Dossiê HSM

Derrube os bloqueadores de relacionamentos da sua empresa

Você quer que a sua empresa seja menos máquina e mais sistema? Use o design de conexões para desbloquear padrões que atrapalham as relações
Marcelle Xavier desenha experiências que permitem que pessoas e relacionamentos se desenvolvam. Fundadora do Instituto Amuta, atua como designer de conexões e facilitadora do amor nas organizações. Marina Galvão é facilitadora e consultora. É designer de aprendizagem no Instituto Amuta e desde 2015 organiza e facilita o hub para aprendizagem e prática da Teoria U.

Compartilhar:

Para que as empresas se tornem menos máquinas e mais sistemas, o design das conexões é o caminho. Como se desenham relacionamentos? O Instituto Amuta desenvolveu essa abordagem de design de conexões, que parte de uma análise do contexto e identifica padrões de comportamento que bloqueiam as relações.

Com base nisso, o Instituto Amuta propõe intervenções simples e constantes implementando artefatos de conexão, que são uma forma de incorporar reconhecimento, vulnerabilidade e outras habilidades, criando um contexto facilitador para as relações.

Tais artefatos de conexões sincronizam ações que envolvem o físico, o psicológico e o emocional e dão visibilidade aos chamados bloqueadores de interdependência – a falta de tempo, a falta de segurança psicológica e o encaixotamento rígido de pessoas e cargos. Detalhemos esses bloqueadores:

## Padrão 1. Falta de tempo
__Padrão observado:__ As organizações sofrem uma falta de tempo crônica, agravada no contexto da pandemia. A sensação de que tudo é “para ontem” dificulta a criação de vínculos de intimidade que possibilitam a ação integrada e colaborativa. Quando o “prazo aperta” para entregas e demandas urgentes, muitas vezes entra em cena o individualismo, materializado no “cada um por si” e “salve-se quem puder”.

__O problema:__ sem tempo, não conseguimos dar atenção para as pessoas e atenção é uma das coisas mais importantes para desenvolver tanto autonomia quanto intimidade.

__Estudos-base:__ pesquisa Gallup sobre comprometimento no trabalho chegou à fórmula do “pior e do melhor gestor do mundo”. Equipes geridas por gestores sem tempo e que que não dão nenhum tipo de feedback, há uma pessoa comprometida para cada 20 não comprometidas. Esse é o pior gestor do mundo. As equipes com gestores que oferecem uma atenção positiva, com feedbacks positivos, a proporção é de 60 comprometidos para um não comprometido, um aumento de 1.200 vezes (seungo a pesquisa Hawthorne Works e Gallup).

__No design de conexões:__ acreditamos que não podemos deixar ao acaso algo tão importante para as organizações e, também, que não precisamos deixar apenas nas mãos do gestor a responsabilidade de sustentar estruturas de reconhecimento e apreciação. Em comunidades onde experimentamos pertencimento, são instalados mecanismos que facilitam a troca de reconhecimento constante entre os membros.

## Padrão 2. Falta de segurança psicológica
__Padrão observado:__ Não é novidade para as empresas que no ambiente de trabalho as pessoas têm pouco espaço para compartilhar seus pensamentos e pouca liberdade e segurança para poder expressar de maneira congruente quem elas são, o que elas pensam e o que sentem.

__O problema:__ se as pessoas não se sentem seguras para se expressar, todo o sistema fica prejudicado. É impossível ser uma empresa evolutiva e adaptativa se as pessoas não podem identificar e processar tensões, criar e refazer acordos, e transformar as relações.

__Estudos-base:__ um estudo realizado com profissionais de indústrias (de financeiro ao farmacêutico), 85% das pessoas responderam que já vivenciaram pelo menos uma situação em que detectaram um problema importante no trabalho, mas não compartilharam com ninguém foi relatado no livro A organização sem medo, de Amy Edmondson. Suas pesquisas confirmam que segurança psicológica é uma característica que emerge no grupo a partir dos padrões das relações.

__No design de conexões:__ é responsabilidade das organizações criar o espaço para congruência, honestidade e segurança, pois é assim que as relações e a empresa são capazes de evoluir. Esse ambiente é criado por meio de intencionalidade e de práticas, rituais, experiências e processos que estimulam a troca aberta e a vulnerabilidade entre as pessoas envolvidas. Com maior liberdade para ser e maior autonomia para agir, as relações se fortalecem e, consequentemente, o sistema evolui.

## Padrão 3. Maneiras institucionalizadas de colocar as pessoas “em uma caixa”
__Padrão observado:__ do processo de seleção às ações de desenvolvimento ancoradas em modelos de competências, dos processos de promoção à obsessão pelo feedback negativo, toda a estrutura das empresas erradica a capacidade das pessoas de pensarem por conta própria e de encontrarem sua própria maneira de se tornarem excelentes em algo.

__O problema:__ ao criam métricas e padrões de comportamento a serem seguidos caso as pessoas queiram ser aceitas ou desejem alcançar determinados objetivos, as organizações acabam compelindo essas pessoas a se adequarem. Quanto mais restritivos e formatados forem esses espaços, maior será a dependência, submissão, subordinação e a obediência. E isso não só mina a autonomia, mas também a criatividade e o espaço para exercer e desenvolver os potenciais individuais.

