Liderança

O poder do silêncio na comunicação da liderança

Pequenas pausas podem afligir ou promover transformações. Saiba como usá-las
Viviane Mansi é executiva, conselheira e professora. É diretora de Comunicação na Diageo e passou por empresas como Toyota, GE, Votorantim e MSD. É coautora de Emoção e Comunicação – Reflexão para humanização das relações de trabalho.
Viviane Mansi é executiva da Toyota e da Fundação Toyota do Brasil, conselheira e professora. Participou da COP27, em novembro de 2022.

Compartilhar:

Se tem algo que a maioria de nós já viveu foi a eternidade de dois minutinhos de silêncio numa sessão de perguntas e respostas durante uma live ou uma reunião. Esta é uma demonstração contundente de que o tempo tem sim os segundos marcados pelo relógio – simétricos e passageiros – mas também tem uma contagem bem própria, cabendo um século inteiro em cada movimento do ponteiro. É interessante pensar como algo tão pequeno pode ser, ao mesmo tempo, tão grande.

Vale a pena lembrar que nem todo silêncio nos aflige. Alguns desses silêncios cumprem sua função e seguem em frente, enquanto outros nos tiram do eixo. Gosto de lembrar da fala da cronista Martha Medeiros, que diz que “o único silêncio que perturba é aquele que fala. E fala alto. É quando ninguém bate à nossa porta, não há e-mails na caixa de entrada, não há recados na secretária eletrônica e, mesmo assim, você entende a mensagem”. É um pensamento do campo das nossas relações afetivas, mas facilmente pode ser transportado para o universo organizacional. A aflição chega com a dúvida – esse silêncio significa mesmo o que eu acho que ele significa? 

Vejamos primeiro o silêncio produtivo. É aquele que nos ajuda a:

### Pensar / refletir. 

Se a gente administra o silêncio como parte da conversa, podemos nos concentrar melhor no que o outro diz. Ouvimos primeiro, elaboramos a resposta depois. Longe de ser simples, mas oportuno e produtivo. 

### Criar a chance de interlocução. 

Se a gente fala sem respirar, dificulta a interação dos demais. Dar uma pausa ajuda outras pessoas a se manifestarem na conversa. 

### Entender o ambiente. 

Há muitas coisas ocultas no nosso ambiente e o silêncio dá algumas pistas de quais são elas. As pessoas não falam por que não têm opinião formada ainda? Por que têm medo de serem repreendidas? Por que têm uma opinião divergente? Por que não querem se expor? Por que precisam de mais tempo para articular uma resposta? Por que não acham que vale a pena falar? Essa última chega a doer (rs). 

Este último é o silêncio que nos tira do eixo e enche de preocupação. 

Ouço muita gente se queixar de que os times não participam, mas quando começamos a explorar o comportamento da liderança, descobrimos aí um estilo tirano. Nem sempre a pessoa tem consciência ou essa intenção, mas palavras constroem mundos. Para dialogar é preciso abertura, simpatia e generosidade, como diz Edgar Morin. 

Se você lembrou de algum momento em que o silêncio fez parte da conversa e isso incomodou, tenho algumas ideias de como é possível minimizar esse desconforto:

## Faça perguntas

Se houver clima e isso não criar um constrangimento, faça perguntas às pessoas. Algo como “fulana, o que você acha?”, “beltrano, como você vê o impacto disso que estamos discutindo?”, “Ciclana, você sempre tem boas ideias – gostaria de agregar algo”? Interesse genuíno no outro contribui para as pessoas quererem falar. 

## Dê o primeiro passo 

Quando você provocar o silêncio, quebre o gelo: “isso é importante, me dê um minuto para pensar”, “quero mais tempo para refletir sobre isso”, etc. Não deixe a outra pessoa (ou outras pessoas) no vácuo.

## Sugira preparação

Outra dica simples é preparar as pessoas para compartilharem suas ideias. Quando enviar o convite para uma reunião, deixe claro que haverá tempo para perguntas. Eventualmente, mande materiais com antecedência. Deixe claro o que espera delas. 

## Questione-se

Diálogo é sempre um convite. Se o silêncio está muito presente, antes de mais nada, reflita sobre as suas próprias ações. Ajustes bem simples podem fazer a mais completa diferença. 

Para finalizar um bônus importante sobre silêncio – use-o com sabedoria. Ou seja, prefira o silêncio se a sua fala vai ofender ou machucar alguém.

Compartilhar:

Viviane Mansi é executiva, conselheira e professora. É diretora de Comunicação na Diageo e passou por empresas como Toyota, GE, Votorantim e MSD. É coautora de Emoção e Comunicação – Reflexão para humanização das relações de trabalho.

Artigos relacionados

Há um fio entre Ada Lovelace e o CESAR

Fora do tempo e do espaço, talvez fosse improvável imaginar qualquer linha que me ligasse a Ada Lovelace. Mais improvável ainda seria incluir, nesse mesmo

Empreendedorismo
Embora talvez estejamos longe de ver essa habilidade presente nos currículos formais, é ela que faz líderes conscientes e empreendedores inquietos
3 min de leitura
Marketing Business Driven
Leia esta crônica e se conscientize do espaço cada vez maior que as big techs ocupam em nossas vidas
3 min de leitura
Empreendedorismo
Falta de governança, nepotismo e desvios: como as empresas familiares repetem os erros da vilã de 'Vale Tudo'

Sergio Simões

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Já notou que estamos tendo estas sensações, mesmo no aumento da produção?

Leandro Mattos

7 min de leitura
Empreendedorismo
Fragilidades de gestão às vezes ficam silenciosas durante crescimentos, mas acabam impedindo um potencial escondido.

Bruno Padredi

5 min de leitura
Empreendedorismo
51,5% da população, só 18% dos negócios. Como as mulheres periféricas estão virando esse jogo?

Ana Fontes

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Marcelo Murilo

7 min de leitura
ESG
Projeto de mentoria de inclusão tem colaborado com o desenvolvimento da carreira de pessoas com deficiência na Eurofarma

Carolina Ignarra

6 min de leitura
Saúde mental, Gestão de pessoas
Como as empresas podem usar inteligência artificial e dados para se enquadrar na NR-1, aproveitando o adiamento das punições para 2026
0 min de leitura
ESG
Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Filippe Moura

6 min de leitura