A esta altura, todo mundo já sentiu que nossa vida não é mais a mesma, desde o nascimento até a morte. Para começar, esses dois acontecimentos viraram cardápios. Numa ponta definimos as características dos futuros filhos, nos mínimos detalhes, desde antes da gestação. Na outra, morremos cada vez menos de “morte morrida”, como diziam nossos avós, e passamos a escolher entre eutanásia, ortotanásia, suicídio assistido, distanásia etc. Entre as duas pontas, também tudo é diferente: a educação, o amor, o trabalho, a família, a amizade, enfim, tudo.
Nossos manuais de sobrevivência envelheceram. De um dia para o outro ficamos desbussolados, à procura de qualquer sinal que prometa um momento de segurança. O que ainda piora a angústia, por nos confundir, é que o planeta em que hoje vivemos é igualzinho ao anterior em aparência. Desorientados, tentamos velhas receitas que, claro, não funcionam. Cresce o mercado de conselheiros de meditação, de autoajuda, de psicoterapias positivas, de “compliances” controladoras. Entra na moda se falar em “saúde mental” nas empresas, infelizmente entendendo erroneamente que saúde mental é educação do desejo. São todos paliativos de breve, no máximo de média, duração.
Frente a esse estado calamitoso de falsas soluções, propus que chamássemos esse novo planeta que habitamos de TerraDois. E, por conseguinte, o que deixamos para trás, de TerraUm. O simples fato de nomeá-los já evidencia uma diferença, convidando a pesquisar soluções adequadas a essa nova era, não se confortando com bálsamos provisórios.
Antes das soluções, no entanto, parece-me fundamental compreender qual foi a revolução, qual o aspecto determinante que nos levou de TerraUm para TerraDois. De minhas pesquisas concluí que, fundamentalmente, o que ocorreu foi a passagem de um mundo verticalmente orientado para um mundo de relações horizontais. Isso se deu pelo recente conjunto impactante de avanços tecnológicos, verdadeiro tsunami, muito especialmente pelo surgimento da web, impulsionadora da sociedade em rede, surgida na década de 1990.
O mundo vertical, no qual vivemos os últimos séculos, se caracteriza por se organizar em torno de um padrão. Em decorrência, são seus valores a hierarquia, o foco, a rigidez, o garantido, o disciplinado. Já o mundo horizontal, múltiplo, se baseia na colaboração, na diversidade, na flexibilidade, no risco, na responsabilidade. É fácil notar que temos que reaprender, ou melhor, que temos que aprender a viver em um novo planeta que justifica ser chamado de TerraDois. Qualquer atitude pessoal ou institucional, hoje, deve poder responder: estou em TerraUm ou em TerraDois?