__Estudo-base:__ estudo do Gallup, nos anos 1990, buscou entender quais características e habilidades constituíam o “gerente de bar ideal”. Foi demonstrado que não existe um padrão para se tornar um excelente gerente de bar.

Em vez disso, os melhores gerentes exibiam combinações únicas de diferentes habilidades, o que se repetiu em todas as ocupações estudadas pelo Gallup, de vendedor a médico. No mundo real, cada pessoa, por mais imperfeita que seja, luta para desenvolver o máximo da sua combinação particular e única de características e habilidades com que foi dotada.

__No design de conexões:__ acreditamos que amar é ver o outro como legítimo outro na convivência, e por isso atuamos na identificação dos processos institucionalizados – sistemas e rituais que bloqueiam as pessoas, as relações, as comunidades e o amor – que invalidam as pessoas e minam o espaço para que elas sejam quem são. As organizações ainda são regidas por uma série de engrenagens ultrapassadas, que impedem a criação de relações nas quais a interdependência seja não só reconhecida, mas sustentada. E esse é, para nós, o maior desafio que estamos vivendo hoje nas organizações.

__Leia mais: [Relações no centro dos desafios organizacionais](https://www.revistahsm.com.br/post/relacoes-no-centro-dos-desafios-organizacionais)__

Compartilhar:

Artigos relacionados

ESG
O etarismo continua sendo um desafio silencioso no ambiente corporativo, afetando tanto profissionais experientes quanto jovens talentos. Mais do que uma questão de idade, essa barreira limita a inovação e prejudica a cultura organizacional. Pesquisas indicam que equipes intergeracionais são mais criativas e produtivas, tornando essencial que empresas invistam na diversidade etária como um ativo estratégico.

Cleide Cavalcante

4 min de leitura
Empreendedorismo
A automação e a inteligência artificial aumentam a eficiência e reduzem a sobrecarga, permitindo que advogados se concentrem em estratégias e no atendimento personalizado. No entanto, competências humanas como julgamento crítico, empatia e ética seguem insubstituíveis.

Cesar Orlando

5 min de leitura
ESG
Em um mundo onde múltiplas gerações coexistem no mercado, a chave para a inovação está na troca entre experiência e renovação. O desafio não é apenas entender as diferenças, mas transformá-las em oportunidades. Ao acolher novas perspectivas e desaprender o que for necessário, criamos ambientes mais criativos, resilientes e preparados para o futuro. Afinal, o sucesso não pertence a uma única geração, mas à soma de todas elas.

Alain S. Levi

6 min de leitura
Carreira
O medo pode paralisar e limitar, mas também pode ser um convite para a ação. No mundo do trabalho, ele se manifesta na insegurança profissional, no receio do fracasso e na resistência à mudança. A liderança tem papel fundamental nesse cenário, influenciando diretamente a motivação e o bem-estar dos profissionais. Encarar os desafios com autoconhecimento, preparação e movimento é a chave para transformar o medo em crescimento. Afinal, viver de verdade é aceitar riscos, aprender com os erros e seguir em frente, com confiança e propósito.

Viviane Ribeiro Gago

4 min de leitura
Liderança
A liderança eficaz exige a superação de modelos ultrapassados e a adoção de um estilo que valorize autonomia, diversidade e tomada de decisão compartilhada. Adaptar-se a essa nova realidade é essencial para impulsionar resultados e construir equipes de alta performance.

Rubens Pimentel

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O DeepSeek, modelo de inteligência artificial desenvolvido na China, emerge como força disruptiva que desafia o domínio das big techs ocidentais, propondo uma abordagem tecnológica mais acessível, descentralizada e eficiente. Desenvolvido com uma estratégia de baixo custo e alto desempenho, o modelo representa uma revolução que transcende aspectos meramente tecnológicos, impactando dinâmicas geopolíticas e econômicas globais.

Leandro Mattos

0 min de leitura
Empreendedorismo
País do sudeste asiático lidera o ranking educacional PISA, ao passo que o Brasil despencou da 51ª para a 65ª posição entre o início deste milênio e a segunda década, apostando em currículos focados em resolução de problemas, habilidades críticas e pensamento analítico, entre outros; resultado, desde então, tem sido um brutal impacto na produtividade das empresas

Marina Proença

5 min de leitura
Empreendedorismo
A proficiência amplia oportunidades, fortalece a liderança e impulsiona carreiras, como demonstram casos reais de ascensão corporativa. Empresas visionárias que investem no desenvolvimento linguístico de seus talentos garantem vantagem competitiva, pois comunicação eficaz e domínio do inglês são fatores decisivos para inovação, negociação e liderança no cenário global.

Gilberto de Paiva Dias

9 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Com o avanço da inteligência artificial, a produção de vídeos se tornou mais acessível e personalizada, permitindo locuções humanizadas, avatares realistas e edições automatizadas. No entanto, o uso dessas tecnologias exige responsabilidade ética para evitar abusos. Equilibrando inovação e transparência, empresas podem transformar a comunicação e o aprendizado, criando experiências imersivas que inspiram e engajam.

Luiz Alexandre Castanha

4 min de leitura
Empreendedorismo
A inteligência cultural é um diferencial estratégico para líderes globais, permitindo integrar narrativas históricas e práticas locais para impulsionar inovação, colaboração e impacto sustentável.

Angelina Bejgrowicz

7 min de leitura