a capacidade humana na organização acompanhe a evolução tecnológica, mas apenas 9% afirmam que sua empresa está caminhando para conquistar esse equilíbrio. E mais: apesar de 73% das companhias reconhecerem a importância da imaginação, apenas 37% a cultivam.
A capacidade de ser curioso, de pensar de maneira criativa, de ser empático e resiliente estão entre as principais habilidades requisitadas pelos empregadores, diz outra pesquisa, essa do Fórum Econômico Mundial. A propósito, há somente uma habilidade tecnológica listada entre as top 10. Mesmo assim, os entrevistados estimam que menos de 10% de sua força de trabalho atual possui essas habilidades tão particularmente humanas.
Tenho refletido sobre esse dilema e acredito que os líderes podem desempenhar um papel mais proativo para despertar a criatividade e a curiosidade nas equipes. E isso sem apelar para soluções mirabolantes! Acredito muito no poder do descanso. É preciso permitir aos funcionários, especialmente aqueles em papel de liderança, que possam se desligar do trabalho. Quando eu consigo me desligar, por exemplo, é o momento em que mais sou capaz de processar melhor as informações. Quando ando a cavalo, por exemplo, uma das minhas paixões da adolescência, acabo encontrando as melhores soluções – mesmo que eu não esteja concentrado nisso.
Nesses momentos em que sinto que estou livre da carga do trabalho, as ideias surgem. Mando mensagens para mim mesmo pelo celular, deixo minha imaginação solta para me fornecer respostas para assuntos delicados que terei de lidar numa reunião tensa no dia seguinte. Quando viajo, então, minha mente se torna uma usina de ideias: todo museu, restaurante e paisagem se tornam inspiração para um evento ou para um novo projeto – mesmo que eu não tenha consciência daquilo no momento em que está acontecendo.
Deixo aqui alguns conselhos para líderes e empresários que estão em busca de extrair o melhor da capacidade criativa de seus colaboradores:
– Evite o microgerenciamento: dê orientações claras e deixe que as mentes criativas respirem;
– Estimule a diversidade nas equipes: experiências e backgrounds diferentes desafiam aquelas “opiniões formadas sobre tudo” e trazem um fôlego novo;
– Crie um ambiente de segurança psicológica: deixe que os feedbacks e opiniões fluam sem risco de censura ou punição;
– Deixe de lado o perfeccionismo: para criar algo novo, é preciso experimentar e estar disposto a errar. As empresas mais inovadoras e criativas encorajam a experimentação e são flexíveis para se adaptar às constantes mudanças do mercado e das pessoas;
– Incentive a liberdade para aprender e buscar inspiração fora do trabalho: incentive o time a praticar atividades que gostam fora o escopo de trabalho, como música, esporte, exposições e gastronomia.
Será que, com tudo isso em prática, poderemos pensar em um ambiente de trabalho mais humano e com inovação brotando por toda a parte? Estou certo de que a resposta é “sim”.